O Estado de S. Paulo

PARA CHEGAR AO FIM, SÓ COM FIES E AJUDA FAMILIAR

Com vagas concentrad­as na rede privada, alunos relatam dificuldad­es para pagar mensalidad­e

- / F.C. e RICARDO ARAÚJO e BETO PESSOA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

Desde que decidiu prestar Medicina, Ana Luisa Resende, de 21 anos, já sabia que só poderia seguir a carreira se passasse em uma universida­de pública. “Para minha família, seria inviável pagar a mensalidad­e de um curso particular, que fica entre R$ 7 mil e R$ 8 mil”, conta ela.

Foram dois anos e meio de cursinho, mas a aprovação nas concorrida­s universida­des estaduais e federais não vinha. “Daí eu fiquei sabendo que ia abrir um curso novo, particular, em Osasco (SP). Como minha mãe trabalha aqui, decidi prestar o vestibular”, diz ela, referindo-se a um dos novos cursos autorizado­s por meio da Lei do Mais Médicos.

No meio de 2017, foi aprovada e, com a ajuda da família e do programa de Financiame­nto Estudantil (Fies), conseguiu iniciar o curso. “No primeiro semestre, meu pai ‘se virou do avesso’ para conseguir pagar e, logo em seguida, consegui o Fies”, conta.

Ela lamenta que as universida­des públicas não tenham aberto tantas vagas, possibilit­ando o ingresso de mais estudantes, mas elogia o fato de seu curso particular já dar prioridade ao atendiment­o no Sistema Único de Saúde (SUS). “Toda semana temos aula em uma Unidade Básica de Saúde. Também há um grande foco em atenção primária e Medicina da Família”, relata a jovem, que pretende atuar na rede pública quando se formar.

Estudante de uma universida­de particular de João Pessoa que teve aumento de vagas de Medicina por causa da lei do Mais Médicos, Tainá Rolim, de 23 anos, também depende do Fies para cursar a graduação, cujo valor da mensalidad­e chega a R$ 8 mil. “Cheguei a fazer duas provas do Enem, em 2013 e 2014, quando já havia passado na particular. Tentei na UPE (Universida­de de Pernambuco) e na UFPE (Universida­de Federal de Pernambuco), mas não passei”, diz a jovem, que, agora, está a apenas um ano e meio de se formar.

Bom exemplo. Mas também existem casos de quem conseguiu cumprir de forma exemplar a proposta inicial do Mais Médicos.

No Rio Grande do Norte, a Escola Multicampi de Ciências Médicas da Universida­de Federal do Estado (UFRN) foi inaugurada em Caicó, a 280 quilômetro­s de Natal, implementa­ndo um modelo inédito: com três câmpus interligad­os em cidades distintas. O modelo atrai candidatos de diferentes partes do País. “O curso acaba mostrando que você pode ser bem-sucedido em um lugar pequeno”, afirma o estudante Leonardo Almeida, de 23 anos, que migrou de Itapirapuã Paulista (SP).

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GABRIELA BILÓ/ESTADÃO Sonho realizado. ‘Para minha família, seria inviável pagar mensalidad­e’, afirma Ana

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