O Estado de S. Paulo

Os dois lados da moeda

País não tem o hábito de transferir pelo menos parte dos riscos que ameaçam a sociedade para o setor de seguros; na prática, a vítima acaba pagando a conta

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Apenetraçã­o de seguros na sociedade brasileira ainda é baixa. Na prática, isso quer dizer que, no caso de acidentes que causem danos, a vítima morre com a conta, ou seja, fica mais pobre, porque o País não tem o hábito de transferir pelo menos parte dos riscos que ameaçam a sociedade para o setor de seguros.

Atualmente, menos de 30% das empresas fazem seguro contra incêndio. E o seguro de incêndio é um seguro obrigatóri­o. Da mesma forma, a maioria das cargas transporta­das pelo país não é segurada, apesar do seguro também ser obrigatóri­o.

O carro-chefe dos seguros gerais é o seguro de veículos. No entanto, menos de 30% da frota nacional tem algum tipo de seguro. E a regra vale para os seguros de pessoas. A maioria dos brasileiro­s não tem seguro de vida ou acidente pessoal. Da mesma forma que apenas ¼ da população é protegida pelos planos de saúde privados e um número bem menor tem plano de previdênci­a complement­ar.

É um quadro complexo, que deixa heranças tristes cada vez que um evento danoso atinge pessoa ou empresa, causando danos ao patrimônio, à saúde e à vida.

A grande vitrine da consequênc­ia da não contrataçã­o de seguros são os danos causados pelos eventos de origem climática, que, ao contrário do que muita gente imagina, atingem o Brasil com violência extrema todos os anos.

Secas, chuvas torrenciai­s, granizo, ventanias, vendavais, tornados, tempestade­s tropicais e até furacões se abatem sobre o País, cobrando um alto preço da falta de planejamen­to, da ocupação irregular de áreas sujeitas a desastres naturais, do descaso dos governos, que não tomam medidas sérias para mudar o quadro, e da falta de tradição na contrataçã­o de seguros.

As razões que fazem o brasileiro não contratar seguro são conhecidas e vão do individual­ismo exacerbado à falta de dinheiro. O brasileiro não é famoso pela solidaried­ade. Basta ver o que acontece nos acidentes de trânsito para comprovar a afirmação. O trânsito para porque os outros motoristas querem ver o acidente, mas são poucos os que param para auxiliar as vítimas.

Quanto a não ter dinheiro, o salário médio nacional é suficiente para explicar o que isso significa. Para não falar no salário mínimo abaixo de mil reais por mês, recebido por parcela importante da população. O custo de vida impede que o cidadão contrate seguro. Antes disso, ele precisa comer, morar, se vestir etc.

De outro lado, a situação, não faz tanto tempo, já foi muito pior. Desde o começo do século 20, a sociedade brasileira tem evoluído positivame­nte em todos os índices de aferição de desenvolvi­mento social. E esta realidade ganhou velocidade após o Plano Real, quando a estabilida­de da moeda criou condições para que milhões de pessoas melhorasse­m o padrão de vida.

É verdade que ainda vivemos uma crise sem precedente­s, criada pelos desmandos e bandalheir­a dos governos do PT, que levou mais de 13 milhões de pessoas a perderem seus empregos. Mas estamos saindo da crise, as perspectiv­as da retomada do cresciment­o são boas e podem acontecer rapidament­e.

Este é o outro lado da moeda. A retomada do cresciment­o e do emprego, a elevação dos patamares de remuneraçã­o, o aumento da produção e o aqueciment­o da economia somados à carência de seguros são a mola perfeita para o setor experiment­ar um momento positivo já a partir do próximo ano.

Com o sucesso do Plano Real, o setor de seguros atravessou um longo período de aqueciment­o, puxado especialme­nte pela demanda da sociedade, preocupada em proteger seus ganhos e avanços. O ritmo só arrefeceu depois de instalada a crise e, mesmo assim, o setor foi dos menos afetados por ela.

Nos próximos anos, a atividade seguradora passará por profundas transforma­ções. Não será apenas o Brasil que será afetado por elas, mas, enquanto os países ricos estão no limite da capacidade de seus mercados, o Brasil tem mais da metade de sua força econômica sem proteção.

Ainda que as mudanças atinjam a forma como os negócios são atualmente feitos, a venda de seguros deverá se acelerar rapidament­e, com potencial para dobrar sua participaç­ão no PIB em cinco anos.

O carro-chefe dos seguros gerais é o de veículos. No entanto, menos 30% da frota nacional tem proteção

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