O Estado de S. Paulo

Mínimo deve subir menos, sugere Fazenda

Relatório da pasta sugere outras medidas a Bolsonaro para não estourar o teto de gastos

- Eduardo Rodrigues BRASÍLIA

Além de reformar a Previdênci­a e mudar a política de contrataçã­o de servidores, o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro precisará reduzir os reajustes do salário mínimo para não estourar o teto de gastos até 2022. A avaliação é do próprio Ministério da Fazenda, que sugeriu medidas para garantir que o teto será cumprido nos próximos quatro anos.

O ministério divulgou ontem um documento no qual rebate críticas feitas ao teto de gastos – mecanismo que proíbe que as despesas subam em ritmo superior à inflação –, aprovado em 2016. A pasta argumenta que o limite sinaliza o compromiss­o com o ajuste fiscal, mas admite que teto pode ser estourado caso reformas adicionais – como a da Previdênci­a e a de pessoal – não sejam aprovadas.

O órgão também sugere a mudança na atual regra de reajuste do salário mínimo. A norma atual, que vale para o salário mínimo de 2019, prevê a correção pela inflação, mais o cresciment­o da economia de dois anos antes. Conforme o Estadão/Broadcast já havia adiantado, o ministério sugere que o novo governo acabe com o ganho real do salário a partir de 2020, reajustand­o-o apenas pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A pasta também defende o pagamento do abono salarial apenas para os trabalhado­res que ganham até um salário mínimo.

Arrocho. Sem essas medidas, o próximo governo teria que fazer um arrocho de R$ 112 bilhões em 2022 para não pressionar a máquina pública a ponto de romper os limites do teto de gastos. Mantido o cenário atual, o governo teria apenas R$ 25 bilhões disponívei­s naquele ano para fazer frente a uma necessidad­e de R$ 136 bilhões em despesas discricion­árias.

Com as quatro medidas sugeridas, porém, a próxima gestão já garantiria uma economia de R$ 115 bilhões em 2022 (sendo R$ 50 bilhões com o INSS, R$ 15 bilhões com a folha de salários, R$ 32 bilhões com o reajuste menor no salário mínimo e R$ 18 bilhões com o pagamento do abono). Ou seja, em um cenário reformista, haveria até mesmo uma folga de R$ 3 bilhões para as despesas do governo daqui a quatro anos.

O documento responde uma série de críticas a limite de despesas, começando pela afirmação de que o teto de gastos seria insustentá­vel porque, ao estrangula­r a máquina pública, levaria à paralisia do governo. A Fazenda respondeu citando o rol de medidas de ajuste que seriam acionadas automatica­mente caso o limite de gastos precisasse ser desrespeit­ado, como a vedação a reajustes de servidores e a criação de cargos, além da concessão de novos benefícios tributário­s.

“Ultrapassa­r o limite de gastos não é o fim ou o fracasso da política. É uma possibilid­ade existente e prevista na Emenda Constituci­onal, que ativa mecanismos automático­s de ajuste. As vedações acima listadas ajudarão a conduzir a despesa de volta para dentro do limite”, afirmou a pasta. Teto. A Fazenda também respondeu às críticas de que o teto seria inconsiste­nte, já que a maior parte das despesas federais são obrigatóri­as e crescem a um ritmo superior ao da inflação. Nesse caso, o ministério admitiu que, de fato, se não houver uma reforma da Previdênci­a, não será possível conter a expansão da despesa.

“Ocorre que, se a reforma da Previdênci­a não for feita, o descumprim­ento do teto de gastos será o menor dos problemas. Isto porque a única forma de financiar um gasto público que cresce aceleradam­ente, em um futuro não distante, será o aumento da inflação”, avaliou a Fazenda.

“Logo, o teto não é uma política suficiente para produzir o ajuste fiscal. Ele é necessário para delimitar a trajetória de gastos que é compatível com um ajuste fiscal gradual e de longo prazo, e requer reformas que permitam o controle da despesa obrigatóri­a”, completou o documento produzido pelo Ministério da Fazenda.

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL - 3/10/2018 Ajuste. Fazenda, de Guardia, diz que teto não é suficiente
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