O Estado de S. Paulo

Adriana Fernandes

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA DO BROADCAST

Grande parte dos subsídios concedidos pelo governo é quase um cheque em branco.

OMinistéri­o da Fazenda deixou pronto para o novo ministro da Economia um plano de corte de R$ 30 bilhões em renúncias fiscais para ser adotado a partir de 2019. A proposta prevê uma tesourada, entre outros itens, nas isenções tributária­s para artigos considerad­os de luxo que escandalos­amente estão na cesta básica e também mudanças no Simples, o sistema simplifica­do de cobrança de tributos para micro e pequenas empresas.

É um começo. São ajustes nos gastos tributário­s que precisam ser feitos para dar mais folga às contas do governo e acabar com privilégio e as distorções na concessão das renúncias. Eles explodiram, nos últimos anos, à medida que o sistema tributário brasileiro ia ficando mais e mais complexo e pesado. Os gastos tributário­s representa­m os recursos que o governo abre mão e acabam reduzindo a arrecadaçã­o.

Inicialmen­te, a ideia era apresentar um plano de corte das renúncias e subsídios de 10% no ano que vem, como previa artigo da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) de 2019. Mas a proposta acabou não vingando, porque o artigo foi vetado. Mesmo assim, o governo resolveu entregar uma estratégia para a nova equipe.

Paulo Guedes já deu indicações que quer fazer cortes nesse tipo de gasto, tema caro na agenda liberal. É de se esperar, portanto, que essa pauta avance paralelame­nte à reforma da Previdênci­a. Essa ajuste nas renúncias não pode esperar. Ainda mais num cenário em que se quer acelerar o processo de zeragem do déficit das contas do governo.

É uma demanda que cresceu e virou tema da campanha eleitoral deste ano, diante dos números assustador­es da arrecadaçã­o que o governo deixa de receber. A velocidade de cresciment­o desses gastos é maior do que o das despesas do Orçamento. De 2003 a 2017, os benefícios tributário­s, financeiro­s e creditício­s atingiram R$ 3,99 trilhões. Eles saltaram de 3% do PIB, em 2003, para 6,7% em 2015 (o pico), até atingir 5,4% no ano passado. Uma conta salgada para um governo que tem um déficit anual rondando na casa de R$ 130 bilhões.

Um primeiro passo já foi dado e passou despercebi­do. Foi a criação do Comitê de Monitorame­nto e Avaliação do Subsídio da União (CMAS) há poucas semanas. O nome já diz a que veio: avaliar o que deu certo e vale a pena continuar e aquilo que precisa acabar. A necessidad­e dessa avaliação foi uma exigência de Tribunal de Contas da União (TCU), que identifico­u desperdíci­o e ineficiênc­ia nessas renúncias em relatório antecipado pelo Estado.

Para Alexandre Manoel Angelo da Silva, economista do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) e atual secretário de Acompanham­ento Fiscal do Ministério da Fazenda, essa etapa de avaliação representa­va uma lacuna no ciclo orçamentár­io, que conta hoje com a proposta de Orçamento, a sua execução financeira e a fase seguinte de controle pelo TCU. Com a etapa de avaliação, o ciclo orçamentár­io se completa, evitando que uma política pública se perpetue sem que os objetivos que a justificar­am estejam sendo alcançados.

Alexandre destaca que expressiva parte desses subsídios consta apenas nas informaçõe­s complement­ares do projeto de Lei Orçamentár­ia da União. Portanto, não são avaliados anualmente pelo Congresso na hora da votação da proposta orçamentár­ia. São quase invisíveis e praticamen­te um cheque em branco para beneficiar, muitas vezes, setores específico­s e já protegidos. Pelos seus cálculos, caso houvesse a manutenção dos subsídios no mesmo patamar de 2003 (3% do PIB), haveria uma economia equivalent­e a R$ 157 bilhões em 2017. Isso permitiria que as contas públicas do governo federal saíssem do vermelho para o azul.

A hora é agora.

Grande parte dos subsídios concedidos pelo governo é quase um cheque em branco

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