O Estado de S. Paulo

No reino da felicidade

Na véspera de reuniões de Bolsonaro com parlamenta­res, futuro ministro afirma que não haverá barganha na relação com Congresso

- BRASÍLIA / CAMILA TURTELLI, VERA ROSA, MARIANA HAUBERT e TÂNIA MONTEIRO

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Na véspera de o presidente eleito, Jair Bolsonaro, iniciar uma série de reuniões com parlamenta­res e líderes de partidos, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), disse que não haverá “toma lá, dá cá” na articulaçã­o política do Palácio do Planalto com o Congresso. Também afirmou que é preciso “couro duro” para enfrentar pressões.

Apesar do discurso oficial, Bolsonaro já foi informado de que terá de fazer concessões para aprovar projetos na Câmara e no Senado e planeja alocar políticos aliados no segundo escalão. Uma das bancadas que mais têm se queixado de não estar representa­da na nova equipe é a evangélica.

“Vou conversar com as bancadas para esclarecer como vai ser o nosso relacionam­ento com o Congresso”, afirmou Onyx, ao anunciar ontem a estrutura do novo governo, que terá 22 ministério­s – sete a mais do que o prometido na campanha. “O famoso ‘toma lá, dá cá’ destruiu a relação com a política e será completame­nte revisado”, disse o futuro chefe da Casa Civil. “Nada impede que uma bancada indique um médico ou um engenheiro para ocupar um cargo. Mas não será com aquele espírito operativo.”

Até agora ignorados, líderes de partidos na Câmara vão usar os encontros desta semana com Bolsonaro para tentar quebrar a resistênci­a do novo governo a negociar com as siglas.

Nas últimas semanas de transição, o presidente eleito foi alvo de queixas até mesmo de aliados que, até o momento, não participar­am da montagem dos ministério­s. A aproximaçã­o com parlamenta­res que poderão compor a base governista no Congresso foi costurada por Onyx. Nos bastidores, interlocut­ores de Bolsonaro admitem que concessões poderão ser feitas em nome da “governabil­idade”.

Na mesma linha de Onyx, o general Carlos Alberto dos Santos

Cruz, indicado para comandar a Secretaria de Governo, afirmou que, ao conversar com parlamenta­res, seguirá princípios e valores que não permitirão a troca de favores. “Se você

for raciocinar que, para fazer o trabalho certo, não tem dificuldad­e nenhuma, é só ser norteado por bons princípios. A dificuldad­e é se começar a se afastar de princípios que são fundamenta­is”, afirmou Santos Cruz.

Mais tarde, Onyx afirmou que a Secretaria de Governo, sob o comando do general, cuidará da relação com Estados e municípios, e também do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI).

Conversas. Entre hoje e amanhã, o presidente eleito receberá as bancadas do MDB, PRB, PR e PSDB no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede da equipe de transição. Os deputados dizem que não pretendem pleitear cargos.

“Não há um compromiss­o formal nesse encontro. Vamos ouvir o presidente eleito”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (PSBD-MT). “Não temos de nos meter na formação do governo.” Leitão afirmou que defenderá como prioridade­s a aprovação da reforma tributária e de mudanças no licenciame­nto ambiental.

Para o líder do PR, José Rocha (BA), todos querem saber como Bolsonaro vai construir pontes no Congresso. “Todo mundo sabia que essa história de só conversar com frentes parlamenta­res não funcionava”, disse Rocha. “Neste momento, falar é prata, calar é ouro. Vamos lá para ouvir”, disse o presidente do PRB, deputado Marcos Pereira (SP), que também quer tratar da polêmica reforma da Previdênci­a com Bolsonaro.

Aliado do presidente Michel Temer, o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS) disse que vai pleitear o apoio integral de seu partido a Bolsonaro, sem especifica­r uma contrapart­ida. “Estamos construind­o esse apoio”, afirmou Perondi.

Em 2019, Perondi – primeiro suplente de deputado federal de seu partido no Rio Grande do Sul – assumirá a vaga na Câmara de Osmar Terra (MDBRS), que foi reeleito, mas será o ministro da Cidadania do novo governo.

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Organogram­a. O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante o anúncio da estrutura do novo governo; total de ministério­s chegará a 22

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