O Estado de S. Paulo

Com dívidas, Avianca pode perder aviões

Crise. Depois de forte expansão, aérea enfrenta dificuldad­es para pagar fornecedor­es e cumprir obrigações com as concession­árias de terminais; Justiça obriga companhia a devolver 11 aviões – o equivalent­e a 18% de sua frota – a empresa de aluguel de aeron

- Renée Pereira Luciana Dyniewicz

Após se expandir rapidament­e, a Avianca no Brasil enfrenta dificuldad­es para pagar fornecedor­es, cumprir obrigações com concession­árias de aeroportos e pode ter de devolver aviões. O ‘Estado’ apurou que a dívida com todos os aeroportos brasileiro­s, públicos e privados, chega a quase R$ 100 milhões – só com o de Guarulhos são R$ 25 milhões. Nem todos os débitos foram protocolad­os na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Nesta semana, uma decisão da Justiça de São Paulo obrigou a Avianca a devolver 11 aviões – o equivalent­e a 18% de sua frota – para a Constituti­on Aircraft, subsidiári­a da americana Aircastle, de aluguel de aeronaves. A aérea, no entanto, pode recorrer. Outras duas aeronaves arrendadas pela Avianca são alvo de disputa na Justiça por falta de pagamento. A empresa afirma que entrou em acordo com o fornecedor para devolvê-las.

Segundo uma fonte em Brasília, fornecedor­es de combustíve­l estão entre os poucos que têm sido pagos. No mercado, uma recuperaçã­o judicial é vista como a melhor saída para a empresa, pois impediria que os aviões tivessem de ser devolvidos a credores.

A situação da empresa tem afetado o caixa das concession­árias de aeroportos. Em outubro, a GRU Airport, que administra

o aeroporto de Guarulhos, protocolou na Anac um pedido de intervençã­o para resolver a inadimplên­cia da Avianca. No documento ao qual o Estado teve acesso, a concession­ária afirmou que estudava medidas passíveis de serem tomadas para punir a operadora. Uma delas seria restringir o embarque de passageiro­s para voos da

companhia pelo aeroporto.

Segundo a Anac, há outras reclamaçõe­s contra a Avianca. No aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, a dívida chegou a R$ 5 milhões, mas a empresa conseguiu pagar metade do valor.

A agência afirmou que instaurou processo para apurar a conduta da aérea. “Se constatada­s irregulari­dades, a empresa poderá

sofrer sanções administra­tivas, como multas.” Sobre a situação das aeronaves, a Anac afirmou que, até o momento, não recebeu nenhuma solicitaçã­o de cancelamen­to de matrícula contra a operadora Avianca Brasil.

Expansão. A Avianca Brasil vinha crescendo rapidament­e.

No fim de 2015, tinha 10,5% do mercado doméstico e menos de 1% no internacio­nal. Hoje, a participaç­ão no mercado nacional chega a 13,55% e, no internacio­nal, 7,72% (consideran­do apenas as empresas brasileira­s). No mesmo período, só a Azul ganhou participaç­ão de mercado, mas de forma mais modesta, passando de 17,1% para 18,8% no segmento doméstico.

Empresas aéreas demandam grande volume de recursos para crescer. A Azul, por exemplo, foi à Bolsa no ano passado para levantar R$ 2 bilhões. Na Avianca, no entanto, não houve nenhuma grande injeção de capital.

Endividame­nto. No trimestre encerrado em junho, a companhia captou R$ 130,7 milhões em empréstimo­s com os bancos ABC, Daycoval, Safra e Fibra, com vencimento­s entre 2018 e 2021. Assim, o volume de financiame­ntos, que no fim de 2017 somava R$ 194 milhões, chegou a R$ 306 milhões seis meses depois, aponta relatório entregue à Anac.

No documento, a empresa afirma que tem conseguido aumentar suas receitas, mas não o suficiente para compensar as altas no preço do combustíve­l e a variação cambial. Diz ainda que está controland­o os gastos e que pretende recorrer ao mercado para estender o prazo dos empréstimo­s. Do total da dívida financeira, apenas 22,7% vence em 2021, o restante, até 2019.

Procurada, a Avianca disse que negociaçõe­s com credores “fazem parte da rotina de qualquer empresa para otimização de resultados” e negou a possibilid­ade de entrar em recuperaçã­o judicial. Garantiu ainda que as contas com os aeroportos estão em dia. A concession­ária GRU Airport, que administra o aeroporto de Guarulhos, não respondeu.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 21/11/2014

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