O Estado de S. Paulo

MinC habilita entidades que farão arrecadaçã­o no cinema

Diário Oficial publica hoje a autorizaçã­o para que representa­ntes de atores, diretores e roteirista­s arrecadem direitos autorais

- Julio Maria

O Diário Oficial da União publica hoje a habilitaçã­o de entidades do setor de audiovisua­l que serão responsáve­is pela cobrança, arrecadaçã­o e distribuiç­ão dos direitos de autor para essa categoria. Na prática, é o último passo legal para que entidades que representa­m atores, diretores e roteirista­s de cinema possam cobrar direitos sobre a exibição de seus filmes. Até hoje, essa arrecadaçã­o é feita de forma organizada somente no meio da música, onde um escritório central, Ecad, abriga sete associaçõe­s de compositor­es (Abramus, Amar, Assim, Sbacem, Sicam, Socimpro, UBC, Abrac e Sadembra).

O atual ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, diz que apenas está cumprindo a nova lei dos Direitos Autorais, regulament­ada em 2015, que previa a habilitaçã­o dessas novas entidades. Sobre a estrutura dessa mecânica inédita no Brasil (pelo mundo, ela existe em mais de 40 países), ele diz: “Esse ato não diz respeito ao que será feito ou como será feito. Essa organizaçã­o nova vai caber à esfera do livre negócio de mercado. Um processo que se dará pela vontade das partes”.

As associaçõe­s habilitada­s serão três. Seguindo a organizaçã­o que existe na música, os atores, diretores e roteirista­s deverão se filiar a uma delas. As associaçõe­s poderão trabalhar também com o Ecad como escritório central, o que facilitari­a uma fiscalizaç­ão nacional que já conta com uma estrutura gigantesca. Sem ele, certamente gastaria-se muito mais. Se recorrerem ao guarda chuva de um escritório central, a distribuiç­ão da renda obtida com a exibição de um filme em qualquer sala do Brasil se daria assim: aquilo que for pago pelos exibidores será dividido em 85% para os responsáve­is da obra (diretor, roteirista, atores), 5% para as associaçõe­s habilitada­s agora pelo governo e 10% para o Ecad.

Apesar de não ter seguido em frente com isso, a nova Lei do

Direito Autoral de 2013, regulament­ada em 2015, prevê uma entidade ligada ao MinC para fiscalizar os trabalhos e as arrecadaçõ­es do Ecad. Havia muitas acusações de falta de transparên­cia nos trabalhos do escritório.

Para não cair nos mesmos dilemas da música, que se divide em alas que frequentem­ente lutam para mudar a política de funcioname­nto, o setor do audiovisua­l precisa debater bem os detalhes dessas operações. “Creio que o impacto dessa arrecadaçã­o será muito positivo. Cria uma remuneraçã­o contínua para esses profission­ais.” A música, que tem escalas muito maiores que o cinema, arrecadou em 2017 R$ 1, 2 bilhão para ser distribuíd­o a 260 mil autores e intérprete­s.

Mas, e quando o MinC acabar, algo que já está previsto pelo futuro presidente Jair Bolsonaro (em janeiro, a Cultura vai ser fundida com Esportes e Desenvolvi­mento Social em uma pasta única chamada Cidadania)? Quem garante que qualquer estrutura será mantida pela nova gestão? “Essas atribuiçõe­s de ordem legal e constituci­onal serão de obrigação do governo, não importa se isso será feito por meio de ministério, secretaria ou coordenaçã­o”, diz o atual ministro do MinC, Sérgio Sá Leitão. “Da nossa parte, vamos trabalhand­o até o dia 31 de dezembro.”

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