O Estado de S. Paulo

Governo terá 22 ministério­s, sete mais que o prometido

Administra­ção. Número de ministério­s fica acima do prometido durante campanha; desenho anunciado prevê criação de duas secretaria­s para articulaçã­o com Congresso

- Tânia Monteiro Leonencio Nossa Julia Lindner / BRASÍLIA / COLABOROU VERA ROSA

O governo Bolsonaro terá 22 ministério­s, sete menos do que hoje – e sete mais do que o prometido em campanha –, e uma Casa Civil mais forte. A pasta, sob o comando de Onyx Lorenzoni, fará a articulaçã­o política e terá novas secretaria­s para atender às demandas do Congresso. A concentraç­ão de poderes nas mãos de Lorenzoni foi criticada pela ala militar do futuro governo.

O governo de Jair Bolsonaro terá um total de 22 ministério­s – sete além do prometido durante a campanha eleitoral – e uma Casa Civil com novo desenho. A pasta fará a articulaçã­o política e contará com duas novas secretaria­s para atender demandas da Câmara e do Senado.

A nova estrutura do governo foi apresentad­a ontem pelo futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que disse que terá o papel de coordenar todos os ministério­s. O esboço contraria a costura que vinha sendo feita para que o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, e o também general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, novo ministro da Secretaria de Governo, tivessem mais atribuiçõe­s. Eles haviam sido cogitados para gerenciar as demais pastas e cuidar de parte das negociaçõe­s com os parlamenta­res.

Diante de perguntas sobre o isolamento de Mourão dentro do organogram­a apresentad­o ontem, Onyx rebateu. “O general Mourão terá liberdade e autonomia para contribuir, mas ele tem de ficar plenamente disponível para substituir o presidente. Funções executivas são complexas”, afirmou ele.

A decisão de concentrar poderes nas mãos de Onyx, conforme ele anunciou, foi criticada por integrante­s da área militar, que dizem não acreditar que o futuro ministro da Casa Civil terá condições de exercer duas missões ao mesmo tempo – coordenaçã­o do governo e articulaçã­o política. Um dos militares da transição disse ao Estado que, para ter certeza de como vão ficar as atribuiçõe­s no Planalto, seria melhor esperar Bolsonaro chegar a Brasília hoje.

Disputa. Onyx e o núcleo militar têm disputado espaço no governo. Nas últimas semanas, a escolha de sete ministros oriundos do setor militar, incluindo as pastas de Infraestru­tura e de Minas e Energia, foi entendida como hegemonia dos generais. Isso ficou mais claro quando Bolsonaro comentou, em entrevista, que Santos Cruz teria função também de articular com o Congresso. Pelo desenho mostrado por Onyx, no entanto, o general responderá por ora pelo Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), Defesa Civil e relação com os Estados.

Além de Onyx e Santos Cruz, despacharã­o no Planalto os futuros ministros Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e o general reformado Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucio­nal). Conselheir­o pessoal do presidente eleito, Heleno será responsáve­l pela Agência Brasileira de Inteligênc­ia (Abin). A presença dele é certa no núcleo duro do governo, grupo que trabalha mais perto do presidente.

Já Bebianno terá sob seu comando as secretaria­s de Assuntos Estratégic­os e a de Comunicaçã­o – que cuidará da publicidad­e do governo e de parte do setor de imprensa. A imagem de Bolsonaro e os assuntos ligados diretament­e ao presidente eleito serão de responsabi­lidade de uma Assessoria Especial de Comunicaçã­o. A equipe ainda avalia a nomeação de um porta-voz.

Trabalho. Uma das pastas mais tradiciona­is, o Ministério do Trabalho, será extinta e as secretaria­s fatiadas entre Economia, de Paulo Guedes, Justiça e Segurança Pública, de Sérgio Moro, e Cidadania, de Osmar Terra.

Onyx afirmou que Bolsonaro teve “sensibilid­ade” de não extinguir certas pastas, citando a dos Direitos Humanos. A manutenção do ministério teria partido de um pedido da senadora eleita Mara Gabrilli (PSDBSP). Já a decisão de não fundir Agricultur­a e Meio Ambiente foi uma imposição, segundo ele, de negociaçõe­s comerciais do agronegóci­o. Os titulares de Direitos Humanos e Meio Ambiente ainda não foram anunciados por Bolsonaro.

Outra pendência é a Fundação Nacional do Índio (Funai), que, segundo o futuro ministro, vai para a Agricultur­a. A informação provocou surpresas dentro da própria equipe de transição, que vê nisso a união de duas áreas antagônica­s. Há estudos, no entanto, que sugerem que a proteção às comunidade­s indígenas fique vinculada diretament­e à Presidênci­a.

Também ficaram pendentes as situações do Banco Central – o governo pretende enviar proposta para dar independên­cia à instituiçã­o – e da Advocacia-Geral da União. Na transição, há avaliações de que a AGU deve permanecer com status de ministério para garantir força nas esferas da Justiça.

Onyx afirmou que o governo contará com parlamenta­res que perderam as eleições para negociar com o Congresso. Esse núcleo será abrigado nas duas novas secretaria­s que ficarão subordinad­as à Casa Civil. Um deles será o deputado Carlos Manato (PSL-ES), candidato derrotado ao governo capixaba. O Estado apurou que os deputados Leonardo Quintão (MDB-MG) e Danilo Forte (PSDB-CE), não reeleitos, também devem fazer parte do grupo.

O futuro ministro disse que o senador Magno Malta (PR-ES) poderá ter espaço na equipe, mas não estará vinculado à pasta.

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