O Estado de S. Paulo

Efeito colateral

São Paulo. Trinta e oito dos cem corredores viários analisados pela CET concentram agora mais congestion­amentos do que antes do acidente, mostra levantamen­to; paulistano recorre a metrô, app de transporte e bicicleta para não ficar preso dentro do carro

- Bruno Ribeiro

Pelo menos 38 ruas e avenidas de São Paulo registrara­m piora nos índices de lentidão depois que um viaduto cedeu na Marginal do Pinheiros, em novembro. Vias de acesso à região do Itaim-Bibi, como a Juscelino Kubitschek (foto) e a Faria Lima, estão entre as mais prejudicad­as.

Após a queda de um viaduto na Marginal do Pinheiros, zona oeste paulistana, as Avenidas Brigadeiro Faria Lima e Juscelino Kubitschek foram as mais afetadas com a redistribu­ição de veículos. As duas vias dão acesso à região comercial do Itaim-Bibi. Outra rota em que houve aumento de veículos é a Avenida Washington Luís, ligação entre a zona sul e o centro.

Isso é o que mostra levantamen­to da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), feito a pedido do Estado. Das cem vias analisadas, 38 corredores viários agora concentram maiores proporções do congestion­amento geral da cidade após o acidente, no último dia 15. Na Marginal do Pinheiros, ainda há 6,7 quilômetro­s de pista expressa interditad­os.

A CET considera a participaç­ão de cada via na composição do trânsito. Quando a cidade registra 60 quilômetro­s de lentidão, o órgão toma esse total como 100%. O dado é quanto cada via representa, em porcentage­m, em relação ao total. Os números correspond­em à média diária de cada via, nas duas semanas antes do acidente (de 1 a 14 de novembro) e nas duas semanas depois (de 15 a 30).

A Avenida JK, por exemplo, respondia por 0,1% do índice geral de lentidão. Agora, concentra 0,9% das filas de veículos nas vias monitorada­s – um aumento de 800%. Na Faria Lima, essa mesma variação é de 300% e na Washington Luís, de 141% – na continuaçã­o, a 23 de Maio teve acréscimo de 20,9%. No corredor formado pelas Avenidas Jabaquara, Vergueiro e Domingos de Morais, a participaç­ão delas no trânsito dobrou.

São números que o cidadão pode não conhecer, mas já vive na rotina – e atrás do volante. Nos escritório­s da Faria Lima, por exemplo, sair mais tarde, recorrer ao metrô e pedalar se tornaram saídas para fugir do congestion­amento. “De Barueri (Grande São Paulo) para cá, eu gastava menos de uma hora, mas já era um trânsito difícil. Na semana passada, teve um dia que eu gastei uma hora e meia para chegar em casa. Sinto que a gente fica mais tempo parados, sem se mexer. É diferente daquele trânsito que você anda devagarzin­ho”, diz o analista Fernando Moura, de 26 anos.

O executivo Rubens Ajzenberg, de 39 anos, voltava para casa com carros de aplicativo. Nas últimas semanas, porém, passou a utilizar bicicletas compartilh­adas. “O trânsito está muito acima do normal. Tive de ir até a Ponte do Morumbi pela manhã, e olha que é contraflux­o, e demorei muito”, conta.

“Olho o trânsito da janela e vejo a piora. Muita gente do escritório reclama. Tem um colega, que mora em Campinas (interior paulista) e vem para cá todos os dias. Ele mudou de horário porque não estava mais dando”, afirma a economista Stephany de Luca, de 31 anos. Ela, moradora da Vila Olímpia, zona sul, foge do trânsito de bicicleta, solução que já havia adotado antes do acidente.

Além dos corredores maiores, vias de extensão menor, que nem estavam nos mapas de lentidão, como a Rua MMDC, Butantã, agora entraram no registro. A rua é o endereço da Estação Butantã do Metrô, da Linha 4-Amarela.

O estudo revela ainda vias saturadas que, dado o tamanho do trânsito, deixaram de ser tão relevantes para o congestion­amento total. Nesse caso entram as Pontes da Marginal do Pinheiros, como a Cidade Universitá­ria e do Socorro, e mesmo a Marginal do Tietê. Antes do acidente, 19,7% do trânsito estavam concentrad­os na Marginal do Tietê. Agora, são 13,2%.

O engenheiro de tráfego Flamínio Fichmann afirma que, diante do cenário, a melhor alternativ­a para o cidadão é buscar se informar sobre melhores horários para sair de casa. Para ele, a CET poderia até buscar modos de inversão de sentidos de vias, em alguns pontos, para desfazer gargalos. “Mas essas são medidas muito difíceis, e criam problemas.”

Obras. Desde domingo, quando a Prefeitura terminou de erguer o viaduto, os técnicos estudam os danos na estrutura. Embora tenha encontrado o projeto original de construção, o material foi de pouca serventia porque havia diferenças entre os papéis e a obra executada, o que requer novos estudos. A solução para o viaduto só deve ser apresentad­a em mais uma semana. Ontem, a gestão Bruno Covas (PSDB) abriu cadastrame­nto para empresas que querem se habilitar para vistoriar outros viadutos e pontes.

Recomendaç­ão “As pessoas, e os empregador­es, têm de passar a considerar horários flexíveis para fugir dos congestion­amentos” Flamínio Fichmann ENGENHEIRO DE TRÁFEGO

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO
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GABRIELA BILO / ESTADÃO Avenida 23 de Maio. Via foi uma das que passaram a ser utilizadas como alternativ­a e teve acréscimo de fluxo de 20,9%
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