Fim da pasta do Trabalho dá a Guedes gestão de FAT e FGTS
Juntos, os dois fundos reúnem R$ 800 bilhões; Ministérios da Justiça e da Cidadania também vão receber atribuições
A decisão de extinguir o Ministério do Trabalho dará ainda mais poderes ao superministério da Economia, de Paulo Guedes, que vai ficar com a gestão do FGTS e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Juntos, os dois fundos reúnem R$ 800 bilhões. No governo de Jair Bolsonaro, as atribuições do Trabalho vão ser distribuídas em outras duas pastas. A da Justiça (Sérgio Moro) deve receber o departamento responsável pelos registros sindicais, alvo de operações da PF e do MPF. O Ministério da Cidadania (Osmar Terra) responderá pela promoção de políticas para formação profissional. Em nota, o atual Ministério do Trabalho da gestão Michel Temer afirmou que a extinção do órgão é inconstitucional.
O superministério da Economia de Paulo Guedes vai ficar com a gestão de dois fundos bilionários do governo: o FGTS e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que banca os pagamentos de abono salarial e seguro-desemprego. Juntos, ele reúnem um patrimônio de R$ 800 bilhões em recursos dos trabalhadores e são considerados estratégicos para o financiamento de investimentos em habitação, infraestrutura e saneamento.
A transferência da gestão do FGTS e do FAT para a Economia foi definida após o fatiamento do que é hoje o Ministério do Trabalho. No centro de uma série de investigações deflagradas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, a pasta será extinta no governo de Jair Bolsonaro.
Segundo o desenho apresentado ontem pelo ministro extraordinário da transição, Onyx Lorenzoni, as atribuições atuais do Ministério do Trabalho serão divididas entre as futuras pastas da Economia (Paulo Guedes), da Justiça (Sérgio Moro) e da Cidadania (Osmar Terra).
Moro deve receber a estrutura responsável pelos registros sindicais – alvo de investigações recentes. A Operação Registro Espúrio concluiu que 39 pessoas participaram de uma organização criminosa que teria atuado para fraudar registros sindicais no atual Ministério do Trabalho, inclusive ex-ministros e parlamentares.
Já o Ministério da Cidadania ficará responsável pela estrutura de promoção de políticas para formação profissional. Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) revelada pelo Estadão/Broadcast no ano passado mostrou que programas de qualificação profissional bancados pelo Ministério do Trabalho desde 2003, ao custo de R$ 1,75 bilhão, empregaram apenas 10% dos beneficiados.
Além da gestão do FGTS e do
FAT, Guedes também deve ficar responsável pela área de políticas para geração de empregos e com a fiscalização. Apesar disso, Onyx afirmou ontem que ainda está em discussão se a fiscalização de trabalho escravo ficará com Economia ou Justiça.
Fundos. Ele disse que os “ajustes finos” ainda estão sendo feitos na nova estrutura. A transferência
da gestão do FGTS e do FAT para a pasta comandada por Guedes pode ajudar na tarefa do futuro ministro de revisar parte dos gastos obrigatórios. A equipe econômica do governo Michel Temer já defendeu junto ao time de Guedes restringir ou até acabar com o abono salarial, benefício para quem ganha até dois salários mínimos e que custará mais de R$ 19 bilhões no
ano que vem.
A revisão das regras do seguro-desemprego também está entre as medidas defendidas pelo atual governo como necessárias para reduzir as amarras no Orçamento e abrir espaço para outros gastos, como os investimentos. Os gastos com abono e seguro-desemprego devem chegar a R$ 59,8 bilhões em 2019, o equivalente a 4,2% das despesas primárias.
No caso do FGTS, a migração da gestão para a Economia também contempla o FI-FGTS, fundo de investimentos que usa parte dos recursos dos trabalhadores para aplicar em infraestrutura. Os aportes do FI-FGTS feitos no passado também estiveram sob escrutínio da Justiça.
Em nota, o Ministério do Trabalho afirmou que a extinção do órgão é inconstitucional e coloca fim em um canal de interlocução entre empregadores, trabalhadores e Estado.
Entidades sindicais e de preservação de direitos trabalhistas temem que o fim do Ministério provoque um retrocesso na mediação das relações entre trabalhadores e empregados e no combate ao trabalho escravo. Para o frei Xavier Plassat, coordenador da Campanha contra o Trabalho Escravo na Comissão Pastoral da Terra (CPT), a fiscalização pode ficar prejudicada dentro da nova estrutura. “Essa é uma pauta da ONU com a qual o Brasil está comprometido.” /