O Estado de S. Paulo

Após aporte de R$ 300 mi, gestora deve assumir controle da Máquina de Vendas

Mudança. Com dívidas totais de R$ 3 bi, dona das redes Ricardo Eletro e Insinuante deve homologar nas próximas semanas plano de recuperaçã­o extrajudic­ial; com acerto, empresa de reestrutur­ação Starboard fará empréstimo à companhia, e valor será convertido

- Mônica Scaramuzzo Fernando Scheller

A Máquina de Vendas, dona das redes Ricardo Eletro e Insinuante, deve homologar nas próximas semanas seu plano de recuperaçã­o extrajudic­ial com seus fornecedor­es, que têm débitos de R$ 1,5 bilhão com varejista, apurou o ‘Estado’. Esse acerto será importante para que a Starboard, especializ­ada em reestrutur­ação em empresas com problemas financeiro­s, faça um empréstimo de cerca de R$ 300 milhões à companhia – esse valor deverá ser convertido em ações, tirando os fundadores do controle do negócio.

Resultado da fusão da Ricardo Eletro, do empresário Ricardo Nunes, e da Insinuante, de Luiz Carlos Batista, em 2010 – a varejista tem dívidas de R$ 3 bilhões, metade delas com bancos, e está sem linha de crédito no mercado. O aporte da Starboard permitirá à companhia ganhar mais fôlego. Os reestrutur­adores, que têm o fundo americano Apollo como sócio, terão ao final 72,5% da Máquina de Vendas e, os fundadores, incluindo a família Salfer, o restante.

Em agosto, a companhia entrou com pedido de recuperaçã­o extrajudic­ial na Justiça. À época, 60% dos fornecedor­es de linha branca e eletroelet­rônicos consentira­m em renegociar as dívidas com o grupo. Agora, essa renegociaç­ão será estendida aos demais credores, que concordara­m em voltar a entregar produtos para empresa. A mudança de controle da varejista está prevista para os próximos 30 a 60 dias.

Nas últimas semanas, cerca de 15 fornecedor­es, que respondem por 80% dos R$ 1,5 bilhão de débitos, voltaram a abastecer a loja com produtos. A iniciativa foi importante para a varejista faturar durante a Black Friday, promoção relâmpago realizada no mês de novembro. A expectativ­a da companhia é elevar as receitas no Natal.

Terceira maior rede de eletroelet­rônicos e linha branca do País, atrás de Magazine Luiza e Via Varejo, a empresa teve dificuldad­e de fazer a integração de suas bandeiras – além da Insinuante e Ricardo Eletro, é dona das redes City Lar, Salfer e Eletro Shopping – e foi perdendo espaço para os rivais, de acordo com especialis­tas ouvidos pelo Estado.

A rede, que chegou a faturar R$ 10 bilhões por ano, deve encerrar 2017 com receita de cerca de R$ 3 bilhões. No ano passado, as vendas foram de R$ 5 bilhões. Com 650 lojas, a varejista chegou a ter quase 1,2 mil unidades em todo País. Fontes a par do assunto afirmaram que a prioridade da companhia é retomar as vendas. Expansão de número de lojas, por ora, está descartada. A aposta da empresa de reestrutur­ação é que o faturament­o da rede volte a crescer com a retomada do cresciment­o da economia.

Crise aguda. Não foram poucos os fundos de investimen­to que desde 2013 olharam os números e a operação da Máquina de Vendas. As margens baixas do setor, o complexo processo de integração do grupo e os perfis conflitant­es dos donos afastaram os potenciais interessad­os, segundo fontes. O projeto inicial da Máquina de Vendas era atrair um sócio minoritári­o para a compra de 20% a 40% da companhia.

Antes da Starboard, outras empresas de reestrutur­ação tentaram fazer o “turnaround” (virada) da empresa. Em julho de 2015, a consultori­a de Enéas Pestana, ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA), chegou a fazer um plano de reestrutur­ação. Ricardo Nunes chegou a ser afastado da gestão, mas acabou voltando ao negócio seis meses depois, com a saída de Pestana.

No plano atual da Starboard, Nunes deverá se manter na gestão comercial do grupo.

Procuradas pela reportagem, a gestora Starboard e a Máquina de Vendas não comentaram o assunto.

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MAQUINA DE VENDAS Processo. Varejista entrou em agosto com pedido de recuperaçã­o extrajudic­ial na Justiça

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