Trégua China-EUA anima mercados
Suspensão de tarifas de importação de produtos chineses pelo governo americano fez bolsas internacionais fecharem em alta ontem
A trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China, anunciada no fim de semana, animou investidores e impulsionou as Bolsas em todo o mundo. Ontem, Londres fechou o dia com alta de 1,18%, Frankfurt subiu 1,85% e, em Nova York, Dow Jones e Nasdaq avançaram 1,13% e 1,51%, respectivamente. No Brasil, o Ibovespa (principal índice da Bolsa) chegou a bater 91,2 mil pontos, mas recuou no fim da tarde, encerrando com alta de 0,35%, a 89.820 pontos – novo recorde.
O ânimo no mercado financeiro global é reflexo da nota divulgada pela Casa Branca na noite de sábado, em que o governo americano anunciou ter se comprometido em não elevar, por 90 dias contados a partir de 1.º de janeiro, de 10% para 25% as tarifas de importação em US$ 200 bilhões de produtos chineses. Em troca, a China deverá aumentar a compra de produtos agrícolas e industriais americanos, ainda de acordo com o comunicado da Casa Branca.
Embora analistas ponderem que o prazo pode ser curto para se fechar um grande acordo e que, ao fim dos 90 dias, possam vir mais medidas protecionistas (leia mais abaixo), o sentimento positivo nos mercados deixou o investidor mais propenso à tomada de risco. O resultado foi um recuo do dólar em quase todo o mundo. No Brasil, a moeda fechou com queda de 0,46%, a R$ 3,84.
O economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, está entre os analistas que acreditam ainda ser necessário um acordo mais concreto entre EUA. “Não houve nenhum documento assinado. O que se imagina é que os países vão ganhar tempo”, disse. Segundo ele, no Brasil, a Bolsa perdeu fôlego no fim do dia por já estar em um patamar considerado elevado, o que torna mais difícil a manutenção dos preços.
Ainda no Brasil, os impactos da trégua devem ser ambíguos, dizem especialistas. Por um lado, o País pode se beneficiar de um crescimento econômico global maior – caso realmente haja um arrefecimento na guerra comercial. Por outro, pode perder espaço no mercado chinês.
Exportações. Com a quebra na safra argentina em decorrência da seca e com a China comprando mais do Brasil para evitar os EUA, as exportações brasileiras de soja alcançaram 80 milhões de toneladas no acumulado deste ano até novembro. O número é 17% maior que o registrado durante todo o ano passado, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Se Pequim cumprir com o acordo informal fechado com Washington no fim de semana, porém, as exportações de soja do Brasil podem cair em 2019. Outros produtos como milho, açúcar, suco de laranja e carne bovina também podem sofrer, pois os EUA também são grandes exportadores desses itens.
“A primeira impressão é que a notícia é positiva, porque destrava o crescimento mundial. Mas o que é bom para os EUA (o comprometimento da China em importar do país produtos agrícolas) pode não ser bom para o Brasil”, afirma José Augusto de Castro, presidente da AEB. Segundo ele, uma nova onda de protecionismo refletiria negativamente na cotação das commodities e, portanto, nas exportações brasileiras.
“A primeira impressão é positiva, porque destrava o crescimento mundial. Mas o que é bom para os Estados Unidos (comprometimento da China em importar do país produtos agrícolas) pode não ser bom para o Brasil.” José Augusto de Castro
PRESIDENTE DA AEB