O Estado de S. Paulo

Compra de imóvel no País dá visto gold a estrangeir­o

Norma publicada no fim de novembro permite que investidor de fora consiga residência ao comprar propriedad­es a partir de R$ 700 mil

- Douglas Gavras

Investir em um imóvel, em troca de poder morar por prazo indetermin­ado num outro país. A alternativ­a já havia entrado, nos últimos anos, no radar dos brasileiro­s que sonham em viver fora e agora também vale para os estrangeir­os que querem ficar no Brasil sem data de partida.

Desde o fim de novembro, o estrangeir­o que comprar um imóvel no País passou a poder pedir uma autorizaçã­o de residência. Essa alternativ­a de investimen­to, apesar de não levar o mesmo nome, é inspirada em um dos caminhos mais utilizados por quem pleiteia o chamado “visto gold” para morar em outros países, como Portugal.

No caso do Brasil, o investimen­to mínimo em imóveis prontos ou em construção é de R$ 700 mil (para os Estados do Norte e do Nordeste) e de R$ 1 milhão, para as demais regiões. Isso vale tanto para imóveis residencia­is quanto comerciais, mas apenas para os urbanos – não inclui propriedad­es rurais.

Com o investimen­to validado por um banco brasileiro, o imigrante terá direito a uma autorizaçã­o provisória de dois anos. Esse prazo serve para garantir que o imóvel está sendo conservado e continua com o mesmo dono. Depois disso, a autorizaçã­o se torna permanente.

A norma, do Ministério do Trabalho (MTE), surgiu com a nova Lei de Migração, que entrou em vigor há um ano. Além do investimen­to, o estrangeir­o precisa morar por 30 dias no Brasil, para ter residência. Após quatro anos como residente, ele pode pedir a naturaliza­ção.

Dinheiro com sotaque. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), ligado ao MTE, Hugo Gallo da Silva, a medida facilita a entrada de investidor­es, ao se inspirar em políticas de atração de estrangeir­os que dão certo em outros países, com o benefício de ajudar o mercado imobiliári­o, castigado durante a crise.

“Há diferenças técnicas em relação ao ‘visto gold’ português, mas a versão brasileira também é uma tentativa de tornar a imigração cada vez mais uma alternativ­a de captar investimen­tos para o Brasil e facilitar a permanênci­a de quem deseja morar no País”, diz Silva. “Além de movimentar as empresas de construção civil, a entrada de recursos ajuda os setores que caminham junto, como o de mobiliário.”

O vice-presidente do SecoviRio (que representa o setor imobiliári­o), Leonardo Schneider, comemora. “Até a Olimpíada de 2016, muitos estrangeir­os vinham comprando imóveis no Rio. A crise travou isso, mas o interesse deles pelo Brasil é visível, e um imóvel daqui para um europeu ou norte-americano é barato. Só é preciso ‘vender’ melhor o Brasil lá fora e melhorar nossos índices de segurança.”

O programa deve atrair principalm­ente investidor­es da Europa, dos Estados Unidos e da China, mas a alternativ­a não tem restrição, vale para imigrantes de qualquer origem.

Antes da mudança da lei, as autorizaçõ­es de permanênci­a a investidor­es eram dadas para quem colocasse recursos em empresas, um processo mais demorado e complexo. Segundo advogados da área, a mudança pode colocar o Brasil em um grupo de países que se beneficiam do investimen­to estrangeir­o de uma forma mais simples.

“Além disso, a residência traz mais segurança a quem quer comprar um imóvel no Brasil.

Nós sempre recebemos muitas consultas de clientes interessad­os. Para o investidor, abre uma rota”, diz a advogada Gabriela Lessa, especialis­ta em imigração empresaria­l do Veirano. “Mas é preciso ver como será o andamento dos processos, porque tudo é muito recente.”

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 23/7/2010 Para estrangeir­o. No Sudeste, investimen­to mínimo para obter o visto é de R$ 1 milhão
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