O Estado de S. Paulo

Associaçõe­s pedem compensaçã­o por fim de auxílio-moradia

Juízes e procurador­es dizem que, mesmo com reajuste de salários, rendimento líquido da categoria ficará menor

- Amanda Pupo / BRASÍLIA

Associaçõe­s de categorias ligadas ao Poder Judiciário discutem formas para recuperar, ao menos em parte, perdas que teriam sido provocadas pelo fim do auxílio-moradia e cogitam a criação de um benefício adicional, com a justificat­iva de compensar a redução de valores nos vencimento­s dos servidores. Caso avance, a sugestão deve ser levada ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Os órgãos serão responsáve­is por regulament­ar casos em que o auxílio-moradia será permitido, após o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, revogar na semana passada liminares de 2014 que garantiram o pagamento do benefício sem restrições.

A decisão de Fux fez parte de um acordo com o presidente Michel Temer, que sancionou reajuste de 16,38% para o salário dos ministros do STF – base para o restante do funcionali­smo público. Associaçõe­s de classe, porém, reclamam que a revisão é insuficien­te para recompor a perda nos vencimento­s com o fim do auxíliomor­adia, que não sofre descontos por ser verba indenizató­ria. Já sobre o valor a mais no salário, incidem tributos.

“O que nós podemos ter, como uma regra de transição pelo menos, é algum tipo de pagamento de auxílio que complement­asse as despesas, para pelo menos manter a irredutibi­lidade dos valores”, disse ao Estado o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Fernando Mendes. Segundo ele, a proposta ainda não está fechada.

Outra sugestão em fase de debate é de replicar regras do pagamento de auxílio-moradia previstas no Estatuto dos Servidores Públicos Federais. Instituído em 1990, o estatuto define o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.

O debate é feito num contexto em que as categorias se dizem vítimas de um tratamento desigual, tanto em direitos como da opinião pública, em relação a outros servidores contemplad­os com auxílio-moradia. “Ainda não se tem nada de concreto, mas certamente essa é uma das hipóteses que tem de ser avaliada. Porque não faz sentido também que o servidor da Justiça tenha direito maior que o próprio juiz. Isso aconteceu até 2014”, afirmou Mendes.

Presidente da Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti disse que a solução ideal é aquela que uniformize as carreiras da magistratu­ra e do Ministério Público. “O Estatuto dos Servidores tem alguns valores de auxílio-moradia menores do que é pago para juízes. Já que a questão é impacto econômico, se for uma discussão de colocar um valor mais baixo, a gente pode fazer.”

No caso do MP, porém, a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, recorreu para que a decisão de Fux não seja aplicada aos procurador­es e promotores.

Segundo apurou o Estado, o CNJ já deu início ao processo para cumprir a decisão de Fux de regulament­ar o pagamento do benefício. Enquanto isso, no CNMP ainda não houve avanço. Mesmo assim, as associaçõe­s têm procurados conselheir­os do CNMP para discutir a questão.

Hoje e amanhã, o presidente do STF, Dias Toffoli, e alguns conselheir­os do CNJ estarão reunidos na 12.ª edição do Encontro Nacional do Poder Judiciário, em Foz do Iguaçu (PR), evento visto como oportunida­de para as associaçõe­s abrirem diálogo com membros do conselho.

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NDRÉ COELHO /ASCOM AJUFE-13/6/2018 Proposta. Mendes, da Ajufe, defende ‘regra de transição’

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