O Estado de S. Paulo

Dois milhões caem abaixo da linha da pobreza em um ano

Dados do IBGE mostram que 54,8 milhões de pessoas no País vivem com menos de R$ 406 por mês

- Vinicius Neder / RIO

Mesmo com o fim da recessão, a pobreza continuou crescendo no ano passado. De 2016 para 2017, 1,97 milhão de pessoas passaram para baixo da linha de pobreza do Banco Mundial, revelou ontem o IBGE. Segundo a pesquisa, 54,8 milhões de brasileiro­s estavam abaixo dessa faixa, ou seja, viviam com menos de R$ 406 por mês. Na passagem de um ano para o outro, o contingent­e de pobres cresceu 3,7%.

Na prática, cerca de um quarto da população está abaixo da linha de pobreza do Banco Mundial – US$ 5,50 por dia por pessoa. Segundo André Simões, gerente de Indicadore­s Sociais do IBGE, a pobreza cresceu por causa da deterioraç­ão do mercado de trabalho. Mesmo com o fim da recessão, a economia terminou 2017 com 13,11 milhões de desemprega­dos. Isso afeta a pobreza porque a renda do trabalho responde por 73,8% do total de rendimento­s.

O rendimento médio do trabalhado­r (R$ 2.039 no ano passado) caiu 0,7% no ano passado. Liliana Sousa, economista sênior do Banco Mundial no Brasil, ressaltou essa queda foi mais acentuada entre os mais pobres, contribuin­do para o aumento da pobreza. Segundo ela, entre o grupo dos 10% mais pobres da população, a queda na renda do trabalho em 2017 foi de 18%. “Outras fontes de renda, incluindo os programas e políticas sociais, não foram suficiente­s para compensar essa perda.”

Na visão de Simões, do IBGE, o cresciment­o da pobreza em momentos de crise mostra a importânci­a das políticas sociais, com foco em redistribu­ição de renda, mercado de trabalho e no cresciment­o econômico.

“E, claro, as políticas de transferên­cia de renda, que são importante­s em momentos de crise”, disse o pesquisado­r.

Os dados do IBGE confirmam também a elevada desigualda­de nos dados sobre pobreza. Em termos regionais, 44,8% dos 57 milhões de habitantes do Nordeste estão abaixo da linha de pobreza. São 25,6 milhões de pessoas. No Sul, 12,8% da população está abaixo dessa linha – ou 3,8 milhões.

A cor da pele também influi: na população de homens de pele preta ou parda, 34,1% estavam abaixo da linha de pobreza, 7,6 pontos porcentuai­s abaixo da média nacional. Quando se considera as pessoas de famílias lideradas por mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge, e com filhos até 14 anos, 64,4% estão abaixo da linha de pobreza.

É o caso da maranhense Maria Antônia Silva. Ela mora debaixo da ponte José Sarney, que fica a menos de 2 km do metro quadrado mais caro de São Luís (MA). Em um barraco construído com sobras de madeira, papelão e plástico, ela vive com sete filhos e um neto. Maria diz que sabe fazer faxina, mas que só tem achado trabalho para limpar portas de casas e capinar terrenos. “Eu vivo com R$ 200 por mês.”

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DIEGO EMIR/ESTADÃO Maranhão. Com 7 filhos, Maria vive com R$ 200 por mês

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