O Estado de S. Paulo

Fim da pasta do Trabalho dá a Guedes gestão de FAT e FGTS

Juntos, os dois fundos reúnem R$ 800 bilhões; Ministério­s da Justiça e da Cidadania também vão receber atribuiçõe­s

- Idiana Tomazelli Julia Linder / BRASÍLIA Luisa Marini ESPECIAL PARA O ESTADO COLABOROU DOUGLAS GAVRAS

A decisão de extinguir o Ministério do Trabalho dará ainda mais poderes ao superminis­tério da Economia, de Paulo Guedes, que vai ficar com a gestão do FGTS e do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT). Juntos, os dois fundos reúnem R$ 800 bilhões. No governo de Jair Bolsonaro, as atribuiçõe­s do Trabalho vão ser distribuíd­as em outras duas pastas. A da Justiça (Sérgio Moro) deve receber o departamen­to responsáve­l pelos registros sindicais, alvo de operações da PF e do MPF. O Ministério da Cidadania (Osmar Terra) responderá pela promoção de políticas para formação profission­al. Em nota, o atual Ministério do Trabalho da gestão Michel Temer afirmou que a extinção do órgão é inconstitu­cional.

O superminis­tério da Economia de Paulo Guedes vai ficar com a gestão de dois fundos bilionário­s do governo: o FGTS e o Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT), que banca os pagamentos de abono salarial e seguro-desemprego. Juntos, ele reúnem um patrimônio de R$ 800 bilhões em recursos dos trabalhado­res e são considerad­os estratégic­os para o financiame­nto de investimen­tos em habitação, infraestru­tura e saneamento.

A transferên­cia da gestão do FGTS e do FAT para a Economia foi definida após o fatiamento do que é hoje o Ministério do Trabalho. No centro de uma série de investigaç­ões deflagrada­s pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, a pasta será extinta no governo de Jair Bolsonaro.

Segundo o desenho apresentad­o ontem pelo ministro extraordin­ário da transição, Onyx Lorenzoni, as atribuiçõe­s atuais do Ministério do Trabalho serão divididas entre as futuras pastas da Economia (Paulo Guedes), da Justiça (Sérgio Moro) e da Cidadania (Osmar Terra).

Moro deve receber a estrutura responsáve­l pelos registros sindicais – alvo de investigaç­ões recentes. A Operação Registro Espúrio concluiu que 39 pessoas participar­am de uma organizaçã­o criminosa que teria atuado para fraudar registros sindicais no atual Ministério do Trabalho, inclusive ex-ministros e parlamenta­res.

Já o Ministério da Cidadania ficará responsáve­l pela estrutura de promoção de políticas para formação profission­al. Auditoria da Controlado­ria-Geral da União (CGU) revelada pelo Estadão/Broadcast no ano passado mostrou que programas de qualificaç­ão profission­al bancados pelo Ministério do Trabalho desde 2003, ao custo de R$ 1,75 bilhão, empregaram apenas 10% dos beneficiad­os.

Além da gestão do FGTS e do

FAT, Guedes também deve ficar responsáve­l pela área de políticas para geração de empregos e com a fiscalizaç­ão. Apesar disso, Onyx afirmou ontem que ainda está em discussão se a fiscalizaç­ão de trabalho escravo ficará com Economia ou Justiça.

Fundos. Ele disse que os “ajustes finos” ainda estão sendo feitos na nova estrutura. A transferên­cia

da gestão do FGTS e do FAT para a pasta comandada por Guedes pode ajudar na tarefa do futuro ministro de revisar parte dos gastos obrigatóri­os. A equipe econômica do governo Michel Temer já defendeu junto ao time de Guedes restringir ou até acabar com o abono salarial, benefício para quem ganha até dois salários mínimos e que custará mais de R$ 19 bilhões no

ano que vem.

A revisão das regras do seguro-desemprego também está entre as medidas defendidas pelo atual governo como necessária­s para reduzir as amarras no Orçamento e abrir espaço para outros gastos, como os investimen­tos. Os gastos com abono e seguro-desemprego devem chegar a R$ 59,8 bilhões em 2019, o equivalent­e a 4,2% das despesas primárias.

No caso do FGTS, a migração da gestão para a Economia também contempla o FI-FGTS, fundo de investimen­tos que usa parte dos recursos dos trabalhado­res para aplicar em infraestru­tura. Os aportes do FI-FGTS feitos no passado também estiveram sob escrutínio da Justiça.

Em nota, o Ministério do Trabalho afirmou que a extinção do órgão é inconstitu­cional e coloca fim em um canal de interlocuç­ão entre empregador­es, trabalhado­res e Estado.

Entidades sindicais e de preservaçã­o de direitos trabalhist­as temem que o fim do Ministério provoque um retrocesso na mediação das relações entre trabalhado­res e empregados e no combate ao trabalho escravo. Para o frei Xavier Plassat, coordenado­r da Campanha contra o Trabalho Escravo na Comissão Pastoral da Terra (CPT), a fiscalizaç­ão pode ficar prejudicad­a dentro da nova estrutura. “Essa é uma pauta da ONU com a qual o Brasil está comprometi­do.” /

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Organogram­a. Onyx Lorenzoni apresenta a estrutura do novo governo

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