O Estado de S. Paulo

Sul e Sudeste abrem vagas para Medicina

Saúde. Além de levar profission­ais de saúde a regiões mais afastadas, programa previa abrir 11,4 mil postos de graduação, com foco em cidades do interior que não tivessem escola médica. Concentraç­ão de cursos se mantém no Sul e no Sudeste e na rede partic

- Fabiana Cambricoli Luiz Fernando Toledo

Desde que o Mais Médicos entrou em vigor, em 2013, 70% das novas vagas em cursos de Medicina foram abertas em cidades que já ofereciam escolas médicas, a maioria nas Regiões Sul e Sudeste. A meta do programa era abrir 11,4 mil vagas de graduação até 2017, o que foi alcançado, mas a expectativ­a é de que fossem para cidades sem cursos na área. As universida­des privadas ficaram com a maior parte: 83% das vagas.

Contrarian­do o objetivo do Mais Médicos de levar faculdades de Medicina a cidades do interior do País que não tivessem nenhum curso do tipo, só 30% das vagas abertas desde 2013, quando o programa começou, ficam nos municípios prioritári­os, ou seja, que não possuíam escolas médicas anteriorme­nte.

Os dados, obtidos pelo Estado com o Ministério da Educação (MEC), mostram ainda que a concentraç­ão dos cursos nas regiões mais ricas do País se manteve: 56% das vagas criadas estão em instituiçõ­es de ensino do Sul e do Sudeste.

O aumento das vagas também não facilitou o acesso de estudantes mais pobres à graduação de Medicina: 83% dos postos criados no período estão em universida­des privadas, que cobram pelo menos R$ 6 mil de mensalidad­e.

De acordo com a lei que criou o Mais Médicos, a contrataçã­o emergencia­l de profission­ais brasileiro­s e estrangeir­os (como os cubanos) para atuar nas áreas mais pobres do País era uma medida paliativa até que novos médicos, com uma formação mais focada em Medicina da Família, se graduassem e ocupassem essas vagas.

Para isso, o governo federal estipulou a meta de criar 11.400 vagas de graduação em Medicina entre 2013 e 2017, com foco em cidades do interior que ainda não tivessem faculdade médica. A meta quantitati­va foi alcançada: desde 2013 até agora, o MEC autorizou 13.624 novas vagas, incluindo as de novos cursos e as adicionada­s em escolas já existentes. Apenas 2.747 (20%) delas, no entanto, seguem todos os critérios dos editais abertos dentro do programa Mais Médicos.

Mesmo cursos criados em cidades que atendiam à regra do Mais Médicos de não possuir faculdade de Medicina ficaram, em parte, concentrad­os em municípios próximos dos grandes centros. Em São Paulo, por exemplo, foram autorizada­s centenas de vagas em cidades da região metropolit­ana, como Osasco e Guarulhos, o que faz com que estudantes do interior continuem tendo de migrar para cursar a graduação.

Foi o caso da jovem Rafaela Gomes, de 22 anos. Moradora de Guaíra, município paulista a 450 quilômetro­s da capital, ela teve de se mudar para Osasco para cursar Medicina. “Até tem alguns cursos na região de Barretos, perto da minha cidade, mas são poucos e não passei no vestibular lá”, conta ela.

Para Jadete Barbosa Lampert, coordenado­ra da Comissão de Avaliação das Escolas de Saúde da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), as vagas acabam concentrad­as

em áreas que já tinham cursos de Medicina por falta de estrutura de outras localidade­s. “O aumento de vagas extrapolou o planejamen­to. Não tinha como abrir esse número de vagas em locais sem estrutura de atendiment­o médico, sem um corpo docente qualificad­o”, diz ela, que relata ainda preocupaçã­o com a qualidade das faculdades abertas. “Com certeza tem muitas falhas”, afirma.

Já o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedor­as de Ensino Superior (Abmes), Sólon Caldas, diz que todos os editais abertos pelo MEC para a abertura de vagas pelo Mais Médicos tiveram amplo interesse das universida­des. “As instituiçõ­es de ensino queriam abrir mais vagas, mas quem define os municípios é o MEC”, diz ele.

Resposta. Questionad­o, o MEC afirmou que os dados mostram que “houve ampliação na rede de ensino de Medicina para cidades com instituiçõ­es de ensino superior aptas a receberem o curso, bem como de residência em Medicina da Família, como havia sido proposto pela Lei do Mais Médicos”.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil