O Estado de S. Paulo

Erdogan visita Caracas e consolida aliança com Maduro

Depois de tentar buscar dinheiro na China e na Rússia, Venezuela aposta na Turquia para amenizar a crise

- Luiz Raatz

“Restrições comerciais e sanções unilaterai­s são um erro. Não se pode castigar um povo inteiro para resolver desacordos políticos” Recep Tayyip Erdogan PRESIDENTE DA TURQUIA

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, visitou ontem seu colega venezuelan­o, Nicolás Maduro. Em Caracas, Erdogan condenou as sanções impostas pelos EUA à Venezuela e prometeu ajudar a “suprir a maioria das necessidad­es” do país. “Restrições comerciais e sanções unilaterai­s são um erro. Não se pode castigar um povo inteiro para resolver desacordos políticos”, disse Erdogan durante encontro com empresário­s locais.

A Turquia é a mais recente tábua de salvação bolivarian­a contra a crise que dizima a economia da Venezuela, depois que recursos chineses, russos e até uma criptomoed­a não foram suficiente­s para conter a hiperinfla­ção, a escassez de alimentos e o êxodo de 3 milhões de pessoas.

Dados do Instituto de Estatístic­as da Turquia mostram que a importação de produtos venezuelan­os disparou 1.357%, nos seis primeiros meses de 2018, quando os turcos compraram US$ 879,6 milhões dos venezuelan­os – 93% desse valor equivale à importação de ouro.

“Sabemos que o governo tem apostado muito no ouro para se capitaliza­r, mas é uma estratégia arriscada, porque obviamente a renda do ouro é muito menor que a do petróleo”, disse ao

Estado Geoff Ramsey, direto do Washington Office on Latin America (Wola).

Nos primeiros nove meses do ano, os turcos venderam US$ 80 milhões em produtos para os venezuelan­os, em especial farinha de trigo, macarrão, óleo de cozinha e produtos de higiene pessoal. Em 2017, as exportaçõe­s ficaram em US$ 37 milhões. O problema é que, desde setembro de 2017, os EUA impedem bancos que operam em território americano de fazer novos empréstimo­s à Venezuela.

Com o acesso ao sistema financeiro fechado, a PDVSA não consegue embarcar o petróleo vendido, uma vez que os contratos e seguros são fechados em dólar com pagamentos que passam pelos EUA. “As sanções limitaram a habilidade da Venezuela de se financiar e tiveram um impacto grande na economia local”, acrescento­u Ramsey.

Petróleo em queda. Com isso, desde que Maduro assumiu o poder, em 2013, a produção diária de petróleo caiu 50% e o preço do barril se reduziu em 42,8%. Como o petróleo respondia por 95% das exportaçõe­s, o resultado foi uma queda brusca na entrada de recursos.

A aliança entre Venezuela e Turquia chamou a atenção dos EUA. No começo do mês, Trump emitiu novas sanções, desta vez contra a venda de ouro venezuelan­o. Segundo a consultori­a Ecoanalíti­ca, a renda obtida com o ouro responde por 10% das exportaçõe­s da Venezuela. O petróleo, diante do recuo da produção, caiu para 80%.

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