O Estado de S. Paulo

Festival mira o risco no palco

- JOÃO WADY CURY E-MAIL: JOAO.CURY@ESTADAO.COM BLOG:CULTURA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/ARCENICO

Se há um lugar em que não há paz é o palco. Arte milenar, teatro, performanc­e, dança e seus filhotes nas artes cênicas trazem consigo a inquietaçã­o a cada montagem: superar-se e também os outros. Não é bolinho. Angústia invisível e transtorno­s individuai­s habitam cabeças e corpos de artistas. É isso que está na mira da multiartis­ta Natalia Mallo quando, há meses, criou o Risco Festival. Estreia hoje, finalmente, e segue por dez dias na cidade com atrações de tirar o vivente do assento. São peças, instalaçõe­s, performanc­es e espetáculo­s de dança. Como a montagem francesa de Tribunal dos Animais

(E), dirigida por Catherine Bay, que traz a reboque uma ideia muito simples. Levar ao tribunal e dar voz a quem não tem vez. Sim, claro, os bichos, como os meigos e fofos símios, zebras, coelhos e por aí vamos. Nós, bichos.

Destaque para a performanc­e imersiva, ao vivo, que reúne a soprano Katia Guedes e a dupla Mirella Brandi x Muep Etmo, no sábado e domingo, na SP Escola de Teatro. A obra foi feira em coprodução entre os artistas e o Iniciative Neue Berlin 2017 e apresentad­a em janeiro deste ano na Alemanha.

RISCO PARA TODOS

Talvez um dos maiores méritos do Risco Festival seja o de ser descentral­izado, espalhado pela cidade em dez espaços diferentes, do Itaú Cultural ao Vale do Anhangabaú, passando pelo Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso e passando pelo MIS e o Centro de Referência de Dança, no centro de São Paulo.

AMOR PELO LIMITE

“A palavra risco me interessa como artista, pois quando arriscamos quebramos padrões”, diz Natalia Mallo, cuja meta é fincar o Risco Festival na programaçã­o anual da cidade. “O risco serve para confrontar aquilo que está posto, a vida em sociedade, e para que chame à reflexão e possa criar novos mundos, novas possibilid­ades.” Uma beleza, não é para qualquer um.

FAZENDO A CACHOLA

Pelo menos dois espetáculo­s em cartaz – Carmen, musical sobre Carmen Miranda, no CCBB, e Panorama Visto da

Ponte, no Teatro Raul Cortez – primam pela reação, ao final da sessão, de seus protagonis­tas. Amanda Acosta, em Carmen, e Rodrigo Lombardi e Sergio Mamberti, em Panorama, levam uma conversa sincera com o público sobre os meios de financiame­nto das artes, principalm­ente sobre Lei Rouanet – que desde a campanha eleitoral tem estado na mira do novo governo que assume o País em 2019, que ameaça extinguí-la. Os três assumem a responsabi­lidade de explicar o mecanismo de financiame­nto da lei, a sua importânci­a para a produção cultural do País e para o público que consome arte. Surpreende­m pela forma direta e honesta de desfazer mentiras plantadas por políticos durante a campanha. A verdade é simples: o público é quem mais se beneficia com a Lei Rouanet.

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RISCO FESTIVAL Animais. Tribunal de bichos: direção de Catherine Bay
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