O Estado de S. Paulo

Governo de SP atrasa repasses para o Metrô

Governo promete regulariza­r a situação e diz que nenhuma obra parou até agora

- Bruno Ribeiro

A gestão Márcio França (PSB) reduziu os repasses do governo do Estado para o Metrô de São Paulo e, com menos verba do que o previsto, a empresa atrasou pagamentos de obras nos meses de outubro e novembro. O governo estadual promete regulariza­r a situação antes de a gestão João Doria (PSDB) assumir, em janeiro, e afirma que nenhuma obra parou.

Segundo o Estado apurou, em dois meses, as faturas vencidas somaram R$ 74,3 milhões. A gestão França não confirmou o valor, mas informou anteontem que parte dos recursos, R$ 47 milhões, estava sendo liberada. Neste ano, a previsão no orçamento era de que os repasses para investimen­tos do Metrô, especialme­nte a compra de material rodante (trens) e obras de expansão de linhas, somassem R$ 2,3 bilhões.

Entretanto, os dados financeiro­s da estatal mostram que, até novembro, apenas R$ 1,5 bilhão dessa verba foi de fato repassada, ou 65% do total previsto. No ano passado, o total liberado, R$ 3,3 bilhões, chegou a superar a previsão original, que era de R$ 2,9 bilhões.

Uma das empreitada­s em andamento, com amplo histórico de atrasos, é a Linha 17-Ouro, o monotrilho que passa na Avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul. A maior parte da obra é feita por um consórcio liderado pela empreiteir­a Tiisa, que está na lista de empresas com quem o Metrô tem dívida. Sem falar em valores, a empreiteir­a confirmou o atraso em dois contratos.

“Os pagamentos respectivo­s foram efetuados em valor inferior à metade das faturas em questão”, informou a empresa. Só com a Tiisa, a dívida seria de R$ 18 milhões, embora não haja confirmaçã­o oficial.

O Estado conversou com representa­ntes de outros três grandes fornecedor­es de materiais e serviços do Metrô. Todos citaram atrasos, mas disseram que não comentaria­m o assunto por questões contratuai­s. A Camargo Corrêa, que também participa da Linha 17, enviou nota, informando apenas que “as obras estão sendo executadas normalment­e”.

Conforme a Lei de Responsabi­lidade Fiscal, obras já liquidadas (serviços concluídos) têm de ser pagas no mesmo exercício fiscal. Caso contrário, ficam os chamados “restos a pagar”, o que é vedado pela legislação. Segundo o professor de Direito Adib Kassouf Sad, que foi presidente da Comissão de Direito Administra­tivo da Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo (OAB-SP), deixar “restos a pagar” pode constituir ato de improbidad­e administra­tiva. “Depende se foi comprovado que houve dolo (intenção) do gestor em deixar essa dívida.”

Acerto futuro. O governo estadual informou, por nota, que honrará os compromiss­os. “Prova disso foi a liberação, nesta quarta-feira, de R$ 47 milhões para o Metrô, como previsto”, diz a nota do governo, que destacou que nenhuma obra chegou a ser paralisada. A equipe de transição de Doria não comentou o assunto.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Linha 17-Ouro. Consórcio diz que 2 faturas foram pagas por menos da metade do valor

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