O Estado de S. Paulo

DIPLOMACIA

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Economia e relações carnais

No final da década de 80 e início da de 90, o governo populista argentino do presidente Carlos Menem anunciava “relações carnais” com o governo norte-americano, na época na gestão Bush pai, recentemen­te falecido. Implemento­u-se na Argentina uma política neoliberal ao gosto da Escola de Chicago e dos republican­os da época e se instituiu um delirante plano econômico de arrocho fiscal e paridade do peso com o dólar, o chamado Plano Cavallo, acreditand­o no estreitame­nto das relações econômicas “carnais” dos dois países. Mas os americanos estavam mais interessad­os no Oriente Médio, com o desfecho da Guerra do Golfo, no Kuwait e no Iraque, e sua amante argentina não só abriu seus mercados, entre outras coisas, mas passou por profundo processo de privatizaç­ão para “sanear as contas”, como asseverava adoutrina ideológica do Consenso de Washington. O resultado foi uma crise social pior que a herdada no início do governo – e o início da moda de bater panelas em protestos, que foi aqui copiada da politizada classe média argentina, aliás, duramente penalizada pelas medidas a olongo do sano seque apoiara entusiasti­camente a eleição de Menem. E foi também o processo que levou os Kirchners ao poder, em década de ostracismo econômico. Se o roteiro da peça e a receita econômica são semelhante­s, também semelhante é, infelizmen­te, o comportame­nto das elites latinas, liberais no palco e estatistas nos bastidores. Não quer dizer que o desfecho seja inevitável, pois as condições econômicas são diferentes e a capacidade brasileira é mais

complexa e diversific­ada. Nada é inevitável nas ações políticas, diplomátic­as e sociais se houver conhecimen­to e inteligênc­ia, e não apenas voluntaris­mo, também demonstrad­o na era Menem. Aprender com a História, mesmo a recente, é prudente. Ações impensadas e voluntaris­tas, como as que se desenham, têm efeitos deletérios por longo período. E as “relações carnais” assumem a pior simbologia possível, no imaginário popular.

ROBERTO YOKOTA

rkyokota@gmail.com São Paulo

Barão nos EUA

Gostaria de partilhar com os brasileiro­s a informação de que temos uma estátua do barão do Rio Branco em Nova York, no Parque Bryant, na 6.ª Avenida, bem conservada. Que orgulho!

KENJI OSHIRO

kenjioshir­o@uol.com.br Piracicaba

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