O Estado de S. Paulo

Em cultos para 6 mil pessoas, pregação contra o aborto

Futura ministra também critica a discussão da ideologia de gênero e diz que só igreja evangélica vai ‘mudar a nação’

- Renan Truffi / BRASÍLIA Leonardo Augusto ESPECIAL PARA O ESTADO / COLABOROU MARIANNA HOLANDA E JAMIL C HADE

Pastora e advogada, Damares Alves, de 54 anos, é conhecida no meio evangélico por ser crítica à chamada “ideologia de gênero” e ao feminismo. Também já disse que é a igreja evangélica, e não a política, que “vai mudar a nação”, e que “ninguém nasce gay”. Nas palestras disponívei­s na internet ou nas entrevista­s que costuma conceder a sites, Damares costuma criticar ainda a “guerra” entre homens e mulheres.

“As feministas promovem uma guerra entre homens e mulheres. Me preocupo com a ausência da mulher de casa. Hoje, a mulher tem estado muito fora de casa. (Me preocupam) funções que a mulher tinha no passado, principalm­ente em relação às crianças”, afirmou em entrevista a um veículo identifica­do como Expresso Nacional. “Eu costumo brincar o seguinte: como eu gostaria de ficar em casa, toda tarde, numa rede, me balançando, e meu marido ralando muito para me sustentar e me encher de joias e presente. Esse seria o padrão ideal da sociedade. Mas, infelizmen­te, não é possível, temos de ir para o mercado de trabalho.”

Na mesma entrevista, ela chama a ideologia de gênero de “morte”. Desconheci­da entre movimentos de direitos humanos ou de mulheres, Damares está na política há três anos. Desde 2015, ela ocupa o cargo de auxiliar parlamenta­r júnior, cuja remuneraçã­o é, atualmente, de R$ 5.488,95, sem os descontos, e está lotada no gabinete do senador Magno Malta (PR-ES).

Lagoinha. Pastora voluntária na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), uma comunidade evangélica que reúne cerca de 30 mil pessoas na capital mineira, Damares costuma reunir 6 mil pessoas nos cultos que ministra na cidade. “A visão dela é dentro dos princípios bíblicos”, diz o assessor na Assembleia de Minas Ricardo Coutinho, que há trinta anos frequenta a igreja. A futura ministra é contra o aborto e defende a chamada Escola Sem Partido.

Damares tem forte atuação na área da proteção à criança e adolescent­e. Em seus cultos, afirma ter sido violentada aos seis anos de idade por um integrante da igreja que frequentav­a. “Isso a impediu de ter filhos”, afirma o pastor Fernando Borja. Em suas aparições públicas, Damares aborda ainda a questão indígena. A futura auxiliar de Bolsonaro apoia a atuação de missionári­os que trabalham em aldeias tentando acolher crianças banidas de tribos por terem nascido com algum tipo de deficiênci­a. •

Em uma pregação de 2013 na Igreja Primeira Batista, em Campo Grande (MS), disse que não é verdade que o aborto é questão de saúde pública, como defendem especialis­tas.

Numa palestra em 2016 Damares usou um livro do autor Zep, “Aparelho sexual e cia.”, com mais de 2 milhões de cópias vendidas na Europa, como exemplo de como professore­s estariam tentando “erotizar” as crianças brasileira­s. “Esse é terrível”, disse a pastora, que garante que o livro é oferecido “para ensinar para crianças de dois anos como é uma relação sexual”, disse. O livro, jamais foi indicado para crianças de dois ou três anos. Seu autor, Philippe Chappuis, disse ao Estado que não se trata de erotizar a infância.

“Costumo brincar: gostaria de ficar em casa, numa rede, e meu marido ralando para me sustentar. Esse seria o padrão ideal da sociedade.” Damares Alves

FUTURA MINISTRA

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