O Estado de S. Paulo

Herança bilionária

Outros governador­es também estudam a privatizaç­ão de serviços para elevar receita

- Adriana Ferraz

João Doria herdará em São Paulo pacote de projetos de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões com capacidade para gerar mais de R$ 23 bilhões em investimen­tos a médio e longo prazos.

Defensor de uma política de desestatiz­ação de serviços públicos, o governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), vai herdar um pacote bilionário em projetos de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões com capacidade para gerar mais de R$ 23 bilhões em investimen­tos a médio e longo prazos. A estratégia de repassar à iniciativa privada a gestão do transporte ou de empresas de gás e luz, por exemplo, também virou bandeira em outros Estados para tentar tirar as contas do vermelho.

Além de Doria, os governador­es eleitos de Minas, Romeu Zema (Novo), do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e do Rio, Wilson Witzel (PSC), foram vitoriosos levantando a bandeira do corte de gastos e da eficiência da gestão. Mas, nestes casos, não deverão ter a mesma facilidade para colocar seus planos em prática, caso a opção seja por privatizaç­ões. No Rio Grande do Sul e em Minas, por exemplo, as leis locais exigem referendo para aprovar a venda de parte das estatais (mais informaçõe­s nesta página).

Comandado há praticamen­te 24 anos pelo PSDB, o governo paulista tem mais expertise e dispõe de um departamen­to específico para incentivar parcerias nas mais diversas áreas, como para produção de moradias populares e linhas de metrô.

Os defensores dessa política chamam a atenção para seus resultados: São Paulo já recebeu R$ 140 bilhões em investimen­tos desde 1998, data da primeira concessão rodoviária do Estado (sistema Anhanguera-Bandeirant­es). Os opositores citam um histórico de investigaç­ões para apurar suposta formação de cartéis entre as empresas e doações a políticos via caixa 2.

Contratos. Do ano passado para cá, outras duas rodovias foram concedidas pela atual gestão Geraldo Alckmin/Márcio França, ampliando o número de contratos de concessão nessa área para 22. Dois dias antes de renunciar ao cargo para disputar a Presidênci­a, em abril deste ano, o tucano ainda assinou a concessão das linhas 5-Lilás e 17-Ouro do metrô. A partir de 2019, já sob a gestão Doria, o cronograma deve seguir o mesmo ritmo, podendo ser ampliado com prioridade­s definidas na campanha.

O novo governo deve retomar, por exemplo, o plano de construir presídios via PPP e de buscar recursos com parceiros privados para tirar do papel o trem intercidad­es (São PauloAmeri­cana) e também a hidrovia Tietê-Paraná, todas medidas já anunciada por Alckmin, mas sem sucesso.

“Doria irá enxugar o tamanho do Estado e exponencia­lmente aumentar o volume de PPPs, entregando melhores serviços para a população”, afirmou o deputado tucano Marco Vinholi, líder do PSDB na Assembleia Legislativ­a. Cada projeto, no entanto, terá de ser aprovado pela Casa, que a partir do próximo ano ficará mais pulverizad­a e menos governista que hoje – o PSDB perderá 11 cadeiras, passando de 19 para 8.

Eleito deputado estadual pelo PT (que terá dez representa­ntes na Alesp), Paulo Fiorilo ressaltou que o futuro governador não conseguiu executar os planos de concessão e privatizaç­ão apresentad­os ainda quando foi candidato a prefeito. “Doria não colocou em pé nenhuma desestatiz­ação. Nem Anhembi nem Pacaembu. Sua experiênci­a é zero, foi só discurso”, disse. Ao Estado, o tucano não quis detalhar seus projetos. Só afirmou que seu desenho institucio­nal de governo reduzirá gastos com a máquina pública.

Know-how. Secretário de Governo da gestão Alckmin/França, Saulo de Castro diz que a continuida­de das administra­ções tucanas em São Paulo fez toda a diferença para que o Estado obtivesse know-how nesse tipo de negócio. “Temos equipe técnica preparada e contratos elaborados de forma que o investidor estrangeir­o confie”, afirmou.

Na lista que Doria vai receber em janeiro estão projetos prontos para serem licitados (caso do segundo lote de uma PPP para construção de moradias na capital), em fase de consulta pública (instalação de postos de serviços nos trechos do Rodoanel) e de estudos (PPP para concessão de rodovias do litoral e construção de três aeroportos no interior do Estado).

‘Desenho’ •

“O novo desenho institucio­nal do governo de São Paulo que reduzirá gastos com a máquina pública será apresentad­o em breve.” João Doria (PSDB)

GOVERNADOR ELEITO DE SÃO PAULO

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JF DIORIO/ESTADÃO-22/12/2011 Pioneiro. Sistema Anhanguera-Bandeirant­es foi o primeiro a ser concedido, há 20 anos; depois disso, outros 20 contratos foram assinados pelos governos só para a gestão de rodovias
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