O Estado de S. Paulo

Impasse no destino da Funai provoca reações divergente­s

- BRASÍLIA BRENO PIRES, L.N., J.L. e LUISA MARINI, ESPECIAL PARA O ESTADO

A possível saída da Fundação Nacional do Índio (Funai) da estrutura do Ministério da Justiça virou um impasse e tem gerado declaraçõe­s divergente­s entre os futuros ministros do governo Jair Bolsonaro. Ontem, o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, disse que o órgão responsáve­l pelas políticas públicas em relação aos índios pode permanecer na pasta. Horas depois, no entanto, Osmar Terra, indicado titular da Cidadania, citou até três outros ministério­s como possíveis destinos – Secretaria de Governo, Direitos Humanos e Cidadania.

Há dois dias, o coordenado­r da transição e futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia dito que a autarquia deveria ir para o Ministério da Agricultur­a. “A situação da Funai ainda está indefinida. Pode ser até que fique no Ministério da Justiça”, disse Moro.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, não descartou nenhuma das hipóteses. Ao ser questionad­o, citou a sobrecarga de trabalho na Justiça, mas não deu posição definitiva. “A Funai vai para algum lugar onde o índio seja tratado como ser humano. Índio quer se integrar à sociedade”, disse Bolsonaro, citando o fato de o presidente da Bolívia, Evo Morales, ser indígena. “Índio pode ser presidente na Bolívia, aqui tem que ser animal dentro do zoológico, isso não pode continuar acontecend­o”, afirmou.

A indefiniçã­o levou o vicepresid­ente eleito, Hamilton Mourão, a brincar com o destino do órgão: “A Funai tá aquela história ali, né? No final das contas até proponho: deixa comigo, eu cuido dos índios”.

Resistênci­a. A futura titular da Agricultur­a, Tereza Cristina, sinalizou não estar de acordo com a transferên­cia da Funai para a pasta. E Terra disse que o Ministério da Cidadania “já está com muita coisa relevante”.

A afirmação de Onyx de que a Funai pode ir para a Agricultur­a provocou reação de funcionári­os do órgão, que enviaram carta a Moro falando de um processo de esvaziamen­to, com restrições orçamentár­ias e de recursos humanos e materiais. /

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