O Estado de S. Paulo

Cenário externo acende sinal amarelo para investidor­es na Bolsa em 2019

Alta das taxas de juros nas principais economias pode frustrar aposta de valorizaçã­o do mercado acionário brasileiro

- CYNTHIA DECLOEDT, GABRIEL ROCA, PAULA DIAS, VICTOR REZENDE E TALITA NASCIMENTO

Embalada por forte expectativ­a após a eleição de Jair Bolsonaro, a Bolsa de Valores chegou a atingir o patamar de 90 mil pontos na sexta-feira, em máxima histórica. No entanto, apesar da aposta de especialis­tas de que a valorizaçã­o do mercado acionário brasileiro deva ocorrer com força em 2019, um cenário externo mais hostil a ativos de risco pode frustrar as previsões de analistas e investidor­es que decidiram se aventurar na Bolsa.

Um dos principais motivos é que, em 2019, o cenário de aumento das taxas de juros pelos bancos centrais nas principais economias do mundo deve continuar. Com isso, ativos em países emergentes podem ser penalizado­s, com um fluxo global de dinheiro migrando para os Estados Unidos. Diante desse enxugament­o de liquidez, o analista Nicolas Takeo, da Socopa, acredita ser prematuro considerar que o Brasil terá potencial para se destacar ante outros emergentes. “É difícil mensurar algumas questões que ainda estão em aberto, como a guerra comercial, o Brexit e os juros nos EUA. A política monetária americana ainda não é tão clara e depende de alguns fatores, como inflação e efeitos dos estímulos fiscais”, afirma.

No exterior, os investidor­es não têm se mostrado tão otimistas com o mercado acionário brasileiro. No ano, até 27 de novembro, o saldo líquido dos recursos aplicados por estrangeir­os na B3 era negativo em R$ 9,7 bilhões – maior volume de saídas registrado desde a crise financeira de 2008. O estrategis­ta responsáve­l por mercados emergentes do Deutsche Bank Securities, Drausio Giacomelli, afirma que os estrangeir­os não comprarão mais promessas do Brasil, que já falhou anteriorme­nte e precisará de medidas concretas para atrair capital de fora.

Outras preocupaçõ­es dos especialis­tas incluem uma possível crise imobiliári­a na China, o agravament­o das tensões comerciais entre o gigante asiático e os EUA, a desacelera­ção da economia global e o possível fim de um longo ciclo de alta na bolsa americana. O Índice S&P 500, que reúne as 500 principais empresas listadas na Bolsa dos EUA, passa por longo ciclo de alta, com cresciment­o ininterrup­to desde 2008. Importante­s gestores de fundos americanos têm anunciado cautela maior com o fim deste ciclo, que pode chegar no próximo ano. O S&P, que chegou a se valorizar 9,58% na sua máxima neste ano, teve perdas expressiva­s e chegou a zerar os ganhos no início do mês.

Entre muitos gestores no País prevalece a expectativ­a de que o governo cumpra com medidas de ajuste fiscal, o que abriria espaço para valorizaçã­o dos papéis locais. “O Brasil está em uma situação confortáve­l e pode se beneficiar disso. O País passou os últimos anos desarrumad­os e agora está se arrumando”, avalia o gestor de fundos e sócio-fundador da Versa, Luiz Fernando Alves.

Risco. Bruno Marques, gestor de multimerca­dos da XP Asset Management, avalia que é a sensação de risco internacio­nal que provoca fuga dos investidor­es estrangeir­os. No entanto, calcula que os fatores internos pesam mais para traçar um cenário otimista para a Bolsa. “O que está ocorrendo na nossa visão é que os investidor­es estrangeir­os saíram por não estarem comprando o benefício da dúvida”, diz.

Ele acredita que o cumpriment­o das reformas e ajustes trará de volta esses investidor­es. As apostas, diz Alves, estão voltadas ao mercado interno, especialme­nte em setores que não têm tanta relação com o preço de commoditie­s. “Setor como construção e varejo devem ser o nosso foco.”

Ele aposta na migração de capital externo para a bolsa brasileira à medida que o futuro governo entregar o que prometeu no que diz respeito a reformas e redução de ministério­s. “Quando você olha o fluxo da bolsa, os investidor­es estrangeir­os estão saindo daqui, saíram durante as eleições. O gringo está esperando passar as reformas.”/

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Fuga. Investidor estrangeir­o aguarda medidas de ajuste fiscal para voltar à bolsa brasileira
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: BROADCAST

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