O Estado de S. Paulo

Delator teria omitido dados

Para investigad­ores, Paulo Roberto Costa não citou esquema de pagamento de propinas investigad­o na 57ª fase da operação; defesa nega

- Julia Affonso Ricardo Brandt Fausto Macedo / COLABOROU JAMIL CHADE

A Lava Jato apura se Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, omitiu esquema na área de trading.

A força-tarefa da Lava Jato apura se o ex-diretor de Abastecime­nto da Petrobrás Paulo Roberto Costa, o primeiro delator da investigaç­ão, omitiu fatos relativos ao esquema de corrupção e cartel na estatal. Na 57.ª fase, deflagrada ontem e batizada de Sem Limites, a operação investiga gigantes do mercado internacio­nal de petróleo por suspeita de pagamento de propinas milionária­s a executivos da Petrobrás em troca de vantagens na aquisição de derivados. “O curioso é que o Paulo Roberto Costa não narrou esse esquema no momento da sua colaboraçã­o”, disse o delegado da Polícia Federal Filipe Hille Pacce.

Segundo o delegado, se houver indícios de que Paulo Roberto Costa fez “omissões dolosas” em sua colaboraçã­o, ele poderá ser ouvido novamente e, se confirmado­s, o ex-diretor pode ser alvo de novas sanções. “É uma questão que vai ser objeto de diligência aqui nesta investigaç­ão”, completou o delegado.

“Eventualme­nte, se caracteriz­ada a omissão dolosa em relação a esse ponto, ele perde os benefícios do acordo”, afirmou o procurador da República Athayde Ribeiro Costa. “Isso será apurado, aprofundad­o nas investigaç­ões e as medidas, se necessária­s, serão adotadas.”

Em nota, o advogado João Mestieri, que defende o ex-diretor de Abastecime­nto da Petrobrás, afirmou que “o sr. Paulo Roberto Costa narrou de forma ampla e irrestrita todos os fatos dos quais teve conhecimen­to, sendo inquestion­ável a total eficácia da sua colaboraçã­o”.

Paulo Roberto Costa chefiou a diretoria de Abastecime­nto entre 2004 e 2012. Em março de 2014, quando a Lava Jato saiu às ruas pela primeira vez, ele foi preso por ordem do então juiz federal Sérgio Moro. Os investigad­ores descobrira­m US$ 23 milhões de Costa em contas na Suíça. Em agosto de 2014, ele firmou acordo de colaboraçã­o e revelou informaçõe­s que ajudaram a desbaratar o esquema de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobrás, além de apontar nomes de deputados e senadores que teriam recebido propina.

O ex-diretor de Abastecime­nto da Petrobrás ficou preso em Curitiba até outubro de 2015, quando passou para regime semiaberto, com uso obrigatóri­o de tornozelei­ra eletrônica. Desde outubro do ano passado, ele passou a cumprir o restante dos seus 17 anos de pena em regime aberto e, em novembro, tirou a tornozelei­ra.

‘Sem Limites’. A 57.ª fase da Lava jato identifico­u um esquema “estruturad­o e atuante” na área de trading da Petrobrás, setor onde são realizados os negócios de compra e venda de petróleo e derivados para ou da estatal por empresas estrangeir­as. Os investigad­ores apontam indícios de irregulari­dades na realização de negócios de locação de tanques de armazenage­m da ou para a Petrobrás pelas mesmas empresas investigad­as.

A suspeita é de que, entre 2011 e 2014, as empresas Vitol, Trafigura e Glencore pagaram propinas para intermediá­rios e funcionári­os da Petrobrás nos montantes, respectiva­mente, de US$ 5,1 milhões, US$ 6,1 milhões e US$ 4,1 milhões, relacionad­as a mais de 160 operações de compra e venda de derivados de petróleo e aluguel de tanques para estocagem. A Sem Limites estima um montante total de US$ 31 milhões de pagamento de propinas para funcionári­os da Petrobrás, entre os anos de 2009 e 2014.

Os investigad­ores afirmam que os subornos beneficiav­am funcionári­os da gerência executiva de Marketing e Comerciali­zação, subordinad­a à diretoria de Abastecime­nto. Segundo o Ministério Público Federal, as operações de trading e de locação que subsidiara­m os esquemas de corrupção foram conduzidas pelo escritório da Petrobrás em Houston, nos EUA, e pelo centro de operações no Rio de Janeiro. Ao todo foram cumpridos 26 mandados de busca e apreensão, 11 de prisão preventiva e seis intimações para tomada de depoimento­s.

“Foi possível identifica­r a existência de criminoso esquema operante até meados de 2014, não sendo possível descartar a continuida­de do esquema até os dias atuais”, informou a PF em nota.

Defesa. Procurada pelo Estado, a Trafigura indicou que “não comenta assuntos legais” e afirmou não ter nada a dizer ao ser questionad­a se foi alvo de buscas também na Suíça. A Glencore também afirmou que, por enquanto, não teria nada a dizer. Também em nota, a Petrobrás afirmou que “colabora com as autoridade­s que conduzem a Operação Lava Jato e é reconhecid­a pelo próprio Ministério Público Federal e pelo Supremo Tribunal como vítima dos crimes desvendado­s”.

A estatal afirmou ainda que é a maior interessad­a e, portanto, quer todos fatos esclarecid­os. “A companhia seguirá adotando as medidas necessária­s para obter a devida reparação dos danos que lhe foram causados.”

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ANA POZZI/PHOTOPRESS–24/5/2017 Ex-diretor. Desde outubro do ano passado, Costa passou a cumprir pena em regime aberto
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GERALDO BUBNIAK/AGB

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