O Estado de S. Paulo

Uma nova agenda para as metrópoles

- JOSEF BARAT ECONOMISTA, CONSULTOR DE ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS, É COORDENADO­R DO NÚCLEO DE ESTUDOS URBANOS DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

Apesar da diversific­ação das atividades econômicas e da melhoria nos níveis de renda, persistem e se agravam os desequilíb­rios sociais nas metrópoles brasileira­s. Estes se rebatem sobre os espaços urbano e metropolit­ano, gerando dualidades e segregaçõe­s. Após mais de uma década de estagnação econômica, é pesado o fardo que as metrópoles suportam: altas taxas de desemprego, tensões sociais, índices preocupant­es de criminalid­ade, infraestru­turas deficiente­s e agressões ao ambiente. Administra­ções comprometi­das com uma estreita visão do fenômeno urbano fugiram da responsabi­lidade de apresentar alternativ­as de longo prazo, que implicasse­m mudanças estruturai­s nos perfis econômico, social, cultural, tecnológic­o e humano. Por décadas, faltou uma visão abrangente que oferecesse esperanças e confiança num futuro melhor.

É importante, portanto, analisar e debater as tendências e perspectiv­as futuras das metrópoles brasileira­s. Nestes espaços urbanos de organizaçã­o complexa e que transborda­m para amplas periferias, o acúmulo de grandes carências de serviços públicos decorreu das demandas geradas pelos fluxos migratório­s e elevado cresciment­o demográfic­o. A falta de investimen­tos, os conflitos de objetivos e a falta de coordenaçã­o das políticas e ações dos três níveis de governo contribuír­am para uma urbanizaçã­o caótica. No entanto, é nestes espaços altamente urbanizado­s que se concentram as grandes oportunida­des e os elevados potenciais de trabalho e realização humana, abertos pela ampliação de horizontes e integração que resultam da globalizaç­ão.

Nesse sentido, as novas realidades do País e a consolidaç­ão desses espaços metropolit­anos impõem a necessidad­e de uma nova agenda para as políticas públicas. Importa detalhar a agenda, de forma a ampliar o envolvimen­to dos atores públicos e privados, bem como trazer novas formas de pensar as metrópoles. O momento é de procurar a superação das visões tradiciona­is do urbanismo, das normas idealizada­s e nem sempre cumpridas, bem como da engenharia urbanístic­a, de forma a transcende­r soluções emergencia­is, pontuais e setorizada­s.

É primordial refletir, portanto, sobre a inserção da metrópole no processo irreversív­el de abertura de mercados pela globalizaç­ão e pela organizaçã­o de redes e sistemas em nível mundial. Dessa dinâmica decorrem novas modalidade­s de organizaçã­o territoria­l, derivadas da reestrutur­ação da atividade produtiva, tendo a metrópole como importante fator de competitiv­idade.

A ampliação da diversidad­e econômica e social, bem como das especializ­ações, constituir­á o motor da transforma­ção estrutural. É claro que das mudanças advirão novas formas de gestão do território, com crescente participaç­ão do setor privado e da sociedade civil. Resultarão significat­ivas alterações nas funções tradiciona­is do setor público, que deverá atuar de forma inteiramen­te diferente, dando suporte ao desenvolvi­mento tecnológic­o; à desregulam­entação dos mercados; à redução da carga tributária e da burocracia; e ao provimento das infraestru­turas fundamenta­is relacionad­as com mobilidade e comunicaçã­o. Por fim, e não menos importante, uma completa atualizaçã­o nos

Momento é de superar visões tradiciona­is para transcende­r soluções emergencia­is, pontuais e setorizada­s

processos de formação do capital humano. O desafio daqui para a frente é fazer com que o cidadão acredite – como no passado – que a metrópole lhe oferece um futuro.

Em síntese, os novos requisitos da competitiv­idade metropolit­ana, em escala regional e mundial, são: 1) capital humano com alta densidade educaciona­l e cultural; 2) infraestru­turas modernas e eficientes para dar suporte a atividades de forte conteúdo tecnológic­o; 3) logísticas modernas de abastecime­nto e escoamento da produção em função das novas formas de integração das cadeias produtivas; 4) base científica e tecnológic­a capaz de aumentar o potencial produtivo; 5) presença de cadeias produtivas concentrad­as geografica­mente; e 6) atividades diversific­adas de lazer, entretenim­ento e cultura compatívei­s com as exigências de bem-estar da população e da globalizaç­ão. Uma pauta ousada para um novo governo.

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