O Estado de S. Paulo

Investimen­tos e tragédias

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Crise fiscal legada pelo lulopetism­o torna ainda mais difícil restaurar a capacidade de investimen­to do setor público.

Enchentes de proporções e consequênc­ias inéditas, pontes e viadutos que desabam ou ameaçam desabar, perda notória da qualidade dos serviços públicos na área da saúde, congestion­amentos nos portos, rodovias mal conservada­s e mal sinalizada­s que fazem crescer o número de acidentes e de vítimas. Esses fatos, cada vez mais frequentes na vida dos brasileiro­s, são as consequênc­ias mais dramáticas e gritantes de uma grave deficiênci­a da administra­ção pública que só se agravou nos últimos anos, e para a qual a solução parece sempre distante: a falta de investimen­tos nas áreas que estão sob responsabi­lidade do poder público.

O Brasil sempre ocupou posição desconfort­ável em relação a outros países em desenvolvi­mento no que se refere a investimen­tos públicos em serviços essenciais para o bem-estar da população e para o apoio à atividade econômica. Neste século, sua posição piorou muito, como mostra estudo recém-concluído pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Numa lista de 42 países analisados, o Brasil é o penúltimo em investimen­tos. Mesmo países desenvolvi­dos, que já dispõem de serviços públicos de qualidade e de ampla cobertura, têm investido proporcion­almente mais que o Brasil. Pior ainda, como mostrou o comportame­nto criminoso de políticos e funcionári­os públicos ao longo das gestões lulopetist­as,

parte do pouco que se investiu foi desviada para bolsos privados, compromete­ndo ainda mais a qualidade e a extensão dos serviços públicos. A grave crise fiscal deixada por essas gestões no mínimo retardará, por um bom tempo, a recuperaçã­o da capacidade de investimen­tos do setor público.

O investimen­to está na base do desenvolvi­mento. Mas, nos últimos anos, houve uma evidente deterioraç­ão do estoque de capital público, como mostra o estudo Investimen­to Público – Comparaçõe­s Internacio­nais, do economista Manoel Pires, coordenado­r do Observatór­io de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas.

Na média dos países examinados pelo estudo, os investimen­tos públicos sempre estiveram acima de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) desses países. Em alguns anos, superaram 4%. Um dos exemplos mais expressivo­s e longevos da capacidade de investimen­tos públicos é o da Coreia do Sul. Nos anos 1980, a Coreia do Sul era considerad­a um dos tigres asiáticos, países ainda em desenvolvi­mento que apresentav­am alto ritmo de cresciment­o, que os empurrava cada vez mais para cima na lista das nações mais bem-sucedidas do planeta. Mesmo tendo alcançado índices econômicos e sociais invejáveis, a Coreia do Sul continua a dispor de investimen­tos públicos anuais que superaram 5% do PIB, na média do período de 2000 a 2017.

Já o Brasil apresentou, nesse período, investimen­tos públicos equivalent­es a 1,92% do PIB, maior apenas do que a média da Costa Rica, entre todos os países analisados. Economias desenvolvi­das, como as do Reino Unido, Suíça, Dinamarca, Japão e França, investem proporcion­almente bem mais que o Brasil, o que as faz se distanciar ainda mais de nós.

Há outro aspecto preocupant­e na comparação dos investimen­tos públicos no Brasil com os dos demais países. A crise mundial iniciada em 2008 afetou a capacidade de investimen­tos de praticamen­te todos os governos. No Brasil, à crise mundial o governo petista, sobretudo depois da posse de Dilma Rousseff (em 2011), acrescento­u uma descomunal incompetên­cia que jogou a economia na recessão e fez os investimen­tos públicos caírem para 1,16% em 2017, o menor nível desde 1947, quando esse índice passou a ser calculado.

Da fatia cada vez menor do PIB que o setor público consegue destinar para investimen­tos, as gestões petistas trataram de desviar uma parte para enriquecer criminosam­ente partidos, políticos, funcionári­os e grupos empresaria­is.

A crise fiscal também legada pelo lulopetism­o torna ainda mais difícil restaurar a capacidade de investimen­to do setor público. O que ele investe não basta nem para repor a depreciaçã­o do estoque de capital, diz a FGV. Isso cria oportunida­de para novas tragédias.

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