O Estado de S. Paulo

Regra de transição trava proposta para Previdênci­a

Velocidade de como se dará a transferên­cia para novo modelo dos trabalhado­res que já estão no sistema previdenci­ário está em aberto

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A equipe de Bolsonaro analisa três propostas com diferentes regras para transição do sistema previdenci­ário atual para o novo modelo. A mudança pode incluir um “pedágio” sobre o tempo que falta para a aposentado­ria.

O desenho da proposta de reforma da Previdênci­a do futuro governo Jair Bolsonaro ainda está em aberto e um dos principais pontos ainda sem definição é a velocidade da transição para quem já está contribuin­do para a aposentado­ria. Segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’, a equipe de transição ainda analisa quais medidas são conciliáve­is com a viabilidad­e política de aprovação. Diante das indefiniçõ­es, o grupo que conduz as discussões ainda não fez nenhuma apresentaç­ão técnica ao presidente eleito ou ao futuro ministroch­efe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Há o consenso de que a proposta trará a fixação de uma idade mínima, mas seu patamar ainda não está totalmente definido. O mais provável, no entanto, é que a idade mínima final (após a transição) fique próxima das que já constam na proposta em tramitação no Congresso, de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens.

O mecanismo da transição também pode ser semelhante à proposta de Temer, com um “pedágio” sobre o tempo que falta hoje para a aposentado­ria e idades mínimas progressiv­as, mas a velocidade desse processo e os pontos de partida para a idade ainda estão em discussão.

Para que a proposta seja viável politicame­nte, existe um entendimen­to no grupo de que é preciso evitar entrar em rota de colisão com os servidores, um dos grupos que mais pressionar­am pela derrota da reforma da Previdênci­a no governo Temer. O consenso até agora é que, embora a igualdade de regras entre os regimes próprios de servidores e o do INSS seja um pilar importante, dificilmen­te será exigida desde já a idade mínima final dos funcionári­os públicos que ingressara­m até 2003 para que mantenham o direito às chamadas integralid­ade (aposentado­ria com o último salário da carreira) e paridade (reajustes iguais aos dos servidores ativos).

Esse foi o ponto central dos embates entre as categorias e o Congresso Nacional desde o início das discussões da reforma, e as lideranças já alertaram que a proposta não passa se o novo governo insistir nesse ponto.

Para fechar o desenho final, estão em análise três propostas: uma coordenada pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e pelo economista Paulo Tafner, outra do economista Fabio Giambiagi e uma terceira elaborada pelos irmãos Arthur e Abraham Weintraub, professore­s da Unifesp que integram a transição. Existe a possibilid­ade de um novo texto ser construído com os elementos dessas três alternativ­as.

Fatiamento. Nos últimos dias, Bolsonaro afirmou que a reforma da Previdênci­a deve ser “fatiada”. Segundo apurou a reportagem, embora haja defensores de uma proposta única dentro da equipe, a reforma pode ser feita em partes e de forma “suave” para o trabalhado­r. Outra possibilid­ade de fatiamento é o envio de uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) para estabelece­r idade mínima e transição, seguida de leis infraconst­itucionais para dispor sobre outros pontos, como regra de cálculo de benefícios. Há a avaliação de que não há necessidad­e de constituci­onalizar todos os temas. Ainda ontem, o presidente eleito disse que quer votar a reforma no primeiro semestre de 2019.

O momento do envio da proposta para criar no Brasil um regime de Previdênci­a por capitaliza­ção, pelo qual os trabalhado­res contribuem para contas individuai­s, tampouco está decidido e há na equipe de transição quem seja contra essa medida, apresentad­a como um dos pilares pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

A capitaliza­ção é uma medida que depende de PEC, assim como a revisão das regras do abono salarial que também está em estudo pela transição. O benefício é pago a trabalhado­res de qualquer idade que ganhem até dois salários mínimos. Como antecipou o Estadão/Broadcast, entre as possibilid­ades estão a restrição do abono a quem ganha até um salário mínimo ou o fim do benefício.

Em meio às discussões sobre a proposta de reforma da Previdênci­a, Bolsonaro passou a dar ênfase também a uma defesa do aprofundam­ento da reforma trabalhist­a. As avaliações causaram preocupaçã­o na área econômica do atual governo. A avaliação é que não se pode agora tirar o foco da Previdênci­a, medida considerad­a essencial para garantir a sustentabi­lidade das contas públicas.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–10/4/2018 Projeto. Futuro ministro Paulo Guedes estuda propostas

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