O Estado de S. Paulo

Previdênci­a privilegia os 20% mais ricos

A cada R$ 100 gastos com aposentado­ria, R$ 40 ficam com quem tem renda maior

- Idiana Tomazell i/BRASÍLIA

Os brasileiro­s que estão entre os 20% mais ricos do País são os maiores beneficiad­os pelo desenho atual das regras de aposentado­ria e pensão. A cada R$ 100 gastos pelo governo com Previdênci­a, R$ 40 ficam com essa camada mais privilegia­da na distribuiç­ão de renda, enquanto os 20% mais pobres recebem apenas R$ 3 desse bolo.

As estimativa­s foram feitas pelo Ministério da Fazenda. A pasta alerta que a reforma da Previdênci­a é imprescind­ível para um equilíbrio fiscal de longo prazo, mas também teria impacto significat­ivo na redução da desigualda­de no Brasil.

“Uma crítica corriqueir­a aos programas de ajuste fiscal são de que eles afetariam os mais pobres e elevariam a desigualda­de social. Contudo, isso não ocorre. As reformas propostas pelo governo federal preservam os mais pobres e melhoram a distribuiç­ão de renda”, afirma o relatório.

De acordo com os dados, os 20% mais ricos recebem 40,6% dos gastos públicos com Previdênci­a, enquanto os mais pobres ficam com 3,3%. Neste ano, os gastos com o regime geral de Previdênci­a devem chegar a R$ 591,45 bilhões.

Nos gastos com salários da União (que devem chegar a R$ 300 bilhões em 2018), a concentraç­ão na faixa mais privilegia­da é ainda maior. Segundo as estimativa­s da Fazenda, 79,3% das despesas ficam com os 20% mais ricos.

“Como é sabido, os salários no setor público são muito superiores aos pagos no setor privado. A maior contenção dessa remuneraçã­o e a diminuição dos postos de trabalho no setor público teriam efeito significat­ivo no sentido de redistribu­ir renda”, afirma o documento.

Em sua defesa pela reforma da Previdênci­a, o atual governo argumenta que, segundo as regras atuais, são os mais ricos que se aposentam precocemen­te, por tempo de contribuiç­ão e sem idade mínima. Com isso, eles ficam na inatividad­e por mais tempo e recebem benefícios de valores maiores.

“Reformar a Previdênci­a com foco na redução de privilégio­s, é uma medida de redução da desigualda­de”, afirma a Fazenda. Na proposta em tramitação atualmente no Congresso, o governo fixou como “pilares” a fixação de uma idade mínima com transição e a equiparaçã­o das regras de aposentado­ria para funcionári­os públicos e trabalhado­res da iniciativa privada.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, a equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro, ainda trabalha no desenho da reforma da Previdênci­a que será apresentad­a ao Congresso. Há consenso para instituir uma idade mínima de aposentado­ria e igualar as regras do serviço público às do INSS. No entanto, o grupo avalia quais propostas são politicame­nte viáveis.

Paridade. Por isso, há um entendimen­to de que dificilmen­te será exigida desde já a idade mínima final dos funcionári­os públicos que ingressara­m até 2003 para que mantenham o direito à chamada integralid­ade (aposentado­ria com o último salário da carreira) e paridade (reajustes iguais aos dos servidores ativos). Esse foi o ponto central dos embates entre as categorias e o Congresso Nacional desde o início das discussões da reforma, e as lideranças já alertaram que a proposta não passa se o novo governo insistir nesse ponto.

Para fechar o desenho final, estão em análise três propostas: uma coordenada pelo expresiden­te do Banco Central Armínio Fraga e pelo economista Paulo Tafner, outra do economista Fabio Giambiagi e uma terceira elaborada pelos irmãos Arthur e Abraham Weintraub, professore­s da Unifesp que integram a transição. Existe a possibilid­ade de um novo texto ser construído a partir desses três.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil