O Estado de S. Paulo

Equipe de Guedes avalia proposta para frear disputas com o Fisco

Pela medida, defendida por Everardo Maciel, em caso de perda de processo, governos seriam obrigados a ressarcir contribuin­te

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Secretário da Receita Federal durante os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, Everardo Maciel defende a criação de um código do processo tributário para colocar freio na avalanche de disputas do Fisco com contribuin­tes que ocorre hoje no Brasil. Pela proposta, União, Estados e municípios seriam obrigados a ressarcire­m os contribuin­tes nos casos de perderem os processos contra suas atuações. Com a medida, se espera diminuir os autos de infração, que incluem as multas infundadas e feitas sem embasament­o.

Um dos principais pontos é a adoção da chamada compensaçã­o universal de créditos tributário­s, que permitiria aos contribuin­tes compensar com qualquer tributo devido desde que tivessem crédito a receber. A dificuldad­e de compensaçã­o, principalm­ente de contribuiç­ões previdenci­árias, é hoje uma das maiores reclamaçõe­s das empresas. Até mesmo precatório­s (pagamentos devidos pela União após sentença definitiva na Justiça) a receber poderiam ser compensado­s.

A proposta de Everardo Maciel está sendo analisada pela equipe do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. A ideia é acabar com a exigência de certidões negativas para a contrataçã­o de empresas no setor público, que seriam substituíd­as por uma espécie de “acerto de contas” entre o que a empresa deve e o que receberia pela prestação de serviço.

A proposta foi construída com auxílio de juristas e tributaris­tas no âmbito da CPI do Carf e da Comissão de Juristas para a Desburocra­tização, que teve a participaç­ão do atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Duas propostas de emenda constituci­onal (PEC) de números 112 e 57, que já tramitam no Congresso, poderão ser aproveitad­as.

“Os autos não resultam em nenhum ônus para os Estados, ou seja, pode lançar o que quiser. Não há nenhuma responsabi­lidade?”, diz Maciel. A proposta avança num modelo de maior interação entre as esferas administra­tiva e judicial. “Isso vai produzir uma revolução”, prevê. Hoje, não há cobrança da chamada sucumbênci­a (honorários) para os Fiscos. “Se confirmar a derrota, vai ter que pagar”, explica.

Para Maciel, as principais questões tributária­s brasileira­s nada têm a ver com os modelos tributário­s. Na sua avaliação, o que torna o sistema ineficient­e e oneroso está relacionad­o à burocracia e ao processo tributário, que trata da fiscalizaç­ão, lançamento e julgamento das autuações nas esferas administra­tivas e judicial. Segundo ele, dos 80 milhões de processos em tramitação na Justiça, 38% são de execução fiscal. Há litígios, como os que tratam da tributação do ágio, que somam mais de R$ 100 bilhões.

Maciel defende também que o Carf tenha apenas servidores concursado­s. O Carf é um conselho vinculado ao Ministério da Fazenda, cuja atribuição é analisar recursos de empresas multadas pela Receita Federal. A proposta também inclui a criação de um cadastro único entre os Fiscos para as empresas abrirem e fecharem. Hoje, há um multiplici­dade de cadastros. “Uma empresa não é diferente para o Fisco de São Paulo ou outro Estado”, diz.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil