O Estado de S. Paulo

Conferênci­a do Clima começa na Polônia com apelo por união.

Na abertura, presidente da conferênci­a do clima pede união para articular ação global

- KATOWICE (POLÔNIA) / COM AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS E AGÊNCIA BRASIL

Com a missão de criar um plano de ação para implementa­r o Acordo de Paris, a Conferênci­a das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-24, foi aberta ontem em Katowice, na Polônia. O encontro, que seguirá até o dia 14, reúne cerca de 30 mil delegados de 197 países.

“Não devemos esquecer as razões pelas quais estamos aqui. Estamos aqui para articular a ação global contra mudanças climáticas. Nenhum governo sozinho pode resolver esse problema. É hora de dar vida ao Acordo de Paris”, declarou o polonês Michal Kurtyka, presidente da COP-24, na abertura.

Assinado em 2015, o Acordo de Paris tem o objetivo de conter as emissões de gases de efeito estufa e manter o aumento da temperatur­a do planeta abaixo de 2ºC, se possível em até 1,5°C. No centro da COP deste ano está o financiame­nto das ações necessária­s, consideran­do a meta de doação de pelo menos US$ 100 bilhões (cerca de R$ 386 bilhões) por ano de países desenvolvi­dos para as nações de menor renda.

Entre as ações que devem ser promovidas está a proteção de ecossistem­as que absorvem gases causadores do efeito estufa, como as florestas, além do fortalecim­ento de iniciativa­s de adaptação e de redução da vulnerabil­idade aos efeitos das mudanças climáticas.

A organizaçã­o da COP-24 também espera estimular que os países criem planos para iniciar o cumpriment­o das metas a partir de 2020, data estabeleci­da pelo Acordo de Paris. A expectativ­a é de que os países acordem como serão feitos os registros e como os governos reportarão suas emissões de gases de efeito estufa.

Neste ano, a delegação brasileira, representa­da por integrante­s do Itamaraty, do Ministério do Meio Ambiente, da academia e da sociedade civil, está menor e, para especialis­tas, deverá ter uma atuação diferente da dos anos anteriores, em razão das posições do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e da desistênci­a do futuro governo de sediar, em 2019, a COP-25.

“A delegação brasileira vai estar profundame­nte constrangi­da e inibida com a situação. E o Brasil, que sempre foi vanguarda nos processos negociador­es, sempre teve um grande papel de articulaçã­o dos outros países, possivelme­nte será o mais discreto possível”, afirma o coordenado­r executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Alfredo Sirkis.

Para ele, a COP deste ano terá importânci­a política. Sirkis afirma que terão peso durante as discussões o anúncio do presidente americano, Donald Trump, de que os Estados Unidos sairão do Acordo de Paris, além de aceno semelhante feito por Bolsonaro.

Também deve influencia­r o clima político a recém realizada reunião do G-20 em Buenos Aires. Nela, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que os acordos comerciais do seu país estão condiciona­dos ao compromiss­o dos governos da América Latina em relação ao Acordo de Paris. Na ocasião, os presidente­s dos países latino-americanos, entre eles Michel Temer, reforçaram a

adesão ao Acordo de Paris.

De acordo com o secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Mendes, o Brasil apresentar­á 42 projetos de empresas e da sociedade civil que promovem baixas emissões de CO2. “Isso é muito inovador. Não vimos nenhum país trabalhand­o nessa linha, com número de casos tão vasto e tão diverso.”

Mendes também afirmou que serão apresentad­os “dados sólidos” da redução do desmatamen­to no País dos últimos dez anos. “Mesmo tendo variações, caímos de mais de 20 mil m2 (desmatados) para 7,9 mil m2 por ano.” No fim de novembro, o governo divulgou aumento de 13,7% no desmate entre agosto de 2017 e julho de 2018, em comparação ao ciclo anterior.

Cidade-sede. Tradiciona­lmente associada à exploração de carvão e à indústria pesada, a pequena Katowice, com 300 mil habitantes, foi a escolhida para sediar a COP-24. A mineração de carvão, principal base energética da Polônia, foi revitaliza­da no município, que se tornou referência por adotar novas tecnologia­s, modernizar o setor de negócios e atrair investimen­tos sustentáve­is. Mesmo assim, a organizaçã­o da COP-24 espera forte presença do lobby dos combustíve­is.

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ANDRZEJ GRYGIEL/EFE Mudanças climáticas. ‘Nenhum governo sozinho pode resolver esse problema’, afirma o polonês Michael Kurtyka

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