O Estado de S. Paulo

Cheque foi usado para quitar dívida, diz Bolsonaro

Novo Governo. Presidente eleito afirma que repasse de R$ 24 mil de ex-assessor para futura primeira-dama era parcela do pagamento de um débito antigo de Queiroz com ele

- Constança Rezende / RIO / COLABORARA­M MARCIO DOLZAN e RICARDO BRANDT

Jair Bolsonaro disse que o cheque de R$ 24 mil depositado por Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio Bolsonaro, em conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi pagamento de um empréstimo. O cheque é citado pelo Coaf em movimentaç­ão de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. O caso foi revelado pelo Estado.

O cheque de R$ 24 mil depositado pelo PM Fabrício Queiroz, então assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), em uma conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, se tornou nos últimos dias a principal preocupaçã­o do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e seu grupo mais próximo. Ontem, dois dias depois de o Estado revelar que relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) apontou movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta de Queiroz, uma versão do repasse para Michelle foi apresentad­a pelo próprio presidente eleito.

Ao site O Antagonist­a, Bolsonaro confirmou uma justificat­iva que vinha sendo difundida reservadam­ente ao longo do dia por seus auxiliares próximos. O repasse, conforme disse Bolsonaro, se refere a uma parcela do pagamento de um débito antigo de Queiroz com ele.

“Emprestei dinheiro para ele em outras oportunida­des. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil”, afirmou Bolsonaro ao site.

O então assessor de Flávio Bolsonaro foi exonerado em 15 de outubro. Ele tinha vencimento­s de cerca de R$ 23 mil mensais. O total de R$ 1,2 milhão foi movimentad­o em sua conta no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. O documento do Coaf lista dados financeiro­s e patrimonia­is de funcionári­os da Assembleia Legislativ­a do Rio, alvo da Operação Furna da Onça. Nela, foram presos dez deputados estaduais.

‘Plausível’. Flávio Bolsonaro saiu ontem em defesa de Queiroz. Ele disse que o ex-assessor lhe apresentou “uma explicação plausível” para a movimentaç­ão de R$ 1,2 milhão em um ano. Se recusou três vezes, porém, a revelar a versão apresentad­a pelo ex-assessor. A justificat­iva de que estava atendendo a um pedido do advogado de Queiroz.

“Assim que ele for chamado ao Ministério Público, vai dar o devido esclarecim­ento.”

Flávio disse ainda concordar que a quantia movimentad­a pelo ex-assessor em um ano “é muito dinheiro”.

“O acusado é ele (Queiroz), não eu”, ponderou. “A versão que ele coloca é bastante plausível, mas não sou eu que tenho de ser convencido, é o MP.” Segundo a versão divulgada por aliados de Bolsonaro, o pagamento ao presidente eleito teria sido acertado para ser feito em parcelas de R$ 4 mil. Queiroz, porém, teria conseguido um montante maior e enviado por cheque para Michelle. O empréstimo teria sido feito para pagamento de um automóvel. A versão não explica por que o depósito não foi feito diretament­e em uma conta do presidente eleito. Também não esclarece se há documentos que comprovem que o dinheiro foi realmente emprestado.

Auxiliares afirmam que Bolsonaro conheceu Queiroz em 1984. Os dois integravam a mesma turma de um curso no 8.º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedis­ta.

Agenda. Ontem, o presidente eleito cancelou um compromiss­o na Academia da Força Aérea, em Pirassunun­ga (SP). Lá, participar­ia da cerimônia de declaração dos novos aspirantes da Aeronáutic­a. Em seu perfil no Twitter, alegou recomendaç­ão médica devido à rotina e agenda intensas nos últimos dias “e poucas horas de sono”.

Ao Antagonist­a, Bolsonaro justificou também o fato de o repasse de Queiroz não ter ido para a sua conta: “Eu podia ter botado na minha conta. Foi para a conta da minha esposa, porque eu não tenho tempo de sair. Essa é a história, nada além disso. Não quero esconder nada, não é nossa intenção.”

Segundo o site, ele afirmou também que não registrou a operação no Imposto de Renda.

Bolsonaro disse ainda que, após servir com Queiroz na Brigada Paraquedis­ta, o colega passou no concurso da PM e depois foi nomeado no gabinete do filho na Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj). O presidente eleito também afirmou ao site que cortou o contato com Queiroz até que ele apresente explicaçõe­s ao Ministério Público Federal.

O Estado não conseguiu contato com Bolsonaro, nem com a futura primeira-dama, para que comentasse­m o assunto. Queiroz recusa-se a dar entrevista.

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO Reação. Onyx Lorenzoni deixou entrevista após se irritar com a imprensa quando foi questionad­o sobre o relatório do Coaf
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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Em Brasília. Sérgio Moro foi questionad­o sobre relatório

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