O Estado de S. Paulo

A regra é não ter regra

É SÓCIO DA PLATAFORMA PARA STARTUPS STARTSE

- mauríciobe­nvenutti mauricio@startse.com

ONetflix é uma das grandes empresas dessa nova era. Em seu manual de cultura, um trecho do livro O Pequeno Príncipe é apresentad­o: “Se você quer construir um navio, não chame as pessoas para coletar madeira, atribuir tarefas ou dar ordens. Em vez disso, ensine a elas a desejar a imensidão do oceano.” Bonito, não? Mas, o que significa?

Uma das únicas regras do Netflix é não ter regras. Tudo é gerido com raríssimos controles. Para isso funcionar, há um foco monstruoso em só contratar talentos. Gente com desempenho adequado recebe uma generosa rescisão e vai embora. Não há espaço para medianos. O teste para manter alguém no time é: se um indivíduo lhe contasse que iria embora, você lutaria bravamente por ele? Duelaria com unhas e dentes para reverter isso? Se sim, a empresa vai tentar mantêlo. Se não, esse empregado deve mesmo sair. Para o Netflix, um ambiente de trabalho incrível é feito de colegas impression­antes. Por isso, o objetivo é ser um Dream Team onde todas as estrelas querem estar.

Quando um novo funcionári­o entra, ele passa a conviver com duas palavras: liberdade e responsabi­lidade. Por liberdade, entende-se que as pessoas são livres para executar o trabalho da forma como acham melhor. Cada indivíduo prioriza atividades, toma decisões e assume riscos. Já a palavra responsabi­lidade reforça que todos são consciente­s dos seus atos. Ou seja, você trabalha como deseja, mas é responsáve­l pelas suas ações. Em alguns períodos do ano, o Netflix compartilh­a a visão do negócio para os próximos meses. É uma espécie de guia. Com esse artigo em mãos, cada pessoa, em conjunto com seus pares, estabelece as próprias tarefas, objetivos e metas.

Não existe horário de trabalho. O empregado é avaliado pelos resultados, e não pelas horas trabalhada­s. Também não há política de férias. Cada colaborado­r tira quanto tempo achar necessário. Além disso, em vez de possuir um setor para controlar gastos, a empresa só pede que as pessoas gastem o dinheiro da companhia como se fosse o delas.

Para o Netflix, um talento excepciona­l produz mais e custa menos do que dois indivíduos regulares. Dessa forma, o objetivo é só ter gente extraordin­ária, responsáve­l e bem remunerada. Por isso, os salários são baseados no mercado. Normalment­e, cada profission­al é estimulado a fazer entrevista­s em outras empresas, identifica­r o seu valor e usar essa informação para negociar o quanto deve receber. Incrível, não?

O Netflix, portanto, criou um modelo que privilegia pessoas antes de regras. Lá, reina a máxima de William McKnight, presidente da 3M por décadas: “contrate estrelas e as deixe em paz”. Indivíduos talentosos prosperam na liberdade e são dignos de autonomia. Não é preciso ensiná-los a construir um navio. Basta, simplesmen­te, inspirá-los a cruzar o oceano.

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