O Estado de S. Paulo

Uruguai nega asilo a ex-líder peruano acusado de desvios

Ex-presidente Alan García, que estava refugiado na embaixada uruguaia em Lima, alega sofrer perseguiçã­o política no Peru; ele é acusado de receber propina da construtor­a Odebrecht em troca de contrato para construção de uma linha de metrô

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O governo do Uruguai rejeitou ontem o pedido de asilo ao ex-presidente peruano Alan García, que estava na embaixada uruguaia em Lima havia 16 dias. Acusado de receber propina da construtor­a Odebrecht em troca de um contrato para construção de uma linha de metrô, García alegava sofrer perseguiçã­o política.

O ex-presidente deixou a representa­ção na capital peruana após ter seu pedido recusado. “Em poucas palavras, não concedemos o pedido de asilo”, disse o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, em entrevista ao lado de seu ministro das Relações Exteriores, Rodolfo Novoa.

Eles afirmaram ter tomado a decisão após levar em conta consideraç­ões estritamen­te jurídicas. Segundo Vázquez, o caso não é de perseguiçã­o política. “Os três poderes do Estado operam de forma autônoma e livre no Peru, especialme­nte, neste caso, o Judiciário”, disse.

O ex-presidente, de 69 anos, se divide entre Lima e Madri desde 2016, e estava no Peru no dia 17 quando foi proibido por um juiz de sair do país por 18 meses, enquanto ocorressem as investigaç­ões. Horas depois, ele solicitou asilo diplomátic­o ao Uruguai. García foi submetido a uma investigaç­ão preliminar da acusação, mas ainda não é réu. Apesar de proibido de deixar o país, não há contra ele um mandado de prisão.

Segundo a imprensa peruana, o ex-presidente também enfrenta uma nova investigaç­ão por corrupção. A procurador­ia do Peru afirma que o então presidente e outros 21 funcionári­os conspirara­m para “facilitar” que a empresa holandesa APM Terminals vencesse, em 2011, a concessão do Terminal Norte do porto de Callao, perto de Lima.

Os supostos crimes de “conluio agravado” e de “negociação incompatív­el em ofensa ao Estado” ocorreram nos últimos meses do segundo mandato de García (2006-2011). Entre os investigad­os está o então ministro de Transporte­s, Enrique Cornejo, de acordo com o jornal El Comercio.

“Alan García e outros funcionári­os ‘teriam emitido instrument­os de gestão, dentro dos quais se encontrava­m os decretos de urgência para viabilizar a concessão e, com isso, favorecer a empresa APM Terminals Callao’”, afirmou o jornal, citando um documento da Procurador­ia. “Dois decretos de urgência declararam 33 projetos de investimen­to como de necessidad­e nacional, incluindo o do Terminal Norte de Callao.”

Apesar de ter sido declarado inconstitu­cional meses depois do fim do mandato de García, o contrato de concessão se manteve. Junto com a entrega da concessão à empresa holandesa, o governo de García deu “uma série de benefícios sumariamen­te excessivos”, como isenções de impostos, o que teria causado um prejuízo de US$ 247 milhões (R$ 949 milhões), segundo a procurador­ia do Peru. García e seus advogados de defesa não comentaram o novo caso.

Considerad­o um dos políticos mais hábeis do Peru, García vive um dos momentos mais difíceis de sua carreira política. O frustrado pedido de asilo é um “desastre” para ele, segundo o analista Fernando Tuesta. Ele lembra que esta é a primeira vez na carreira política de quatro décadas que o ex-presidente peruano está em apuros com a Justiça.

García esteve quase desapareci­do da cena política após sua derrota nas eleições presidenci­ais de 2016, nas quais buscava um terceiro mandato, mas obteve apenas 5% dos votos. No entanto, seu nome voltou às manchetes dos jornais após o pedido de asilo ao Uruguai. Pai de seis filhos de três relacionam­entos diferentes, García vivia em Madri com sua atual mulher e seu filho mais novo.

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ERNESTO BENAVIDES / AFP-15/11/2018 Sem saída. Alan García em Lima; alegação de perseguiçã­o política não convenceu Uruguai

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