Moderada vai comandar partido de Merkel
Continuidade. Delegados da União Democrata-Cristã (CDU) escolhem Annegret Kramp-Karrenbauer para substituir líder alemã, após 18 anos, na chefia do partido, o que mantém a legenda na centro-direita e em busca de eleitores seduzidos pela extrema direita
Annegret Kramp-Karrenbauer foi eleita substituta de Angela Merkel no comando da União Democrata-Cristã. Considerada moderada, terá como desafio recuperar os eleitores que migraram para a extrema direita.
Após 18 anos à frente da União Democrata-Cristã (CDU), a chanceler alemã, Angela Merkel, entregou ontem a liderança do partido conservador após uma votação apertada que colocou Annegret Kramp-Karrenbauer, de 56 anos, como sua substituta na chefia da legenda. A eleição foi um sinal de que os conservadores alemães optaram pela continuidade, já que Annegret é aliada política de Merkel.
A votação dos 1.001 delegados da CDU reunidos no congresso partidário em Hamburgo é o primeiro passo para uma pós-Merkel. Para muitos, foi um endosso ao legado de Merkel. “A votação tem uma importância histórica para o país, pois quem conquista a presidência do partido tem grande chances de se tornar chanceler”, disse o cientista político Eckhard Jesse, da Universidade de Chemnitz. “É um sinal de que muitos querem continuidade.”
Annegret é secretária-geral do partido, considerada uma nova versão de Merkel por defender a mesma linha de centro-direita. Seu estilo moderado de liderança levou-a de um mandato de seis anos como governadora do Sarre, na fronteira com a França, para sua eleição como secretária-geral da CDU, a segunda posição no partido.
Considerada por membros da CDU competente e durona, ela demonstrou sua capacidade de entrar em contato com a base do partido em quase dez meses no cargo. Também demonstrou aptidão para trabalhar com Merkel, que não chegou a endossá-la formalmente, mas deixou claro que ela era sua candidata preferida.
Annegret é católica praticante, pertence ao Comitê Central dos Católicos Alemães. É contra o aborto e o casamento homossexual. Na campanha, atacou a política
Annegret Kramp-Karrenbauer
relativamente aberta de Merkel em relação aos refugiados. Ela pediu que os imigrantes considerados culpados de crimes sejam extraditados. Também defendeu um fortalecimento dos centros de detenção onde os requerentes de asilo são mantidos até que seu status legal seja decidido, tornando mais fácil deportar os rejeitados.
Aperto. Sua vitória foi apertada. Annegret concorreu com o milionário Friedrich Merz, de 63 anos, rival declarado de Merkel que propunha uma guinada à direita da CDU, e contra o jovem ministro da Saúde, Jens Spahn. Ele foi eliminado na primeira votação e Annegret derrotou Merz no segundo turno, por 517 votos a 482.
“Nas últimas semanas, li muito sobre quem eu sou. ‘MiniMerkel’, uma ‘cópia da chanceler’, ‘mais do mesmo’. Hoje, estou diante de você como sou, uma mãe de três filhos que sabe como pode ser difícil combinar família e carreira, mas que passou 18 anos aprendendo a liderar”, disse Annegret, após a vitória. “Não há nada de ‘mini’ sobre mim, nem de ‘cópia’.”
Apesar de defender as políticas de Merkel, ela prometeu mudanças. “Não se pode continuar arbitrariamente na mesma linha, nem se pode rejeitá-la”, disse. “Estarei menos inclinada a aceitar como fato imutável que as coisas são como são.”
Os analistas políticos observaram que os delegados baseariam sua escolha não apenas na administração do partido, mas também com um olho nas chances do líder nas próximas eleições gerais. “Ela adota um tom mais agressivo contra os imigrantes, sem ser radical, isso pode ajudar a atrair eleitores conservadores que votaram na AfD (legenda de ultradireita)”, afirmou Eckhard à AFP.
Desafio. Angela Merkel segue como chanceler e espera chegar ao fim de seu mandato como chefe de governo, previsto para 2021. Isso dependerá de sua sucessora à frente da CDU. Caso ela perca apoio no Parlamento ou receba votos de desconfiança, teria de convocar eleições antecipadas, um cenário possível segundo analistas.
Diante da pressão representada pelo crescimento da AfD, a centro-direita alemã enfrenta um cenário de declínio eleitoral e precisa de um novo impulso. Ao lado do aliado bávaro União Social-Cristã(CSU), a CDU tem de 26% a 28% das intenções de voto, segundo as pesquisas, com viés de alta para as perspectivas eleitorais da AfD.
Para muitos líderes da CDU, o principal objetivo é recuperar os antigos eleitores, que agora preferem a extrema direita. “Foi um erro levar a CDU para a esquerda, o que permitiu ao AfD se situar à direita sem fazer grandes esforços. Também foi um erro permitir durante meses uma perda de controle nas fronteiras”, afirmou, em editorial, a revista Der Spiegel.
“Nas últimas semanas, li muito sobre quem eu sou. ‘Mini-Merkel’, ‘cópia da chanceler’. Não há nada de mini sobre mim, nem cópia” Liderança
NOVA LÍDER DA CDU