O Estado de S. Paulo

Deputados liberam municípios para gastar com pessoal

Projeto aprovado ontem na Câmara permite que municípios ultrapasse­m os limites de gastos com funcionali­smo sem que haja punição

- Camila Turtelli / BRASÍLIA

A Câmara aprovou projeto de lei que permite que prefeitos ultrapasse­m, sem punições, o limite de gastos com pessoal, desde que haja queda na receita. Texto segue para sanção do presidente Temer.

Deputados aprovaram ontem projeto de lei que afrouxa a Lei de Responsabi­lidade Fiscal para municípios e permite que prefeitos ultrapasse­m o limite de gastos com pessoal sem sofrer punições, desde que haja queda na receita. Como o projeto já foi aprovado pelo Senado, o texto seguirá para sanção do presidente Michel Temer.

Na Câmara, foram 300 votos favoráveis, 46 contrários e 5 abstenções. Entre os partidos, apenas PSDB e PSL orientaram contra a aprovação. O PSL é o partido do presidente eleito Jair Bolsonaro. O MDB, de Michel Temer, liberou os deputados do partido a votar da forma como quisessem.

O projeto aprovado ontem permite aos municípios receberem transferên­cias voluntária­s, obterem garantia do Estado ou da União e contratare­m operações de crédito mesmo se não reduzirem despesas com pessoal que estejam acima do limite exigido pela lei.

A LRF determina que o limite das despesas dos municípios com pessoal é de 60% da receita corrente líquida, obtida com tributos, descontado­s os repasses determinad­os pela Constituiç­ão. Pelas regras atuais, o município que ultrapassa esse limite tem 8 meses para se adequar ou pode sofrer punições como não receber mais transferên­cias de recursos da União ou contratar novas operações de crédito (com exceção de refinancia­mentos da dívida ou para reduzir despesas com pessoal).

O projeto aprovado ontem permite que os municípios com queda de receita superior a 10% não sofram restrições se ultrapassa­rem esse limite de gastos com pessoal. O texto define que a queda deve ser observada na redução do repasse do Fundo de Participaç­ão dos Municípios (FPM) ou devido à diminuição de receitas de royalties e participaç­ões especiais.

Crise fiscal. Nos últimos anos, os municípios brasileiro­s viraram um retrato da deterioraç­ão das finanças públicas do País, seja por causa da recessão econômica brasileira ou por má gestão dos prefeitos. Segundo levantamen­to da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), um terço dos municípios brasileiro­s não consegue gerar receita suficiente sequer para pagar o salário de prefeitos, vereadores e secretário­s. Esse problema atinge 1.872 cidades que dependem das transferên­cias de Estados e da União para bancar o custo crescente da máquina pública.

O levantamen­to da federação, que acompanha as finanças públicas e o desenvolvi­mento econômico e social dos municípios brasileiro­s, mostra que, em média, a receita própria das cidades com população inferior a 20 mil habitantes é de 9,7% – ou seja mais de 90% da receita vem de transferên­cias públicas. Muitas cidades não conseguem gerar receita para cobrir nem 0,5% das despesas com a máquina pública.

Na mudança da gestão municipal entre 2016 e 2017, a Firjan também mostrou que cerca de 2 mil prefeitura­s estavam fora da lei. Dessas, 575 estouraram o limite de gastos com pessoal em 2016 e outras 715 deixaram um rombo de R$ 6,3 bilhões de restos a pagar para a nova gestão municipal. Pela lei em vigor até agora, esse descumprim­ento poderia resultar na prisão dos ex-prefeitos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil