Identificada ossada de desaparecido político
Último contato de Aluízio Palhano, líder sindical cassado pelo regime militar, com a família foi em abril de 1971
A identificação do corpo do líder sindical Aluízio Palhano Pedreira Ferreira foi anunciada ontem no 1.º Encontro Nacional de Familiares, promovido em Brasília pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada ao governo federal. Desaparecido político desde 1971, Palhano era um dos chefes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), quando foi preso na ditadura militar. A ossada estava na vala comum descoberta em 1990 no cemitério Dom Bosco, em Perus, na zona oeste de São Paulo.
O destino de Palhano era controverso. Suspeitava-se que tivesse sido morto na Casa da Morte, em Petrópolis (RJ) – prisão clandestina do Centro de Informações do Exército (CIE) – ou em São Paulo, no Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército, sob o comando do então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, que negava a tortura e morte do preso.
Ustra e um de seus subordinados chegaram a ser denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por esse crime, mas a Justiça decidiu rejeitar a acusação em razão da Lei de Anistia (1979). A acusação que ligava sua morte ao DOI de São Paulo era amparada pelo depoimento de duas testemunhas que presenciaram a tortura de Palhano nos dias que antecederam seu desaparecimento – entre elas, o jornalista Altino Dantas Júnior.
Até o laudo divulgado ontem, porém, não se sabia o destino final de Palhano – o cemitério Dom Bosco foi o lugar onde eram enterrados vários dos militantes políticos presos e mortos pelo DOI.
Palhano foi vice-presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), posto na ilegalidade em 1964. Ele estava na primeira lista de cassados pelo Ato Institucional-1. Exilou-se em Cuba, onde representou o Brasil na Organização Latino-americana de Solidariedade (OLAS). Aderiu à VPR, organização armada da qual seria um dos líderes, e voltou ao Brasil clandestinamente em 1970. Acabou sendo preso com base nas informações do agente infiltrado José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo. Seu último contato com a família foi em abril de 1971.
A identificação científica de sua ossada é a segunda do Grupo de Trabalho Perus – a outra, de Dimas Casemiro, integrante do Movimento Revolucionário Tiradentes, foi entregue à família em agosto. O grupo foi formado em 2014 e engloba o Ministério dos Direitos Humanos, Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Prefeitura de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo, onde 1.049 caixas com restos mortais de Perus estão sendo preservadas.