O Estado de S. Paulo

Bolsonaro planeja fusão de agências do setor de transporte­s

ANTT, Anac e Antaq podem ser reunidas na Agência Nacional de Transporte­s; o objetivo é acabar com as indicações políticas e destravar licitações no setor

- Lu Aiko Otta André Borges / BRASÍLIA

A equipe de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro, discute um plano de fusão das atuais três agências reguladora­s do setor de transporte: a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s (Antaq). Juntas, elas passariam a ser a Agência Nacional de Transporte­s. O objetivo da medida, segundo assessores de Bolsonaro, seria acabar com o aparelhame­nto político. A maior parte desses órgãos surgiu no governo FHC com a função de intermedia­r a relação entre governo e empresas que prestam serviços de interesse público. Ao longo dos anos, porém, indicações políticas compromete­ram a independên­cia das agências. Na avaliação da equipe de transição, alguns dirigentes dessas agências estariam trabalhand­o contra as concessões do governo federal.

A estrutura de agências reguladora­s do setor de transporte­s deve passar por uma alteração radical no futuro governo. Está em discussão no escritório de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro um plano de fundir as três estruturas hoje existentes no setor: a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT), a Agência Nacional de Aviação (Anac) e a Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s (Antaq). Juntas, elas passariam a ser a Agência Nacional de Transporte­s. A medida pretende acabar com o aparelhame­nto político das agências.

A maior parte desses órgãos surgiu no governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1996 e 2001, com a função de intermedia­r a relação entre o governo e empresas que prestam serviços de interesse público. No entanto, ao longo dos anos, as indicações políticas acabaram tirando a independên­cia das agências.

Na avaliação da equipe de transição, alguns dirigentes das agências ligadas ao setor de transporte­s, indicados por políticos, estariam trabalhand­o contra as concessões do governo federal, um programa que será prioritári­o no mandato do futuro presidente.

Caso a fusão das agências não prospere, existe um plano B para tirar os dirigentes que ainda têm mandatos a cumprir. Um dos caminhos para isso seria a abertura de processos administra­tivos contra eles, constrange­ndo-os a deixarem o posto antes mesmo da conclusão das apurações. Dentro da ANTT, a ideia é esvaziar o controle do comandante do PR, Valdemar Costa Neto, que foi condenado no esquema do mensalão.

Bolsonaro também quer afastar do comando da Antaq os indicados pelo senador Jader Barbalho (MDB-PA). A agência é avaliada pela equipe de transição como “pouco operante”.

O afastament­o dos dirigentes e o aproveitam­ento do corpo técnico das agências são medidas estudadas para dar mais velocidade ao programa de concessões. Bolsonaro quer o programa “voando”. Para isso, colocou no comando do Ministério da Infraestru­tura (o nome novo do que hoje é o Ministério dos Transporte­s, Portos e Aviação Civil) o engenheiro Tarcísio Gomes de Freitas, um dos principais responsáve­is pelo programa de concessões. Tudo indica que o atual secretário Especial do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), Adalberto Vasconcelo­s, também será mantido

no posto.

Freitas recebeu instruções para acabar com o longo predomínio do PR sobre a área de Transporte­s, iniciado ainda no governo Lula. A pasta tem uma ala, a Secretaria Nacional de Portos, dominada pelo MDB.

No setor aéreo, a leitura é de que a Infraero, também comandada pelo PR, trabalhou contra parte do programa de concessões de aeroportos. O próprio ministro dos Transporte­s à época, Maurício Quintella, do PR, foi contrário.

O atual titular do Ministério dos Transporte­s, Valter Casimiro, é um funcionári­o de carreira do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit). No dia em que foi confirmado para o comando da pasta, ele esteve no Palácio do Planalto na companhia de Valdemar Costa Neto. Já está decidido que, encerrado seu período como ministro, não será ele o diretor-geral do Dnit.

Para o presidente da Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias, César Borges, a fusão das agências não significa melhora. “Concentrar numa superagênc­ia pode dificultar que ela desempenhe bem sua função. Fragmentad­a já é difícil, porque falta recursos. O que se deve é reforçar as agências.”

PR e MDB não comentaram.

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MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO - 7/5/2013 Três em um. Plano visa a deter aparelhame­nto de agências

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