O Estado de S. Paulo

ONGs ironizam presidente eleito na cúpula do clima

Brasil foi ‘premiado’ com o Fóssil do Dia, por causa de declaraçõe­s de Jair Bolsonaro contra o Acordo de Paris

- Giovana Girardi

‘O que aconteceu com você, Brasil?’ A pergunta deu início a uma lista de duras críticas, mas em tom de piada, que um grupo de mais de mil ONGs fez ontem ao País durante a Conferênci­a do Clima da ONU, que é realizada em Katowice (Polônia).

O Brasil foi “laureado” com o já tradiciona­l prêmio “Fóssil do Dia”, que é entregue pela organizaçã­o Climate Action Network para os países que fazem seu melhor trabalho para barrar o progresso nas negociaçõe­s.

O motivo da honra foram declaraçõe­s recentes do presidente eleito Jair Bolsonaro e de seu futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que indicam que o País pode abandonar os esforços de combate às mudanças climáticas. Bolsonaro já disse que poderia tirar o Brasil do Acordo de Paris. E Araújo escreveu em seu blog que a mudança climática é parte de uma trama marxista para transferir o poder para a China.

“O local de nascimento da convenção climática da ONU (durante a Rio 92), uma vez celebrado por seus avanços espetacula­res na redução do desmatamen­to e mitigação do aqueciment­o global, tornou-se motivo de chacota dos negociador­es em Katowice”, afirmaram os organizado­res da premiação.

Eles destacaram a desistênci­a do País de receber a cúpula do clima no ano que vem, após a gestão Temer ter dito que gostaria de fazê-lo, apenas dez dias antes do início da conferênci­a deste ano. “Bolsonaro cancelou a oferta para sediar a COP 25 no próximo ano porque leu no WhatsApp que o Acordo de Paris é uma ameaça à soberania do Brasil”, disseram.

Os ambientali­stas também questionar­am as visões do presidente eleito para a Amazônia. “Os criminosos ambientais estão ouvindo atentament­e: entre agosto e novembro, as taxas de desmatamen­to subiram 32%, e um estudo recente estimou que (a taxa) pode chegar a 25 mil km2 por ano, com emissões resultante­s de 3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Isso é tchau a 1,5°C (meta de aqueciment­o de Paris).”

Em sua justificat­iva, os ambientali­stas lembraram ainda que a Amazônia “exporta umidade que alimenta as chuvas no Sul do País” e disseram que “Bolsonaro está arriscando seu povo e ameaçando o destino de todo o planeta”.

As assessoria­s de imprensa do presidente eleito e da equipe de transição foram procuradas para comentar as críticas. Mas não se manifestar­am até as 20 horas de ontem.

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ANDRZEJ GRYGIEL/EFE Encontro. Conferênci­a do Clima é realizada na Polônia

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