O Estado de S. Paulo

Bolsonaro agrada a evangélico­s e coloca pastora em Ministério

Damares Alves é assessora de Magno Malta e comandará Direitos Humanos, que englobará a Funai

- Julia Lindner / BRASÍLIA Larissa Lima Luisa Marini / ESPECIAL PARA O ESTADO / COLABORARA­M CAMILA TURTELLI E MARIANA HAUBERT

A advogada e pastora Damares Alves foi confirmada como ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Jair Bolsonaro. Em entrevista após a indicação, ela disse que é contra o aborto e que pretende priorizar políticas públicas voltadas ao planejamen­to familiar e à infância. A ministra também ficará com a Funai. Alvo de impasse na transição, a Funai está, hoje, no Ministério da Justiça. Segunda mulher nomeada para o futuro Ministério, Damares é assessora do senador Magno Malta (PR-ES), excluído do primeiro escalão da gestão Bolsonaro. Pastora voluntária na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, Damares costuma reunir 6 mil pessoas nos cultos. Ela já disse que é a igreja evangélica, e não a política, que “vai mudar a Nação”. Sua escolha foi elogiada por deputados ligados à frente.

“A gravidez é um problema que dura só nove meses; o aborto é para a vida inteira da mulher.”

“Se precisar, estarei nas ruas com as travestis, estarei com as crianças discrimina­das por sua orientação sexual.” Damares Alves

A advogada e pastora Damares Alves foi confirmada ontem como futura ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Jair Bolsonaro. Em sua primeira entrevista após o anúncio, disse que é contra o aborto e pretende priorizar políticas públicas voltadas ao planejamen­to familiar e à infância. Afirmou ter uma boa relação com movimentos LGBT e que, se precisar, estará “nas ruas com as travestis” para defendê-las contra a violência.

“Se precisar estarei nas ruas com as travestis, se precisar estarei na porta da escola com as crianças que são discrimina­das por sua orientação sexual”, afirmou ela. Sobre o aborto, disse que a “mulher que aborta acreditand­o que está desengravi­dando, o aborto não desengravi­da nenhuma mulher”. “Se a gravidez é um problema que dura só nove meses, o aborto é um problema que caminha a vida inteira com a mulher.”

Segunda mulher nomeada para o futuro ministério que terá 22 pastas, Damares é assessora do senador Magno Malta (PR-ES), excluído do primeiro escalão do governo Bolsonaro (mais informaçõe­s nesta página). Ao ser questionad­a sobre o assunto, respondeu: “Ele está feliz e entende que fui convidada por causa do meu trabalho ao longo de anos”. Sua escolha agradou à bancada evangélica, que vinha tentando emplacar nomes em outras pastas, após ter vetado o educador Mozart Neves para a Educação

O ministério também ficará com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Atualmente, o órgão está vinculado ao Ministério da Justiça, mas foi cogitado ficar na Agricultur­a ou na Cidadania. “A minha história de luta com os povos indígenas me qualifica para estar cuidando também da Funai. Índio é gente e precisa ser visto de uma forma como um todo”, disse Damares. Ela assessorou a CPI da Funai em 1991 e tem uma filha índia – adotou a menina aos 6 anos.

O anúncio do destino da Funai foi feito no mesmo dia em que um grupo de índios foi até ao centro de transição, em Brasília, para entregar um documento ao presidente eleito pedindo que mantivesse a Funai na Justiça e as políticas de demarcação de terras. A futura ministra disse que é preciso conversar sobre a demarcação de terras indígenas. O assunto já foi alvo de críticas de Bolsonaro, que prometeu não demarcar mais “nenhum centímetro” caso fosse eleito. “Particular­mente, questiono algumas áreas indígenas, mas vamos discutir e sempre integrado com outros ministério­s”, disse ela.

Repercussã­o. O líder da frente parlamenta­r evangélica, deputado Takayama (PSC-PR), disse que a escolha da pastora foi acertada. “Ela é amada pela frente (evangélica)”, afirmou.

O deputado João Campos (PRB-GO) também elogiou a indicação. Um dos cotados para disputar o comando da Câmara dos Deputados no ano que vem, Campos disse que ela é “qualificad­a e de espírito público”.

Já o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) considerou uma provocação a escolha de Damares. “Se antes parecia uma ingratidão, agora fica claro que há uma intenção de afrontar o Magno Malta”, disse o parlamenta­r da frente evangélica na Câmara.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Governo. Ao lado de Onyx Lorenzoni, Damares Alves fala depois de ser confirmada para administra­r o novo ministério Críticas •A pessoas próximas, Jair Bolsonaro evita criticar o senador Magno Malta, antigo aliado. Diz que ele poderá ter espaço no governo, desde que não seja para um cargo de influência.
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RNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Protesto. Líderes indígenas tentam reunião com Bolsonaro

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