O Estado de S. Paulo

Auditores pedem veto de Temer a projeto que flexibiliz­a a LRF

Para associação, medida aprovada ontem na Câmara não resolve o colapso nas contas públicas municipais

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A Associação da Auditoria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (AUDTCU) divulgou nota repudiando a aprovação de projeto que flexibiliz­a a Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF) em favor de municípios em caso de queda de receitas. A entidade pede que o presidente Michel Temer vete a medida.

Para a associação, o projeto aprovado ontem na Câmara dos Deputados, e que segue agora para sanção presidenci­al “é permeado de elevado risco moral”, pois não resolve os efeitos danosos do colapso financeiro provocado pelo alto comprometi­mento de receitas com gastos de pessoal.

“Esse risco se torna mais grave quando o efeito previsível é de pressões políticas por socorro financeiro da União. E nesse cenário, pode-se esperar esse tipo de pressão, transferin­do o ônus do pagamento do descontrol­e local para toda nação”, diz a nota da AUD-TCU.

O projeto pretende afrouxar a LRF para permitir que municípios que registrare­m queda de receitas com o Fundo de Participaç­ão dos Municípios (FPM) e com royalties e tenham descumprid­o o limite de gastos com pessoal (60% da receita corrente líquida) continuem tendo acesso a benefícios como recebiment­o de transferên­cias voluntária­s, garantia direta ou indireta da União e do Estado e contrataçã­o de operações de crédito mesmo que estejam com capacidade de honrar dívidas comprometi­da.

Repasses. A AUD-TCU argumenta também que o projeto é inconstitu­cional porque a Constituiç­ão de 1988 determina (não faculta) a suspensão dos repasses de verbas a Estados e municípios que descumprir­em os limites da lei.

“Mudar as condiciona­ntes para realização de transferên­cias induz comportame­nto de forma negativa, fazendo do limite legal meta de gasto com pessoal, o que decorre da certeza de que, uma vez atingido o parâmetro fiscal, dar-se-á o ‘jeitinho’ brasileiro para ‘resolução’ do problema”, afirma a nota.

A entidade diz ainda que o descontrol­e das despesas com pessoal e a política de desoneraçã­o fiscal sem transparên­cia e contrapart­idas efetivas, além da omissão de despesas do Orçamento, são fatores que estão “na raiz do descontrol­e fiscal” enfrentado por diversos Estados e municípios.

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LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENADO-2/2/2018 Nota. Para associação do TCU, projeto é inconstitu­cional

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