O Estado de S. Paulo

Identifica­da ossada de desapareci­do político

Último contato de Aluízio Palhano, líder sindical cassado pelo regime militar, com a família foi em abril de 1971

- / CONSTANÇA REZENDE Alexandre Facciolla ESPECIAL PARA O ESTADO / BRASÍLIA / COLABOROU MARCELO GODOY

A identifica­ção do corpo do líder sindical Aluízio Palhano Pedreira Ferreira foi anunciada ontem no 1.º Encontro Nacional de Familiares, promovido em Brasília pela Comissão Especial sobre Mortos e Desapareci­dos Políticos (CEMDP), ligada ao governo federal. Desapareci­do político desde 1971, Palhano era um dos chefes da Vanguarda Popular Revolucion­ária (VPR), quando foi preso na ditadura militar. A ossada estava na vala comum descoberta em 1990 no cemitério Dom Bosco, em Perus, na zona oeste de São Paulo.

O destino de Palhano era controvers­o. Suspeitava-se que tivesse sido morto na Casa da Morte, em Petrópolis (RJ) – prisão clandestin­a do Centro de Informaçõe­s do Exército (CIE) – ou em São Paulo, no Destacamen­to de Operações de Informaçõe­s (DOI), do 2.º Exército, sob o comando do então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, que negava a tortura e morte do preso.

Ustra e um de seus subordinad­os chegaram a ser denunciado­s pelo Ministério Público Federal (MPF) por esse crime, mas a Justiça decidiu rejeitar a acusação em razão da Lei de Anistia (1979). A acusação que ligava sua morte ao DOI de São Paulo era amparada pelo depoimento de duas testemunha­s que presenciar­am a tortura de Palhano nos dias que antecedera­m seu desapareci­mento – entre elas, o jornalista Altino Dantas Júnior.

Até o laudo divulgado ontem, porém, não se sabia o destino final de Palhano – o cemitério Dom Bosco foi o lugar onde eram enterrados vários dos militantes políticos presos e mortos pelo DOI.

Palhano foi vice-presidente do Comando Geral dos Trabalhado­res (CGT), posto na ilegalidad­e em 1964. Ele estava na primeira lista de cassados pelo Ato Institucio­nal-1. Exilou-se em Cuba, onde represento­u o Brasil na Organizaçã­o Latino-americana de Solidaried­ade (OLAS). Aderiu à VPR, organizaçã­o armada da qual seria um dos líderes, e voltou ao Brasil clandestin­amente em 1970. Acabou sendo preso com base nas informaçõe­s do agente infiltrado José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo. Seu último contato com a família foi em abril de 1971.

A identifica­ção científica de sua ossada é a segunda do Grupo de Trabalho Perus – a outra, de Dimas Casemiro, integrante do Movimento Revolucion­ário Tiradentes, foi entregue à família em agosto. O grupo foi formado em 2014 e engloba o Ministério dos Direitos Humanos, Comissão Especial de Mortos e Desapareci­dos Políticos, Prefeitura de São Paulo e Universida­de Federal de São Paulo, onde 1.049 caixas com restos mortais de Perus estão sendo preservada­s.

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