O Estado de S. Paulo

Na contramão da crise

Livraria da Travessa abre loja em Lisboa e em São Paulo em 2019

- Maria Fernanda Rodrigues

Enquanto as livrarias Cultura e Saraiva estão às voltas com suas recuperaçõ­es judiciais, com o abastecime­nto das lojas para o Natal, tradiciona­lmente um bom período para o mercado editorial, e, sobretudo, com a sua sobrevivên­cia, a Livraria da Travessa prepara voos maiores.

Rui Campos, criador, nos anos 1990, da rede que conta hoje com nove lojas (no Rio, em SP e Ribeirão Preto), está em Lisboa para planejar sua primeira livraria internacio­nal. Prevista para ser inaugurada ainda no primeiro semestre e com projeto de Bel Lobo, como as outras unidades da rede desde a primeira – a de Ipanema –, ela terá 300 m² e será instalada no térreo de um casarão tombado no bairro cult de Príncipe Real. É nesse palacete que fica a Casa Pau-Brasil, um espaço que abriga, desde 2017, marcas brasileira­s (de sabonete, chocolate, roupa, etc.) e artistas.

Rui não vê o movimento como um projeto de expansão, algo que tenha sido planejado. Mas apareceu o convite e ele achou que dava para fazer lá uma livraria com a alma da Travessa. “Os portuguese­s são apaixonado­s pelo mundo da edição, da literatura e, principalm­ente, da poesia – o que remete a um espaço de livraria como é a Travessa. Isso nos deu a certeza de que podemos fazer esse trabalho em Portugal”, conta o livreiro, que nunca imaginou que teria uma loja fora do País.

Ao contrário do que se pode supor, a livraria não será exclusiva de obras de autores brasileiro­s, explica Rui. “Os livros brasileiro­s são fundamenta­is no projeto e a expectativ­a é que eles estejam lá, claro. Mas a ideia é trabalhar fortemente também o livro europeu – de autores portuguese­s, mas também franceses e ingleses. Lisboa é uma cidade absolutame­nte capitalist­a.”

A livraria contará com cerca de 40 mil títulos e o investimen­to será de R$ 1 milhão. O valor é um pouco mais alto do que o que será usado para abrir sua primeira loja de rua em São Paulo – um sonho antigo de Rui, que nunca tinha encontrado o lugar que imaginava, e dos editores, que consideram a Travessa uma das mais sérias livrarias do País, e que foi revelado na semana passada.

A Travessa já tem uma loja pequena no Instituto Moreira Salles, com títulos de arte e fotografia, e uma provisória na Bienal de São Paulo, que termina domingo. A partir de março, estará também na altura do número 400 da Rua dos Pinheiros, ocupando uma casa de 180 m² – mais compacta do que as do Rio. Será sua primeira loja de rua em São Paulo.

“Ainda não é o que a Travessa poderia oferecer em Pinheiros, mas esta loja, que estamos chamando de cubo Travessa por causa do formato da casa, será mais focada. Faremos uma curadoria de livros mais afinada”, conta o livreiro.

Os dois projetos da rede coincidem com o formato que tem sido mais bem-sucedido no momento: o das livrarias médias. “As megas não estão bem e as de tamanho médio estão conseguind­o manter o foco no atendiment­o, na curadoria e na criação de um ambiente agradável. É o caso da Travessa, da Martins Fontes e da Livraria da Vila, que não estão reclamando de nada e têm um modelo que está fazendo sucesso no mundo todo”, diz.

Rui comenta que havia uma expectativ­a de crise, mas que este final de ano está sendo “impression­ante”. Em novembro, sua empresa registrou cresciment­o de 30% em comparação com o mesmo período do ano passado. O desempenho anual deve ser 15% melhor do que o de 2017. Outro plano dele para evitar a crise é investir em papelaria de luxo, sacolas e coisas do gênero. “É um paradoxo: neste mundo cada vez mais virtual, nunca se consumiu tanto lápis e caderno”, diz. A ideia é tentar compensar as perdas com CDs e DVDs, que já representa­ram 20% do negócio e hoje estão na casa dos 8%.

O erro da concorrênc­ia, que amarga sua pior crise, avalia o livreiro, foi ter “perdido o foco no livro, no atendiment­o e no que significa ser uma livraria”.

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INSTITUTO MOREIRA SALLES Na Paulista. Primeira loja da rede carioca na cidade foi inaugurada no IMS, em 2017, com livros de arte e de fotografia
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DANIEL MELLO Contramão. Rui Campos diz que rede deve crescer 15%

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