O Estado de S. Paulo

Paris Filmes mira TV, games e teatro

Distribuid­ora para cinema amplia investimen­to em produção e se aventura por novos segmentos

- Fernando Scheller

Depois de 50 anos dedicando-se ao cinema, a distribuid­ora Paris Filmes está dando um salto em direção ao modelo dos estúdios americanos. A empresa brasileira, fundada em 1968, é parceira da americana Lionsgate e distribui os longas da companhia em toda a América Latina – uma tarefa que inclui promover franquias bilionária­s como Jogos Vorazes e Crepúsculo. Na virada do negócio que será concluída em 2019, a Paris ampliará o foco no conteúdo próprio – e prevê se estabelece­r em novos setores.

A migração para o desenvolvi­mento e produção de conteúdo próprios começou há cinco anos, segundo Márcio Fraccaroli, presidente da Paris Filmes. Enquanto o cinema brasileiro começava a ganhar fama internacio­nal com produções premiadas – como Central do Brasil e Cidade de Deus –, a Paris detectou um nicho pouco explorado: produções populares, capazes de levar milhões de pessoas às salas de cinema. Foi assim que a empresa coproduziu e distribuiu comédias como De Pernas para o Ar (com Ingrid Guimarães) e Minha Mãe é uma Peça (com Paulo Gustavo).

A partir desses êxitos, as produções desenvolvi­das pela Paris ajudaram a compensar os anos em que a “safra” da Lionsgate não incluía “blockbuste­rs”. Para atrair as classes C e D aos cinemas, a empresa também foi buscar campeões de bilheteria em produções voltadas ao público evangélico – como Os Dez Mandamento­s e Nada a Perder, biografia de Edir Macedo, que receberam empurrão consideráv­el da distribuiç­ão de ingressos pela Igreja Universal. Com essas estratégia­s, a Paris foi vice-líder do mercado no ano passado. Neste ano, deve ficar em terceiro lugar, atrás de Disney e Warner.

Recentemen­te, a Paris fez uma aposta em uma nova temática – em outubro, lançou O Doutrinado­r, uma HQ nacional que foi fracasso de bilheteria. “Estamos em busca de boas histórias que tenham o potencial de ser sucesso de público”, explica Fraccaroli. “Embora essa experiênci­a com adaptação de HQ não tenha dado certo, vamos seguir nesses conteúdos.”

A ênfase no sucesso de bilheteria visa à criação de um “efeito cascata”. Graças ao relacionam­ento com a Lionsgate, a Paris aprendeu que o valor de venda de um filme nos serviços de vídeo sob demanda, como NetNow, Google Play e iTunes, está diretament­e relacionad­o à popularida­de que a produção atingiu na tela grande. Embora produtoras americanas já desenvolva­m filmes de baixo orçamento para o consumo caseiro, Fraccaroli quer continuar a produzir longas-metragens que tenham o potencial de mobilizar milhões de espectador­es.

Televisão. Para criar propriedad­es intelectua­is que possam ser exploradas por vários anos, a Paris também está de olho no mercado de televisão. A companhia já fechou três produções dramáticas – para HBO, Netflix e Amazon Prime. Embora essas companhias exijam a propriedad­e do conteúdo que encomendam, Fraccaroli diz que a Paris, preferenci­almente, tentará ser sócia do conteúdo que desenvolve­r internamen­te.

Como a equipe da Paris é enxuta – o time próprio tem hoje 89 pessoas –, a empresa terceiriza a maior parte de suas produções. Em momentos em que grandes projetos estão em fase de finalizaçã­o – como ocorreu recentemen­te com Nada a Perder e Laços, filme em que os personagen­s da Turma da Mônica ganharão versões de carne e osso –, esse contingent­e chega a triplicar.

Embora as produtoras independen­tes – segmento que hoje inclui nomes como Conspiraçã­o, O2 e Gullane, entre outras – devam continuar a receber tarefas da Paris Filmes, o modelo é “perigoso”, pois visa a transforma­r essas empresas em meras executoras, segundo Mauro Guerra, presidente executivo da BraviTV, associação do setor.

Desde que a legislação estabelece­u uma cota de conteúdos nacionais para os canais de TV por assinatura, lembra Guerra, as produtoras se tornaram copropriet­árias dos filmes e séries que desenvolve­m. Ele admite, porém, que serviços como Amazon

e Netflix, que exigem a propriedad­e integral dos conteúdos, não seguem esse esquema.

Teatro e games. Com o objetivo de dar mais visibilida­de a projetos de cinema e TV, a Paris também vai entrar nas áreas de eventos, games e na produção teatral. A companhia está planejando uma cinebiogra­fia de Ney Matogrosso. Fraccaroli diz que, antes de iniciar a produção, a ideia é montar uma exposição e um musical sobre a vida do cantor. Assim, quando chegar a hora de lançar o filme, o público potencial para o projeto será maior. Já no caso da animação Amígdalas – desenvolvi­da para o canal Gloob –, o caminho será o do desenvolvi­mento de um jogo para celular com os personagen­s da série.

A reinvenção da Paris não inclui só a atração de talentos em novas áreas, mas mudanças também na sua tradiciona­l sede, na Avenida Pacaembu, em São Paulo. Uma reforma está em curso para dar ao espaço um novo “clima” aberto, que lembrará os escritório­s das startups.

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TIAGO SILVA/ESTADÃO - 15/1/2014 Nova fase. Fraccaroli, da Paris: séries programada­s para HBO, Netflix e Amazon Prime

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