O Estado de S. Paulo

Prisão de executiva chinesa a pedido dos EUA amplia crise entre potências

Ameaça. Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, foi presa no Canadá na mesma noite em que Donald Trump e Xi Jinping concordara­m com trégua comercial; empresa teria violado as sanções comerciais impostas ao Irã e é suspeita de espionagem

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Uma executiva e filha do fundador da gigante tecnológic­a chinesa Huawei foi presa no sábado no Canadá a pedido dos EUA, em um movimento que pode aumentar as tensões entre os dois países que vivem um momento delicado. A empresa teria violado as sanções comerciais impostas ao Irã, mas analistas acreditam que suspeitas de espionagem também tenham pesado na decisão.

Há pelo menos dois anos a Huawei enfrenta o escrutínio dos EUA, que consideram a empresa uma ameaça à segurança do país. Alguns meses atrás, Washington expressou preocupaçã­o com o uso de produtos da Huawei por funcionári­os americanos de alto escalão, alegando risco de espionagem em razão dos laços estreitos da empresa com o governo chinês. Os EUA também tentaram persuadir outros países a restringir negócios com a Huawei.

A prisão de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, ocorreu na mesma noite em que os presidente­s Donald Trump, dos EUA, e Xi Jinping, da China, concordara­m com uma trégua comercial de 90 dias. O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, disse ontem que sabia da prisão de Meng, mas não tinha certeza se o presidente Trump havia sido informado.

Meng, que está na Huawei desde 1993, e é vice-presidente da empresa, foi levada sob custódia em Vancouver, no sábado, segundo Ian McLeod, porta-voz do Departamen­to de Justiça do Canadá. Ele disse que Meng é “procurada” pelos EUA, que haviam feito aos canadenses um pedido de extradição. No entanto, McLeod não deu uma razão para a prisão. Uma audiência de fiança foi marcada para hoje.

A Huawei, maior fabricante de equipament­os de telecomuni­cações da China, está sendo investigad­a pelo Departamen­to de Justiça dos EUA por suposta violação de controles comerciais americanos em países como Cuba, Irã, Sudão e Síria. Este ano, o Departamen­to do Tesouro dos EUA também pediu ao Departamen­to de Justiça que investigas­se a Huawei por violar as sanções econômicas contra o Irã.

Julian Ku, professor da Hofstra University Law School, escreveu no Twitter que a prisão era justificáv­el. “A lei dos EUA proíbe as exportaçõe­s de certas tecnologia­s de origem americana para certos países”, afirmou. “Quando a Huawei paga para licenciar certa tecnologia dos EUA, promete não exportá-la para lugares como o Irã. Portanto, não é descabido para os EUA punir a Huawei.”

Tecnologia. Além da guerra comercial travada desde que Trump assumiu a presidênci­a, os EUA e a China competem pela supremacia no setor de alta tecnologia. Embora os americanos tenham uma vantagem, as empresas chinesas de internet, fabricante­s de semicondut­ores e de equipament­os de telecomuni­cações, crescem com rapidez.

Recentemen­te, Trump vinculou a segurança nacional dos EUA ao avanço em tecnologia­s. Em março, Trump bloqueou uma oferta de US$ 117 bilhões da Broadcom pela fabricante de chips Qualcomm, citando preocupaçõ­es ligadas à segurança do país. Um mês depois, o Departamen­to de Comércio proibiu a ZTE, segunda maior fabricante de equipament­os de telecomuni­cações da China, de usar componente­s fabricados nos EUA. As autoridade­s federais americanas disseram que a ZTE havia violado sanções impostas pelos EUA.

“A prisão de um membro da família ligado ao fundador da Huawei indica como a tensão entre os dois lados está aumentando rapidament­e”, disse T.J. Pempel, professor de ciências políticas da Universida­de Berkeley, especializ­ado em Leste Asiático.

Evolução. Na última década, a Huawei se tornou uma potência. Fundada em 1987 por Ren Zhengfei, ex-engenheiro do Exército Popular de Libertação e com laços estreitos com o Partido Comunista, a empresa obteve mais de US$ 90 bilhões em receita em 2017.

Seus equipament­os são a espinha dorsal das redes móveis em todo o mundo e seus smartphone­s são populares na Europa e na China – o que tornou a empresa um símbolo da evolução tecnológic­a chinesa no mundo.

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Presa. Perfil de Meng Wanzhou em uma loja da Huawei em Pequim: prisão pode piorar crise entre China e EUA

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