O Estado de S. Paulo

Impostos ruins, mais que pesados

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Os negócios mal começaram a recuperar-se e o desemprego ainda é elevado, mas o peso dos impostos voltou a aumentar, drenando recursos da produção e das famílias. Depois de dois anos de recessão, a economia avançou 1% em 2017, mas no mesmo período a tributação cresceu 1,4%. Com isso, os impostos, taxas e contribuiç­ões pagos à União, aos Estados e aos municípios consumiram 32,43% – quase um terço – do Produto Interno Bruto (PIB), o valor agregado da riqueza gerada. Foi a maior carga desde 2013, quando a proporção chegou a 32,55%. A tributação brasileira supera de longe a da maioria dos países emergentes, mais próxima de 20%, e a de vários países desenvolvi­dos, mas o peso é só uma parte do problema. No Brasil, os tributos oneram severament­e a produção e as exportaçõe­s, são irracionai­s e complexos, corroem o poder de competição dos produtores nacionais, travam o cresciment­o, dificultam a criação de empregos e pesam mais sobre os assalariad­os e os pobres.

No ano passado, a arrecadaçã­o cresceu 1,4%, mais do que a expansão do PIB, de apenas 1%. Daí o aumento da carga tributária. Em geral, nos períodos de recessão, a arrecadaçã­o cai mais do que a produção; na recuperaçã­o, ocorre o inverso. Além disso, em 2017, houve aumento de alguns impostos. A tributação sobre combustíve­is foi elevada para o nível máximo permitido pela legislação.

Nenhuma reforma tributária produzirá grande melhora sem mexer na qualidade dos tributos. Impostos incidem sobre o investimen­to em máquinas, equipament­os e instalaçõe­s e encarecem a expansão da capacidade produtiva. Quando há créditos sobre esses tributos, a compensaçã­o é demorada e ineficaz. Incidem também sobre parte das exportaçõe­s. Os constituin­tes de 1988 só previram isenção para os embarques de manufatura­dos. A Lei Kandir, em vigor há mais de 20 anos, foi uma tentativa de atenuar o problema, garantindo compensaçã­o aos Estados pela isenção estendida a bens primários e semielabor­ados.

Essa lei, concebida como solução provisória, continua em vigor, porque nem os Estados se adaptaram à nova situação nem o sistema foi reformado. A ordem tributária, já confusa pelo número de impostos e pela existência de normas diferentes em cada unidade da Federação, permanece cheia de remendos improvisad­os e mal costurados.

Embora ilegal, a guerra fiscal entre Estados, iniciada há mais de 30 anos, continua. Houve ganhos para alguns Estados, mas sem efetiva solução para os desequilíb­rios entre regiões, porque isso dependeria de ações articulada­s em nível federal. Os incentivos concedidos arbitraria­mente distorcera­m a alocação de capitais e um dos efeitos foi a perda de eficiência para o conjunto da economia. Nenhuma unidade envolvida na guerra se tornou independen­te de transferên­cias da União.

De modo geral, a distribuiç­ão do peso dos tributos depende mais do apetite fiscal da administra­ção, em todos os níveis de governo, que da racionalid­ade produtiva. Energia e telecomuni­cações, itens vitais para todas as funções econômicas e sociais, estão entre as principais fontes de arrecadaçã­o tributária.

A concessão de facilidade­s fiscais a grupos e setores, intensa no período petista, mas ainda mantida, embora em escala bem menor, tem sido uma causa adicional de distorções. Concedidos sem planejamen­to, com base em escolhas políticas e de forma voluntario­sa, os benefícios engordaram lucros, à custa do setor público, sem vantagens para o cresciment­o econômico e para o emprego.

Além de ser mal distribuíd­o, desarticul­ado e irracional, o sistema tributário impõe às empresas grandes custos administra­tivos, como tem registrado o Banco Mundial em seu relatório Doing Business, referência para comparaçõe­s de competitiv­idade. Segundo o último relatório, empresas brasileira­s gastam por ano, em média, 1.958 horas para acompanhar a legislação, calcular e pagar impostos e realizar as atividades burocrátic­as e legais necessária­s. Na Argentina são gastas 311,5 horas; no Chile, 296; na China, 142; e no Japão, 129,5.

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