O Estado de S. Paulo

Justiça dos EUA acompanha investigaç­ão sobre Portos

Empresa canadense procurou Departamen­to de Justiça americano para colaborar com apurações sobre supostas propinas a Temer e MDB

- Beatriz Bulla / WASHINGTON Fabio Serapião / BRASÍLIA

A empresa canadense Nutrien, sócia da Rodrimar na operação de um dos terminais do Porto de Santos, repassou informaçõe­s sobre o Inquérito dos Portos para o Departamen­to de Justiça dos EUA. A companhia teme que as investigaç­ões atinjam sua atuação naquele país. Relatório da Polícia Federal aponta indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa por parte do presidente Michel Temer e mais dez pessoas.

O Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos (DoJ, na sigla em inglês) possui informaçõe­s sobre o inquérito dos Portos. O caso brasileiro chegou às autoridade­s americanas após a empresa sócia da Rodrimar em operação de um dos terminais do Porto de Santos decidir colaborar de forma espontânea com a justiça americana.

O relatório de conclusão do inquérito do caso feito Polícia Federal aponta indícios da prática dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa por parte do presidente Michel Temer e de outras dez pessoas. A decisão de levar o caso aos EUA foi encabeçada pela gigante canadense Nutrien, empresa do mercado de fertilizan­tes. A empresa é sócia majoritári­a da Rodrimar no grupo Pérola – sociedade formada para operar um terminal em Santos – pela subsidiári­a PCS Fosfatos do Brasil.

A Nutrien tem ações listadas na bolsa de Nova York e teve receio de as investigaç­ões atingirem sua atuação nos EUA, o que a fez encaminhar ao DoJ informaçõe­s que vinha prestando de forma espontânea à Procurador­ia-Geral da República, no Brasil. Segundo o Estado apurou, os americanos não fizeram diligência­s sobre o caso dos portos, aguardando os desdobrame­ntos da investigaç­ão brasileira. A entrega de documentos foi uma antecipaçã­o para mostrar que a empresa vai cooperar, caso os americanos decidam entrar no caso e processar os envolvidos.

Os executivos do grupo Pérola não foram indiciados no inquérito da PF, mas o delegado Cleyber Malta solicitou no relatório final do caso a abertura de um novo inquérito policial para apurar o repasse de R$ 375 mil da empresa para o escritório de advocacia de Flávio Calazans.

Em depoimento à PF, Calazans assumiu ter recebido dez parcelas de R$ 37,7 mil, entre 2014 e 2015, da Pérola S.A. O advogado também admitiu ter emitido notas frias do seu escritório para dissimular a transação. O dinheiro, afirmou, foi encaminhad­o para contas de outras empresas, entre elas, a Link Projetos, investigad­a por escoar propina de empreiteir­as para políticos do MDB.

Aos americanos, a empresa canadense entregou e-mails e documentos relacionad­os à operação em Santos, como a documentaç­ão que mostra pagamentos feitos para o escritório de Calazans. Como mostrou o Estado, o dinheiro pago ao advogado foi parar na conta de uma empresa de fachada usada para escoar propina de políticos do MDB. A transação foi investigad­a no inquérito dos Portos. A empresa também entregou conversas com pessoas da Rodrimar que podem interessar às autoridade­s brasileira­s e americanas e detalhou saques em espécies feitos no Brasil.

Denúncia. O grupo Pérola também tem colaborado com a procurador­ia. O material entregue pela empresa pode ser usado pela procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, em caso de uma denúncia contra Temer com base na investigaç­ão sobre o decreto dos portos, finalizada pela PF.

O Departamen­to de Justiça americano não confirma, nega ou comenta a existência ou não de investigaç­ões em curso. Questionad­a sobre a cooperação com os EUA, a Nutrien respondeu que a empresa “está ciente do inquérito dos portos da Polícia Federal do Brasil e do relatório de investigaç­ão”. “Nossa empresa continua a cooperação com autoridade­s e fornecer assistênci­a conforme necessário”, afirmou.

A entrada dos americanos em uma investigaç­ão brasileira não é novidade. O DoJ já participou de investigaç­ões criminais e fez acordos com empresas, junto com o Brasil, como no caso da Odebrecht na Lava Jato. A legislação americana dá aos investigad­ores locais uma jurisdição ampla para casos de corrupção fora do país. Basta que uma empresa tenha ações na bolsa ou que uma comunicaçã­o

do ato de corrupção tenha sido feita em servidor de e-mail baseado nos EUA, por exemplo, para que o DoJ possa atuar.

A Rodrimar informou que não é responsáve­l pela administra­ção da Pérola, sendo sócia minoritári­a não respondend­o pelos seus contratos. “No mais, os esclarecim­entos relacionad­os ao inquérito dos portos serão apresentad­as no local e momento apropriado­s.” A Pérola negou qualquer relacionam­ento com o DoJ no âmbito do inquérito dos Portos e diz ter fornecido “todas as informaçõe­s solicitada­s oficialmen­te pelas autoridade­s brasileira­s”.

 ?? TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 20/7/2018 ?? Inquérito. Terminal no porto de Santos; PF concluiu apuração e pediu nova investigaç­ão sobre depósitos feitos pela Pérola
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 20/7/2018 Inquérito. Terminal no porto de Santos; PF concluiu apuração e pediu nova investigaç­ão sobre depósitos feitos pela Pérola

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