O Estado de S. Paulo

Agrotours revelam a vida rural de Gramado

- Adriana Moreira / GRAMADO

Horta, cachoeira, churrasco fogo de chão na fazenda. Nem parece que estamos a 30 minutos do agito do centro de Gramado, dos restaurant­es movimentad­os e das luzes de Natal. Na zona rural da cidade, a vida corre devagar, no ritmo que a natureza entoa.

Os agrotours que partem da Praça das Etnias, no centro de Gramado, têm o mérito de valorizar o trabalho e as tradições de quem vive da terra. São vários itinerário­s, realizados de manhã ou à tarde em ônibus antigos – as “princesinh­as”.

O sítio de Lírio e Terezinha, onde são produzidos morangos, framboesas, couve e pepino, entre outros vegetais, foi a primeira parada do Tour Linha Ávila, no qual embarquei em um domingo de sol. “Sempre morei aqui, só mudei do fim da rua pra cá”, contou Terezinha, enquanto mostrava ao grupo, com orgulho, sua horta. “Eu e meu marido cuidamos de tudo sozinhos, só às vezes um dos meus filhos ajuda.”

Para receber os turistas, ela deixou preparada uma mesa com morangos frescos, geleias produzidas ali mesmo, pães, café passado no fogão à lenha. Mas Terezinha estava insatisfei­ta: o grupo era maior do que ela imaginava, e ela ficou triste porque achou que havia pouca comida disponível (era suficiente).

A receptivid­ade, afinal, é um marco dos agrotours. Nas quatro paradas do nosso passeio – na última, é servido o almoço – a comilança foi desenfread­a. Maneire no café da manhã do hotel para poder se jogar nos quitutes caseiros oferecidos pelo caminho.

Sabores do campo. Além de mostrar sua produção, Lírio e Terezinha têm aquele papo gostoso do interior. Oferecem um chá de melissa, feito com as flores colhidas no quintal. E aproveitam para vender as geleias feitas ali, com as frutas produzidas por eles. O resto da produção é vendido na própria Praça das Etnias, aos sábados pela manhã. Não resisti e comprei um vidro para levar para casa, por R$ 9.

Foi minha única compra do tour, mas houve quem investisse pesado nas paradas seguintes. Na Cantina Nonno Giovanni, por exemplo, o carro-chefe é o vinho colonial, produzido com as uvas trazidas da Itália pelo tataravô de Marivani. Ela e o marido, Alcione, cuidam da propriedad­e. Ele recebe os turistas e mostra como é produzido o vinho da casa; ela deixa preparada uma mesa repleta de bolos feitos naquela mesma manhã, além de pães, queijos, salame colonial, frutas, geleias, pastel e muitas outras delícias.

Não espere um vinho refinado – lembre-se, a produção é bem caseira. Por isso mesmo, investi no suco de uva: delicioso, suave, delicado. Nas paredes, fotos retratam as gerações da família de Marivani. Quem se identifica­r com o lugar pode até dormir por lá: eles têm um charmoso chalé disponível para hóspedes que pode ser alugado via Airbnb.

Dali, fomos para a Vivenda Schonrhein, onde pudemos dar uma esticada nas pernas. A propriedad­e de João Pedro e Rose Marie Rheinheime­r reserva uma cachoeira para quem se dispõe a caminhar não mais que dez minutos. Foi ali que tive a sensação de estar de fato em uma fazenda, em meio a vacas e cavalos que pastavam despreocup­adamente. A trilha é tranquila e agradável, e um gramado repleto de miniflorzi­nhas se estende por quase todo percurso.

Infelizmen­te, não dá para entrar na cachoeira, mas avistá-la é suficiente para voltar com a alma lavada. De volta à sede da propriedad­e, João Pedro nos serviu sua cerveja caseira – com e sem álcool – aprovadíss­ima naquele dia de forte calor.

Costela na brasa. Parecia impossível ter fome depois de tantos lanchinhos, mas chegar ao Sítio Tradição abriu o apetite. Vestido com trajes típicos, Mauricio cuidava do churrasco enquanto a mulher, Karine, recepciona­va os turistas. A propriedad­e, repleta de ovelhas, cavalos e outros animais convida a relaxar – há até uma rede entre as árvores, disputadís­sima.

Enquanto as costelas na brasa atingem o ponto perfeito, Jovir, que nos acompanhou no ônibus sem falar muito, saca a sanfona e começa a cantar. Não demora muito para todos estarem entoando juntos canções como Moreninha Linda e outras modinhas – houve até quem arriscasse alguns passos de dança numa pista improvisad­a.

A parede do galpão é forrada de prêmios relacionad­os à montaria, que Mauricio exibe com orgulho. Quem vai por conta própria pode passar o dia no sítio, onde também há passeios a cavalo, ou mesmo dormir por lá – assim como na Nonno Giovanni, há um chalé disponível pelo Airbnb. Quem vai por conta própria paga R$ 55 por pessoa para comer à vontade costela, linguiça caseira e outros cortes, acompanhad­os de arroz, salada, farofa, mandioca cozida. Mas no agrotour o valor do almoço já está incluído no passeio.

Na volta, a animação continuou com Jovir entoando modinhas dentro do ônibus. Foi um dia de muita comida e sorrisos, conversas e aprendizad­o. Os passeios custam entre R$ 150 e R$ 160 e podem ser reservados diretament­e na Praça das Etinias ou pelo site ventosultu­rismo.eco.br /passeios.

A própria Praça das Etnias é um ponto de valorizaçã­o do artesanato e da culinária local. Ali, dá para comprar cuca (espécie de bolo típico), pães e outros quitutes produzidos ali mesmo, em uma cozinha aberta. Há ainda dois galpões: um que vende embutidos, doces, erva-mate e temperos e outros só de artesanato. O ‘VIAGEM’ VAI PUBLICAR UMA SÉRIE DE REPORTAGEN­S SOBRE GRAMADO; NA PRÓXIMA SEMANA, NATAL LUZ

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FOTOS ADRIANA MOREIRA/ESTADÃO Vida no campo. Jovir anima o almoço com sua sanfona; framboesas cultivadas por Terezinha e Lírio (abaixo)
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À vontade. Mesa farta na Nonno Giovanni, que produz vinho e suco de uva

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