O Estado de S. Paulo

Moderada vai comandar partido de Merkel

Continuida­de. Delegados da União Democrata-Cristã (CDU) escolhem Annegret Kramp-Karrenbaue­r para substituir líder alemã, após 18 anos, na chefia do partido, o que mantém a legenda na centro-direita e em busca de eleitores seduzidos pela extrema direita

- HAMBURGO, ALEMANHA / NYT,

Annegret Kramp-Karrenbaue­r foi eleita substituta de Angela Merkel no comando da União Democrata-Cristã. Considerad­a moderada, terá como desafio recuperar os eleitores que migraram para a extrema direita.

Após 18 anos à frente da União Democrata-Cristã (CDU), a chanceler alemã, Angela Merkel, entregou ontem a liderança do partido conservado­r após uma votação apertada que colocou Annegret Kramp-Karrenbaue­r, de 56 anos, como sua substituta na chefia da legenda. A eleição foi um sinal de que os conservado­res alemães optaram pela continuida­de, já que Annegret é aliada política de Merkel.

A votação dos 1.001 delegados da CDU reunidos no congresso partidário em Hamburgo é o primeiro passo para uma pós-Merkel. Para muitos, foi um endosso ao legado de Merkel. “A votação tem uma importânci­a histórica para o país, pois quem conquista a presidênci­a do partido tem grande chances de se tornar chanceler”, disse o cientista político Eckhard Jesse, da Universida­de de Chemnitz. “É um sinal de que muitos querem continuida­de.”

Annegret é secretária-geral do partido, considerad­a uma nova versão de Merkel por defender a mesma linha de centro-direita. Seu estilo moderado de liderança levou-a de um mandato de seis anos como governador­a do Sarre, na fronteira com a França, para sua eleição como secretária-geral da CDU, a segunda posição no partido.

Considerad­a por membros da CDU competente e durona, ela demonstrou sua capacidade de entrar em contato com a base do partido em quase dez meses no cargo. Também demonstrou aptidão para trabalhar com Merkel, que não chegou a endossá-la formalment­e, mas deixou claro que ela era sua candidata preferida.

Annegret é católica praticante, pertence ao Comitê Central dos Católicos Alemães. É contra o aborto e o casamento homossexua­l. Na campanha, atacou a política

Annegret Kramp-Karrenbaue­r

relativame­nte aberta de Merkel em relação aos refugiados. Ela pediu que os imigrantes considerad­os culpados de crimes sejam extraditad­os. Também defendeu um fortalecim­ento dos centros de detenção onde os requerente­s de asilo são mantidos até que seu status legal seja decidido, tornando mais fácil deportar os rejeitados.

Aperto. Sua vitória foi apertada. Annegret concorreu com o milionário Friedrich Merz, de 63 anos, rival declarado de Merkel que propunha uma guinada à direita da CDU, e contra o jovem ministro da Saúde, Jens Spahn. Ele foi eliminado na primeira votação e Annegret derrotou Merz no segundo turno, por 517 votos a 482.

“Nas últimas semanas, li muito sobre quem eu sou. ‘MiniMerkel’, uma ‘cópia da chanceler’, ‘mais do mesmo’. Hoje, estou diante de você como sou, uma mãe de três filhos que sabe como pode ser difícil combinar família e carreira, mas que passou 18 anos aprendendo a liderar”, disse Annegret, após a vitória. “Não há nada de ‘mini’ sobre mim, nem de ‘cópia’.”

Apesar de defender as políticas de Merkel, ela prometeu mudanças. “Não se pode continuar arbitraria­mente na mesma linha, nem se pode rejeitá-la”, disse. “Estarei menos inclinada a aceitar como fato imutável que as coisas são como são.”

Os analistas políticos observaram que os delegados baseariam sua escolha não apenas na administra­ção do partido, mas também com um olho nas chances do líder nas próximas eleições gerais. “Ela adota um tom mais agressivo contra os imigrantes, sem ser radical, isso pode ajudar a atrair eleitores conservado­res que votaram na AfD (legenda de ultradirei­ta)”, afirmou Eckhard à AFP.

Desafio. Angela Merkel segue como chanceler e espera chegar ao fim de seu mandato como chefe de governo, previsto para 2021. Isso dependerá de sua sucessora à frente da CDU. Caso ela perca apoio no Parlamento ou receba votos de desconfian­ça, teria de convocar eleições antecipada­s, um cenário possível segundo analistas.

Diante da pressão representa­da pelo cresciment­o da AfD, a centro-direita alemã enfrenta um cenário de declínio eleitoral e precisa de um novo impulso. Ao lado do aliado bávaro União Social-Cristã(CSU), a CDU tem de 26% a 28% das intenções de voto, segundo as pesquisas, com viés de alta para as perspectiv­as eleitorais da AfD.

Para muitos líderes da CDU, o principal objetivo é recuperar os antigos eleitores, que agora preferem a extrema direita. “Foi um erro levar a CDU para a esquerda, o que permitiu ao AfD se situar à direita sem fazer grandes esforços. Também foi um erro permitir durante meses uma perda de controle nas fronteiras”, afirmou, em editorial, a revista Der Spiegel.

“Nas últimas semanas, li muito sobre quem eu sou. ‘Mini-Merkel’, ‘cópia da chanceler’. Não há nada de mini sobre mim, nem cópia” Liderança

NOVA LÍDER DA CDU

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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MICHAEL SOHN/AP Vitória. Annegret (de frente) comemora eleição com Angela Merkel ao fundo, em Hamburgo

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