Projeto social em São Carlos forma esportistas e cidadãos
Rodrigo Riccó, o skatista à frente da iniciativa, tem como meta garimpar talentos e ajudar alunos no crescimento pessoal
Enquanto as ruas de um dos bairros de São Carlos, cidade a 250 quilômetros da capital paulista, estão cheias por causa do comércio e da rotina dos habitantes logo às 8 horas da manhã de uma segunda-feira, um grupo de jovens e adolescentes pratica manobras em pistas de skate e sonha com o esporte profissional. O que para muitos moradores que passam pela Praça CEU das Artes Emílio Manzano pode parecer apenas diversão, para o skatista Rodrigo Riccó pode “formar campeões de caráter”, seja por meio de um futuro promissor no esporte ou em “valores morais”.
Fundador do projeto Skate Cidadão há pouco menos de um ano, Riccó recebe cerca de 120 jovens de 5 a 18 anos por semana. Dedica seis horas por dia, em dois períodos, para transmitir o seu conhecimento sobre a modalidade para seus “alunos”.
“O skate tem nos mostrado que pode ser muito transformador, ferramenta importante para criar laços de amizade, respeito mútuo e de compartilhar com quem tem menos. Esse projeto muda a vida desses alunos e também a nossa. Temos o privilégio de sentir isso todos os dias. São crianças muito especiais. Muitas com uma vida sofrida,
mas sempre com um sorriso no rosto e um abraço sincero”, diz ao Estado.
Com um olhar de quem não consegue disfarçar o orgulho em ver seus alunos se dedicando ao esporte, Riccó relembra histórias que marcam a trajetória do seu projeto. Alguns pais vão ao local para contar que o filho tira boas notas desde que começou a andar de skate. Outros relatam mudanças no comportamento das crianças.
“Através do skate, quero formar cidadãos. Desejo que essas crianças se tornem adultos responsáveis. Eles são o futuro do País e, muitos deles, serão o sustento de suas famílias”, diz Riccó. “É uma realização e evolução pessoal em todos os sentidos. Aprendi a doar sem esperar nada em troca.”
Apesar da motivação, ele revela que um dos maiores desafios para dar continuidade ao trabalho é a falta de verbas e patrocínios. Após fazer as contas, conclui precisar em torno de R$ 185 mil por ano para adquirir material. “Esse esporte tem desgaste muito grande em materiais. Um shape (a prancha do skate) dura em torno de dois meses. Os tênis duram mais ou menos um mês, devido à lixa. Além disso, precisamos comprar acessórios, uniformes, bancar viagens para campeonatos, pagamento das respectivas inscrições e alimentação”, explica Riccó.
Atualmente, o projeto sobrevive de doações de membros do Rotary Club São Carlos e de emenda parlamentar realizada juntamente com a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Conta também com iniciativas de skatistas do município, que repassam materiais aos alunos.