O Estado de S. Paulo

PABLO ESCOBAR, O LEGADO QUE DIVIDE MEDELLÍN

Narcotrafi­cante mais temido dos anos 90 tem uma relação de amor e ódio com a cidade

- Lina Vanegas FRANCE PRESSE MEDELLÍN, COLÔMBIA

Enquanto no bairro Pablo Escobar os moradoresp­reparamhom­enagens ao homem que lhes deu as casas onde vivem, a prefeitura de Medellín finaliza os detalhes para derrubar o que foi a residência do narcotrafi­cante mais temido do mundo, 25 anos após sua morte.

Ícone da opulência e do poder da máfia colombiana, os oito andares abandonado­s do edifício Mónaco, bunker que protegeu a família do narcotrafi­cante nos anos 90, cairão em um espetáculo aberto ao público em fevereiro. “O Mónaco se tornou um símbolo da apologia ao crime. Mais do que demolir um edifício, é demolir uma estrutura mental”, disse Manuel Villa, secretário da prefeitura.

Todos os dias, turistas visitam o prédio construído em El Poblado, um dos bairros mais exclusivos da cidade. Nos “narcotours”, eles observam deslumbrad­os o que será um parque dedicado às vítimas do narcoterro­rismo.

Há 25 anos, em 2 de dezembro de 1993, os meios de comunicaçã­o revelavam a imagem do corpo de Pablo Escobar estirado em um telhado e rodeado de policiais sorridente­s, que exibiam seu cadáver como um troféu. Desde então, a data de sua morte divide a sociedade entre repúdio e admiração, dor e gratidão.

Ángela Zuluaga não conheceu o pai. Estava na barriga da mãe quando, em outubro de 1986, pistoleiro­s atacaram o carro onde estava a família. Mataram a tiros o juiz Gustavo Zuluaga e deixaram sua esposa ferida. A razão: ele emitiu uma ordem de captura contra Pablo e seu primo, Gustavo Gaviria. Embora tenha recebido ameaças e tentativas de suborno por três anos, Zuluaga disse que preferia “morrer a fraquejar”.

Para a família, demolir o Mónaco é combater “a cultura do tráfico”. “Ter um espaço para lembrar é ressarcir, simbolicam­ente, os que são vítimas deste flagelo do narcoterro­rismo”, disse Ángela.

Luz María Escobar troca a lápide de seu irmão no cemitério Jardines Montesacro. Ela mesma redigiu a inscrição. Em meio às lágrimas, lê em voz alta para um grupo de turistas. “Para além da lenda que hoje simbolizas, poucos conhecem a verdadeira essência de sua vida”, recita.

Para Luz María, apesar de seu irmão Pablo ter cometido erros, seu lar deve seguir de pé. “Derrubar o Mónaco não apagará a história de Pablo”, disse a caçula dos Escobar Gaviria. Para a prefeitura, porém, o pedido é inviável. O custodarem­odelaçãodo­imóvel supera US$ 11 milhões. Derrubá-lo e construir o parque custará US$ 2,5 milhões.

Os moradores do bairro Pablo Escobar vivem a data com nostalgia. O “Robin Hood colombiano” os tirou do lixão, onde sobrevivia­m, e lhes deu casas – 443 no total, em uma montanha de Medellín. “Para mim, primeiro Deus. Segundo, ele”, disse María Eugenia Castaño, dona de casa de 44 anos, que acende uma vela no altar decorado com uma foto de Pablo.

Yamile Zapata trabalha no salão de cabeleirei­ro El Patrón, um pequeno estabeleci­mento dedicado a Escobar. “Pablo confunde. Se você se basear no que era bom, então ele era muito bom. Se procurar o mal, ele era muito mal”, disse Yamile.

O edifício Mónaco cairá em 4 segundos e se transforma­rá em escombros. Sua estrutura extravagan­te mostra a vontade de Escobar de ascender socialment­e. “Vai doer, mas será a única forma de começarmos a curar uma ferida”, afirmou Villa, que está na contagem regressiva para a demolição.

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RAUL ARBOLEDA/AFP Culto. Salão El Patrón, em Medellín: amor e ódio

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