Energia derruba inflação em novembro
Com queda nos preços dos combustíveis e da conta de luz, IPCA teve queda de 0,21%, a menor taxa para o mês desde o início do Plano Real
Os preços dos combustíveis e da conta de luz levaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a registrar deflação em novembro, com queda de 0,21%, revelou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a menor taxa do IPCA para novembro desde a implantação do Plano Real, em 1994. Agora, é quase certo que o índice oficial do País ficará abaixo do centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5% ao ano, adiando as perspectivas de alta na taxa básica de juros.
A queda do IPCA de novembro surpreendeu analistas, que projetavam um recuo máximo de 0,14%, conforme pesquisa do Projeções Broadcast, mas muitos ressaltaram que a surpresa veio de movimentos pontuais, tanto nos combustíveis quanto na conta de luz.
“Um pedaço grande do IPCA é um efeito pontual de corte de gasolina e bandeira tarifária de energia elétrica”, disse o ex-diretor do BC e atual sócio-diretor da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman.
Isoladamente, a energia elétrica, com queda de 4,04%, foi o item com maior contribuição de baixa para o IPCA de novembro. A queda foi motivada pela mudança na bandeira tarifária, taxa adicional para repassar ao consumidor a elevação do custo de geração quando as usinas térmicas são acionadas. Em outubro, vigorou a bandeira vermelha 2, a mais elevada. Em novembro, a bandeira era amarela, cuja taxa adicional é cinco vezes menor.
Já os preços dos combustíveis caíram 2,42%. A gasolina ficou, em média, 3,07% mais barata em novembro, por causa do alívio nas cotações do petróleo – a atual política de preços da Petrobrás deixou para trás os reajustes diários, mas segue buscando acompanhar as cotações internacionais.
Com os combustíveis e a conta de luz, os preços monitorados no IPCA caíram 1,0% em novembro, menor taxa para esse grupo desde fevereiro de 2013, quando a então presidente Dilma Rousseff baixou a Medida Provisória (MP) 579 para reduzir o custo da energia elétrica no País.
Ainda assim, o caráter pontual da deflação em novembro não exclui o fato de que a perspectiva é de inflação baixa no ano. “O cenário é de inflação baixa, e com a economia se recuperando”, afirmou Luiz Roberto Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio e especialista em inflação.
Projeções. Após a divulgação dos dados pelo IBGE ontem, o Bradesco reduziu a previsão para o IPCA deste ano de 4,4% para 3,8% e a do IPCA de 2019 de 4,25% para 4%.
Para atingir o centro da meta de inflação deste ano, o IPCA de dezembro precisaria ficar em 0,88% em dezembro, nas contas de Fernando Gonçalves, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. O pesquisador preferiu não fazer estimativas, mas lembrou que o alívio nos preços da conta de luz se repetirá. Isso porque, neste mês, vigora a bandeira verde, que não impõe qualquer taxa adicional nas tarifas.
Os alimentos também poderão trazer alívio, destacou o economista-chefe da Spinelli, André Perfeito. No IPCA de novembro, o grupo Alimentação e Bebidas avançou 0,39%, impedindo que a deflação fosse maior. Ficaram mais caros a cebola (24,45%), o tomate (22,25%) e a batata-inglesa (14,69%).
O Bradesco cortou a estimativa para a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 6,5% ao ano) no fim de 2019 de 8,0% para 7,25%. Segundo Fábio Romão, economista da LCA Consultores, a maioria dos analistas projetava altas da Selic apenas a partir de agosto; agora, essas apostas deverão ser adiadas.
Efeito pontual
“Um pedaço grande do IPCA é um efeito pontual de corte de gasolina e bandeira tarifária de energia” Alexandre Schwartsman
SÓCIO-DIRETOR DA SCHWARTSMAN &
ASSOCIADOS
“O cenário é de inflação baixa, e com a economia se recuperando.” Luiz Roberto Cunha
DECANO DO CENTRO DE CIÊNCIAS
SOCIAIS DA PUC-RIO